sábado, 17 de maio de 2014

O lado negro da inteligência emocional

George la Tour A adivinha

“Neal Ascherson (1983) relata que Klaus Barbie, o chefe da Gestapo de Lyon que torturou Jean Moulin até à morte, disse, uma vez, numa entrevista: Quando interroguei o Jean Moulin, senti que ele era eu próprio.

Arno Gruen A Traição do eu

O relato é usado pelo autor, para comprovar como é possível possuir a capacidade de reconhecer a humanidade do outro e mesmo assim ser cruel até o matar.
Se nos confunde, o certo é que  o chefe da Gestapo evidenciava uma componente da inteligência emocional – identificou emoções em si e em Jean Moulin. Não sabemos se poderia ser considerado emocionalmente inteligente, pela posse de um conjunto de outras capacidades, tais como: compreender as causas das emoções e as suas consequências para o pensamento e comportamento; rotular emoções com vocabulário sofisticado; expressar emoções de forma socialmente apropriada; e regular as emoções de forma eficaz.
Podemos sintetizar que a inteligência emocional dá-nos competências sócio emocionais de que tanto se fala na modernidade, só que as mesmas podem ser utilizadas para o mal - o lado negro da inteligência emocional-, para a manipulação do outro. Esta é uma ideia que tendemos a rejeitar, por estarmos submersos pela valorização daquelas capacidades adaptativas que sustentam variadíssimos projetos sociais e educacionais. 
Se julgamos que não podem coabitar na mesma pessoa as qualidades citadas ao serviço do mal, pensemos nos líderes carismáticos e nos seus desgovernos, ou nos grandes burlões que iludem magistralmente as pessoas. O que lhes falta, de fato, não é a inteligência emocional, é esta ser entroncada com a moral, com os valores positivos, apoiados na capacidade de doer no próprio, quando inflige sofrimento a outro. A inteligência emocional não é mais importante que a moral.
Ao simplificar, bastaria a educação moral e o auto-conhecimento, em nós, para deixarmos o mundo melhor.

Aos os interessados no tema, vale a pena investigar se tudo depende de se considerar a inteligência emocional como dimensão interpessoal ou como traço de caráter.


Ler: "Emotional intelligence is important, but the unbridled enthusiasm has obscured a dark side." de Adam Grant, aqui.


Vale também a pena ler "Does IQ Beat EQ? Wrong question" de Jushua Freedmanaqui.

Analisando a importância da empatia sob outra perspetiva, no site  Fronteiras do Pensamento leia o artigo Colocar-se no lugar de bilhões de estranhos? O problema da empatia como solução para a humanidade”, do qual transcrevo: 

"Ainda, Bloom ( o psicólogo canadense Paul Bloom) argumenta ser impossível desenvolver empatia por sete bilhões de estranhos no planeta, refutando a ideia de que precisamos ver a humanidade como uma família. Para ele, o que devemos fazer é ensinar o valor universal da vida, seguindo a linha de Steven Pinker, que defende que faculdades mentais mais complexas - como razão e justiça - são mais eficazes como um guia para o futuro. (…) Onde a empatia realmente importa é nos nossos relacionamentos pessoais.(...) Empatia apenas nos trai quando a levamos como um guia moral."



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