quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O ciúme

 Barbara Kruger, Untitled (We); 1985

Sobre a mulher de um paciente amigo:
“Às vezes, as mulheres que não amam verdadeiramente os maridos sentem ciúmes e destroem as amizades destes. Querem os maridos sem admitirem partilha, justamente porque não lhes pertencem. O núcleo de todo o ciúme é a falta de amor.”
Carl G. Jung, Memórias, Sonhos, Reflexões

Jung deveria estar muito zangado com a atitude da mulher do amigo, pensamos. A última parte da sentença, “porque não lhes pertencem” é aparentemente enigmática, pelo que merece que lhe prestemos atenção.
Talvez sugira que na base está o ciúme e a sua parente, a inveja.
A inveja pela vontade de se apoderar de uma amizade até ser capaz de a destruir, e o ciúme ligado ao desejo de ter o marido só para si, porque se receia perdê-lo. É o sentimento que não (nunca) se é suficientemente amada.
Dependente do grau (ciúme neurótico, ciúme patológico, ciúme delirante) pode ser uma luta desenfreada pelo impossível – a posse total e exclusiva do outro (Coimbra de Matos).
A relação com esse outro costuma ser ambivalente, ou seja, oscila entre o amor e o domínio, que é uma manifestação do ódio. Pelo que, "..não amam verdadeiramente os maridos" (Jung).

“ (o outro) não lhes pertence”, é a revelação que não confiamos que estamos no seu coração mesmo que recebamos um amor dedicado, porque lá atrás, na nossa infância, não nos ajudaram a aceitar um outro, para além da relação a dois.

Bruno Bettelheim em “Psicanálise dos contos de fadas”, sobre o ciúme que tem a sua origem na relação triangular, pai, mãe e filho:
“ Quando o cuidado terno e amoroso do pai do mesmo sexo não é bastante forte para formar laços positivos mais importantes com a criança edípica, naturalmente ciumenta, e com isso colocar o processo de identificação trabalhando contra esse ciúme, então esse domina a vida emocional da criança”.
Em suma, são venenos tóxicos,  a rivalidade e a competição com um filho.

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