sábado, 26 de fevereiro de 2011

Fernando Pessoa e a dor de não ser

Celeste Malpique, psicanalista, no seu livro Fernando em Pessoa, apresenta uma reflexão psicanalítica de deste autor da cultura portuguesa:

Sobre a infância
As vivências traumáticas da infância (até aos 6 anos), teriam sido recalcadas, e a organização de defesas esquisoides e obsessivas, fizeram – no mergulhar no isolamento e acentuaram a intelectualização e timidez. As tentativas aditivas para o tabaco e o álcool, podem ter sido tentativas para superar a depressão, pela falta de objecto ou de amor do objecto.

Sobre os heterónimos
A heteronímia, que é o traço mais original da Obra Poética, resultaria de uma defesa esquisoide para alívio da ambivalência e angustiantes contradições em que se debatia.

Sobre o pensar
A permanente auto-observação, a focalização obsediante no acontecer interno chegou a ser autodestrutiva na medida em que o impediu de viver as emoções, isto é o impediu de se relacionar, de amar, e o afundou, cada vez mais, no isolamento. Poderíamos dizer que Fernando não se curou mas evitou a loucura.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Encontrar o lado bom na crise económica



Devemos ou não esconder os problemas económicos às crianças? Temos de tentar encontrar o lado bom na má situação económica.
Christine Carter, Ph.D, é socióloga e especialista em felicidade na UC Berkeley’s Greater Good Science Center. É autora do blogue http://greatergood.berkeley.edu/raising_happiness/

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O teste da realidade


Dali, The Enigma of Desire, 1929

A capacidade de distinguir a realidade da fantasia, é uma dimensão nem sempre fácil de avaliar em particular na adolescência, pela própria natureza do desenvolvimento nesta fase.
Digamos que "a prova da realidade" é considerado por Kernberg um 2º critério de classificação e avaliação clínica de 1) Diferenciação do Eu e do não Eu; 2) Diferenciação da origem dos estímulos, ou seja, intrapsíquico e extrapsíquico; 3)Manter critérios de realidade socialmente aceitáveis.
O juízo  da realidade está mantido nas estruturas neuróticas e limítrofes, não nas estruturas psicóticas, mas é um critério diferenciador entre as estruturas psicóticas e limítrofes (borderline).

O seguinte exercício colocado por Otto Kernberg*, pode ser útil para diferenciar a organização psicótica e a organização borderline da personalidade (que mantém um sentido de ligação com a realidade),  ou a diferenciação entre patologias de caráter mais graves e desenvolvimentos psicóticos atípicos ou incipientes:

De uma forma geral, um método útil para clarificar o teste da realidade do doente é avaliar aquilo que no seu comportamento, afecto, satisfação ou organização formal dos processos de pensamento parece estranho, bizarro, peculiar ou inapropriado. A certa altura, na entrevista, o terapeuta deve confrontar, com tacto, o doente com o que lhe parece inapropriado, para avaliar a sua habilidade empática para com a opinião subjectiva do terapeuta. Quando a resposta do doente indica que é capaz de aderir ao teste da realidade do terapeuta, considera-se que o seu teste da realidade está mantido. Quando, pelo contrário, o doente adolescente parece desorganizar-se ainda mais com o impacte deste confronto, o teste da realidade provavelmente está perdido.”

Um exemplo de falha no teste da realidade num jovem esquizofrénico, poderá ser:

“Por exemplo, um adolescente fica deprimido porque, depois de ter sido o melhor aluno em Matemática durante toda a escola elementar e secundária, fica em segundo lugar no teste de Matemática no último ano do secundário. Quando se pergunta porque razão este facto produziu tão grande reacção depressiva, o adolescente insiste que estava convencido que era o melhor matemático do mundo, e isto foi uma falha imperdoável. Inquirido, com cuidado - como poderia estar ele certo que era o melhor matemático do mundo se, por exemplo outro jovem da sua idade noutro país podia ser ainda melhor – o doente ficou muito zangado. Disse ao psiquiatra examinador que ele era completamente idiota e depois explodiu enraivecido.”

* Agressividade, Narcisismo e Auto- Destrutividade na Relação Psicoterapêutica, Climepsi Editores

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A partir de agora vou ser ele

Gilbert and George, All my life I give you nothing and still you ask for more, 1970

O ódio é voltado para fora, em lugar do amor, e é utilizado para desviar e encobrir o amor, de tal forma que no final, existe em jogo mais ódio e menos amor na vida”.
Melanie Klein, Joan Riviere, Amor, Ódio e Reparação, Imago Editora


Se o conceito ódio nos parecer exagerado: ódio é uma força destruidora e o amor é uma força unificadora e harmonizadora, tendendo para a vida e para o prazer.

Neste contexto, sobre o desamor de um pai, ouvi um filho dizer: “Se já fui como a minha mãe e não deu em nada. Se já reagi como o meu irmão e deu no mesmo. O que é que eu posso ser melhor, do que ser ele? A partir de agora vou ser ele.”

O método é reflectir em espelho o comportamento de indiferença, alternada com atitudes agressivas e pouco tolerantes de um pai. Mas poderia ser de um marido ou de um amigo.
É um método menos complicado do que o usado na busca atormentada pela atenção do outro.
As expectativas são de aliviar a tensão e de obter um prazer imediato. Pode parecer uma vingança, uma retaliação. O ódio a encobrir o amor. Ou pode ser uma desistência.
Se a atenção ainda é desejada, os perigos são contudo evidentes, mas não perceptíveis no entusiasmo que esta fenda no sufoco, permita respirar. Espera-se que o outro reconheça, e se possa agora adquirir um estatuto de pessoa.
Sendo esta a expectativa, o perigo é testar os limites do amor pela desvalorização e negação da necessidade de dependência. Os dois, pai e filho estão mais semelhantes.
Mas tal como no reflexo no espelho, também na vida arriscamo-nos a tocar e a pessoa já não estar lá.

Começar de novo


“A necessidade de redescobrir a bondade em outra parte, bem como de separá-la do ódio e do perigo, pode assim conduzir a recomeçar de novo; e, conquanto em certos tipos de pessoas esse processo se desenvolva em demasia, é utilizado até certo ponto por todas as pessoas comuns e estáveis.”
Melanie Klein e Joan Riviere Amor, Ódio e Reparação Editora Imago

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Admiração no casamento

Juarez Machado, Encontro sinuoso, 1977


“Mas a ternura e admiração podem ser muito frágeis se não tivermos consciência até que ponto elas são essenciais para a amizade que está no centro de qualquer casamento.”
John M. Gottman e Noan Silver, Os 7 Princípios do Casamento Pergaminho 

Injustamente e só por razões históricas, foi alvo de desprezo o sentimento de admiração dentro do casamento. Foi um engano.
A ternura e também a admiração, só são possíveis porque nos identificamos com a pessoa amada, colocando-nos no seu lugar ao ponto de sermos capazes de, se necessário, darmos temporariamente prioridade aos seus interesses e emoções.

Se não for minado pela inveja, é reconfortante admirarmos quem escolhemos para viver. É como se ao valorizarmos essa pessoa, nos valorizássemos e  gravássemos dentro de nós o conforto dado por essa condição. É fonte de auto-estima.



sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Rivalidades


Robert Rauschenberg, Reservoir, 1961 (detalhe)

“Com que frequência homens importantes e eminentes não toleram à sua volta senão indivíduos medíocres; e como é comum ver-se homens de excepcional capacidade e talento escolherem mulheres particularmente insípidas, feias, ou inclusive inúteis, e vice-versa."
Melaine Klein e Joan Riviere Amor, Ódio e Reparação, Imago Editora

Quantos de nós já admiraram um homem ou uma mulher e tentaram imaginar que tipo de companheiro/a  escolheram para viver. Muitas vezes, quando nos são apresentados/as, levamos algum tempo a nos refazermos da surpresa. O que viu ele/ela na outra/o?
Mas as situações mais assombrosas talvez sejam aquelas em que somos o repositório de críticas e de atitudes pouco tolerantes por parte de alguém, e posteriormente confirmamos que a pessoa que partilha a sua vida, é uma tristeza. A amplitude de significados que este conceito possa ter para si, não lhe tire a intenção depreciativa que lhe atribui.
Nos bastidores do poder, o rodear-se de indivíduos medíocres, mas úteis, é também paradigmático.
O mecanismo subjacente a estas situações, quer seja na vida privada ou pública, é a necessidade de colocar-se em acentuado contraste com alguém que eles definem como inferior, de modo a que sejam proclamados bons e dignos de louvor. Consequentemente, projectam naqueles que escolheram para conviver, a parte má e medíocre de si próprios que ilusoriamente julgam já não lhes pertencer - são os outros e não eles, os indignos.



quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O prazer de invejar

Ken Kiff, Master of Saint Giles, 1994

Trata-se de um texto clássico de Joan Riviére sobre o ódio delirante, em particular sobre a inveja intensa, publicado numa edição com Melanie Klein, com o título  Amor, Ódio e Reparação. É uma obra datada de 1937. O texto que transcrevo, embora extenso, é de leitura fácil e sempre atual:

“Tendemos a considerar a inveja como sentimento natural ou inevitável; mas é fato comprovado que sentimentos intensos de inveja são característicos de certas pessoas e não de outras, quaisquer que sejam as circunstâncias.
Conhecemos todo o tipo realmente invejoso de indivíduo, que ostenta perpetuamente uma expressão de inquieto descontentamento e sofrimento, cujos olhos penetrantes dão a impressão de estar incessantemente registando comparações, e cuja preocupação exclusiva é aquilo que não conseguiu obter. E no entanto, na realidade, essas pessoas encontram-se amiúde, sob o ponto de vista material, em melhor situação do que a maioria de quantos lhes estão próximos.
Quando a inveja atinge a esse ponto, ocorre um desajustamento algo exagerado; pois em lugar de se revelarem capazes de obter e conquistar para si mesmas e gozar a satisfação e a segurança da boa sorte, a noção de perigo dessas pessoas (decorrente da sua própria voracidade) é tão pronunciada que as força a protestar e a declarar que nada possuem: isto é, que elas não foram culpadas de voracidade, de tomar à força e acumular para si mesmas e defraudar outras pessoas de coisas valiosas com o propósito de enriquecer. Exemplo comum desse tipo é o indivíduo que, embora sempre invejoso, nunca faz qualquer esforço para adquirir ou obter qualquer coisa, e nunca procura triunfar de nenhuma forma. Aqui é possível observar claramente que tanto a inveja como a falta de sucesso lhe servem de prova de que, na realidade, não está tomando nada dos outros. Embora essa atitude psicológica atenta suficientemente bem o propósito de infundir segurança e confiança renovada contra o medo, trata-se de uma evolução patológica que não faz delas pessoas agradáveis, inclusive para eles próprios. Quanto mais não seja pelo facto de despenderem tanto tempo e energia como fazem ao sentirem-se despojados e frustrados na vida, às pessoas invejosas pouco ou nenhum tempo resta para qualquer prazer imediato. A satisfação indirecta, elas a obtêm ao se sentirem despojadas e ofendidas por outros.
Existe um prazer sádico no acto de depreciar e desacreditar aqueles mais bem dotados, embora possa ser expresso apenas indirectamente; um tipo muito disfarçado e muito deformado de amor está também contido no acto de não tomarem nada de bom para si, contentando-se em desejar e invejar."

Melanie Klein e Joan Riviére Amor, Ódio e Reparação Imago Editora

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Djavan "Sabes mentir"


Os maus são os que nas relações, aparentam conscientemente sentimentos que não têm. Dizem uma coisa com a boca e outra com os olhos – Eduardo Sá (psicólogo).  

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Pessoa e Mário Sá-Carneiro


Celeste Malpique psiquiatra e psicanalista no seu livro “Fernando em Pessoa”, Editora Fenda, apresenta uma reflexão psicanalítica deste autor da Língua portuguesa.

Sobre a relação narcísica entre Fernando Pessoa e Mário Sá- Carneiro:

    “Enquanto Fernando Pessoa, pela sua exigência formal e pela heteronímia foi mais defensivo na Poesia, a libertação emocional que Mário Sá- Carneiro atinge na Poesia deixa-o desprotegido e extravasa dramaticamente na crise melancólica.
    Entre estes dois poetas geniais, com grandes fragilidades no seu funcionamento psíquico, podemos apreciar uma identificação narcísica que, de certo modo, reforçou em ambos os aspectos mortíferos.
Espelharam-se, admiraram-se mas, vendo apenas um no outro a sua própria depressão, “a sua falha”, não conseguiram, através de uma relação, salvar-se. O espelho estilhaçou!
    Com efeito uma relação de intimidade homossexual entre eles estaria votada ao fracasso, pois era impossível a partilha. Sá carneiro sempre fugido, procurando-se num Paris idealizado (no Além) e Pessoa solitário intelectual e inibido, investido em desígnios místicos.
    Sá-Carneiro suicidou-se; Fernando Pessoa sobreviveu pelo seu misticismo visionário, mas o seu comportamento era suicida e cedo morreu.” Pag 134

Padre Anselmo Borges

António Marujo entrevista o Padre Anselmo Borges, teólogo e professor de Filosofia na Universidade de Coimbra. É colunista do Diário de Notícias e autor de várias obras. Publicada hoje no Suplemento Publica do Jornal Publico, transcrevo alguns enxertos dessa entrevista. 

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Um dos medos que refere é a sexualidade. O cristianismo tem medo dela?
É importante desfazer equívocos. Uma coisa é a Bíblia e a mensagem originária cristã, com Jesus Cristo. É interessante ver que Jesus, perante a sexualidade, mesmo confrontado com desvios, é tolerante e perdoa. A Igreja parece ter posto o acento no sexo e nos seus desvios, mas Jesus o que condenou de forma veemente foi fundamentalmente a ganância, a avareza, a opressão: "Não podeis servir a Deus e ao dinheiro." É necessário distinguir entre a Bíblia, onde se encontra um dos livros mais exaltantes do amor erótico, que é o Cântico dos Cânticos, e, depois, o mal-estar do cristianismo histórico em relação à sexualidade, que provém fundamentalmente dos gnósticos e de Santo Agostinho. Santo Agostinho é herdeiro de uma escola gnóstica, que é o maniqueísmo, que leva a gnose à radicalidade.

Num dos seus textos, diz que a Igreja perdeu a credibilidade em termos de doutrina sexual. É assim?
A sexualidade também tem a ver com o prazer e este confronta-se com o poder. Na medida em que a Igreja se tornou numa instituição de poder, tem muita dificuldade em lidar com o prazer e a autonomia. Não sabe, por isso, como lidar com a sexualidade, com as pessoas que estão no mundo de modo autónomo. Essa é uma das questões fundamentais da Igreja.
….
O corpo humano vivo é alguém, alguém que está aberto à transcendência. O cristianismo é a grande resposta a esta corporeidade, que se abre à transcendência do próprio Deus e que espera a ressurreição dos mortos. Mas a Igreja oficial deu-se muito mal com a matéria, com o corpo. Há o problema do poder e, voltando à moral, do celibato não assumido. O facto de a ética ter sido entregue a moralistas que eram padres, com um celibato obrigatório, por vezes não assumido, eventualmente infeliz, tudo isso envenenou o corpo e a sexualidade. E envenenou a mulher, porque a moral esteve entregue a homens, que talvez vivessem uma má relação com o corpo e que tinham de amaldiçoar a mulher como o fruto proibido.
...
É um Deus imoral que provoca o aparecimento do ateísmo, como sugere em vários dos textos do livro Janela do (In)visível?
Um deus que mete medo, que humilha as pessoas e impede a sua alegria, que leva à violência e à guerra, é um deus em relação ao qual só há uma atitude digna: ser ateu. O mesmo se diga da doutrina que diz que Deus precisou da morte do Filho para aplacar a sua ira. Este deus seria pior que eu, é imoral, porque mata a vida, quer o sangue do Filho, precisa de vítimas. Isso é absolutamente intolerável. Um Deus que exige o sangue das vítimas é o Deus da vingança. Ora, se Deus se vinga, nós também podemos vingar-nos, podemos ir para a guerra. O Deus que Jesus anunciou constituiu uma revolução. Jesus não veio anunciar que há Deus, porque Deus nesse tempo era uma evidência social. O núcleo da sua mensagem é que Deus é amor. Esta é que é a notícia boa e felicitante do Evangelho. Ora, o que a Igreja pregou muitas vezes, ao longo dos tempos, foi uma má notícia, o "disangelho", no dizer de Nietzsche.











sábado, 5 de fevereiro de 2011

Incapacidade de amar em Pessoa


Celeste Malpique psiquiatra e psicanalista no seu livro “Fernando em Pessoa”, Editora Fenda, apresenta uma reflexão psicanalítica deste autor da Língua Portuguesa.
A obra contém no capítulo Leituras Prévias, três textos de psicanalistas. Um texto de António Coimbra de Matos, outro de Carlos Amaral Dias e outro de Emílio - Eduardo Guerra Salgueiro.

Acerca da personalidade de Fernando Pessoa, Celeste Malpique encontra, com base em W. Bion, um núcleo esquizóide e frágil, sendo o narcisismo um tema central.
Para os menos habituados às características clínicas dos psicóticos, Bion identifica “o ataque à realidade, a recusa da verdade e a enorme resistência à transformação, isto é ao crescimento mental.”

Deixo-vos um pequeno fragmento desta obra, para ilustrar esta análise:

Incapacidade de amar
   A timidez, isto é, o evitamento fóbico da intimidade tornou pobre a sua vida relacional pois, desde muito cedo se refugiou na solidão. No retraimento narcísico procurou um escudo protector atrás do qual se permitia ser crítico e cínico observador ou atrás de uma máscara dar forma a impulsos eróticos.
   Não podemos falar de uma cápsula autística mas de um espelho reflector onde via o reconhecimento dos outros – ser admirado, ser amado - , mas de cujos limites não arriscava sair, sob pena de se sentir ameaçado pela intrusão ou até envolvimento fusional.
   Na organização esquisoide que constitui o cerne da sua personalidade, amar o objecto, isto é tomar posse do objecto significa destruí-lo e, para evitar esse conflito primário, pré- ambivalente, surgem as clivagens. Para manter o amor do objecto (idealizado) toma para si a culpa de não ser amado (defesa moral de Fairbairn). E recordemos que Fernando sempre se considerou feio, pouco atractivo, desprezível na sua imagem corporal, e se queixava de ser tímido, passivo, desajeitado, falho de vontade. Não estava ausente da sua lúcida consciência a sua real incapacidade de amar.
   Esta organização esquisoide da personalidade foi tão precoce que podemos mesmo admitir que a orientação sexual nunca ficasse bem definida.
   Ele próprio reconhece em si essa dualidade, sinal de uma bissexualidade psíquica não ultrapassada: “ …um temperamento feminino com uma inteligência masculina….”pag 127









quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Qualidades das relações


Hotel Quinta do Jardim da Serra

“… um dos grandes sofrimentos das pessoas é a dificuldade de arranjar uma relação amorosa que seja boa e que dure.” João Seabra Diniz (psicanalista)

Há relações que são boas, duram e surpreendentemente envolvem pouco esforço. São o melhor dos nossos dias, das nossas vidas. Gostamos de gostar.
De que são feitas estes encontros que os diferenciam daqueles em que a tolerância escasseia? 
O que é uma relação e o que não merece esse nome? Qual é a fonte do entendimento entre as pessoas?

António Coimbra de Matos, psicanalista, deu uma Conferência sob o tema ”Disfunções relacionais”, no dia 25 de Abril de 2009, pelas 10h, na Sala do Senado da Universidade da Madeira.
Já no final da apresentação, Coimbra de Matos recorreu a uma abordagem surpreendentemente simples - como se anulasse toda a dúvida, toda a incerteza - sobre as qualidades que, estando presentes nas relações entre mãe/pai - filho ou entre as pessoas, torna possível “uma construção a dois”, quer no trabalho, na vida social ou amorosa, “tudo na vida humana”, como costuma dizer.

Aqui vos deixo os meus apontamentos dessa conferência:
Uma qualidade das relações, é que haja confiança. Que o outro seja previsível – “que se saiba, que se pode contar com ele”. Deu exemplos, na relação entre pais e filhos, que a criança sinta que os pais estão comprometidos com as suas necessidades (de estar presente quando é suposto; …).

Outra qualidade é a fiabilidade, por exemplo, ser capaz de cumprir com as promessas, entre outras atitudes semelhantes.

A Introjectibilidade é um conceito psicanalítico, que significa a capacidade de ser “gostável”. Isto é, para que, por exemplo, a criança faça uma ligação a uma pessoa, esta tem que permitir, e ser capaz de se identificar com ela, ou seja "colocar-se na sua pele". No fundo, conquistar e deixar-se cativar.

Uma boa relação, tem de ser também, recíproca para que haja trocas.
Para Coimbra de Matos há várias maneiras de reciprocidade, como sejam nas relações de amizade, em que há afinidades ou modos semelhantes de “sentir a vida”.
As relações de trabalho têm outro modo de reciprocidade, que se revela pela comunhão dos mesmos objectivos, nem que seja para “descobrir a pólvora”, como diz Coimbra de Matos, apesar de esta já estar descoberta.

Outro aspecto importante nas relações, é a “afinação afectiva”, importante para se tornarem profundas. Não deve ser entendida como estar sempre de acordo com o outro, mas ser capaz de, no desacordo (é importante ter ideias fracturantes, senão será a monotonia, diz Coimbra de Matos), realizar acertos.