sábado, 3 de março de 2012

A mãe de Narciso (2)


Théodore Géricault (1791 - 1824) Study for The Raft of Medusa (trabalho inacabado)

A presença do outro que não se deixa entrar e se remete para a margem, por se julgar deter a capacidade de dispensar quem vem por bem. Assim é Narciso.
Esta omnipotência é vista como autoproteção contra uma dependência vivida na infância, sentida como destruidora de si próprio:

"Uma vez que o filho era produto de uma violação, Liriope poderá ter vivido sentimentos difíceis em relação a Narciso desde o primeiro momento. Esse “espectro no quarto das crianças” significa que a raiva impotente dela contra o pai, pode ter levado a um padrão agressivo de dispensa de cuidados, por efeito do qual Narciso, em busca de uma outra forma de segurança, terá suprimido os seus sentimentos amorosos, tentando tornar-se autossuficiente. Poderá ter negado a realidade da sexualidade parental responsável pela sua existência e ver-se, na fantasia, como se se tivesse gerado a si próprio. A sua beleza garantia-lhe que a sua relação consigo nunca deixaria de o gratificar, mas a sua raiva suprimida relativa à rejeição pela mãe significava que não podia confiar em nenhum outro, assim estabelecendo uma base segura, e levou-o a preferir em vez disso utilizar as outras pessoas de uma maneira punitiva e coerciva. Na escola ou com os seus pares, Narciso teria sido um tirano, tornando os outros como Eco, suas vítimas e presas."
Jeremy Holmes Narcisismo Almedina

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