Imagem do filme "O belo António"
“Este amor tão verdadeiro, tão
profundo pode nada ter de erótico. Acontece ao homem amar profundamente uma
mulher que lhe é indispensável, mas pela qual não sente qualquer desejo erótico…é
capaz de fazer amor com todas as mulheres do mundo exceto com a sua. “
Francesco Alberoni O
Erotismo
Com base nas minhas leituras
dos clássicos, este laço afetivo com a mulher com quem não se tem relações
sexuais, ou melhor dizendo, por quem não se tem desejo erótico, é a vinculação*, entendida por certos autores psicanalistas, Mary Ainsworth
e outros, como sendo uma forma de amor em que os parceiros tendem a manter-se
próximos um do outro, não por dependência, mas para satisfação de funções de apego,
embora desprovidas das emoções da paixão.
A sua característica essencial,
nas palavras de um outro autor, J. Bowlby, refere-se à escolha do parceiro. Na vinculação, a escolha não é feita ao acaso. Se a ligação perdura, e tende para a durabilidade, aquele/a parceiro/a é o
preferido para satisfazer certas necessidades.
A minha vontade em escrever,
neste momento, acerca deste tema, é naturalmente por considerar profícuo entendermos que o amor pode ser considerado um espetro, como um
arco iris, que vai do êxtase amoroso até à vinculação tranquila, o que ajuda,
penso eu, a compreendermos que se pode estar muito apaixonado por alguém fora
do casal legal, mas permanecer-se ligado, e não dependente, do parceiro legitimo.
* A ideia é defendida por Boris Cyrulnik em Sob o signo do afecto
* A ideia é defendida por Boris Cyrulnik em Sob o signo do afecto