quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

António Damásio - A diferença entre emoção e sentimento



António Damásio é neurocientista português. Trabalha nos EUA. É diretor do Departamento de Neurologia da Universidade de Iowa, com categoria de Van Allen Professor e catedrático, para além de lecionar como Adjunct Professor no Salk Institut, em La Jolla, na Califórnia.


ENTREVISTADOR:
O que é, em termos mais breves ou mais simples, para um publico leigo, essa diferença básica entre emoção e sentimento? Emoção é uma coisa, uma reação mais rápida, mais instintiva…ou..o que diferencia as duas (emoção e sentimento)?


António Damásio: Você vai à minha conferência esta noite? A emoção é um programa de ações, portanto é uma coisa que se desenvolve com ações sucessivas. É como que uma espécie de concerto de ações. Não tem nada a ver com o que se passa na mente. É despoletada pela mente, mas acontece com ações que acontecem dentro do corpo, nos músculos, coração, pulmões, nas reações endócrinas, enquanto os sentimentos são por definição a experiência mental que nós temos do que se passa no corpo. É o mundo que se segue (à emoção). Mesmo que se dê muito rapidamente em matéria de segundos, primeiro são ações e grande parte delas podem-se ver sem nenhum microscópio. Você pode- me ver a estar a ter uma emoção, não vê tudo, mas vê uma parte. Pode ver o que se passa na minha cara, a pele pode mudar, os movimentos que eu faço etc., enquanto o sentimento você não pode ver.
O sentimento que eu tenho, você não sabe se eu tenho ou não tenho. E se você tiver um sentimento de profunda tristeza, mas se me quiser enganar, e quiser comportar-se como se estivesse alegre, vai- me enganar o mesmo, porque eu não posso saber o que está dentro da sua cabeça, posso adivinhar, mas é diferente. Isto é uma diferença fundamental. É a diferença entre aquilo que é mental e aquilo que é comportamental. (Emoção) é uma reação inata. O sistema de reações: inata que é desencadeado por um determinado processo, geralmente um processo intelectual, uma coisa que se percebe, se ouve, que se vê, etc e depois acontece dentro do corpo dessa forma complexa. Essa é a grande diferença (entre emoção e sentimento). E como é evidente, é mais fácil perceber o que se passa objetivamente do que perceber uma coisa que se passa dentro da mente de outrem. Este é um aspeto de grande êxito para a neurociência, mas que (ainda) está em curso. Se você me entrevistar daqui a 10 anos, ocorrerá incríveis desenvolvimentos, que vão acontecer. Uma outra coisa muito importante que começou a acontecer, tem a ver com a tomada de decisões e com o mundo da vida social, não da vida social no sentido barato do termo, mas da vida social em termos da organização da sociedade. E uma coisa, por exemplo, se você ver (o meu livro) “O erro de Descartes", especialmente nas últimas páginas, há uma série de passagens em que eu aponto para isso. Em que eu digo, bem no fundo as coisas que estão a acontecer no hipotálamo e que estão a acontecer no Tronco cerebral, que estão a acontecer no Córtex cerebral, tem muito a ver com coisas que se passam no mundo social, como exemplo, a Declaração de Independência dos Estados Unidos da América. Estava a fazer a ponte entre o que acontece no cérebro e o que acontece na nossa vida em matéria de organização social. Porque, tal como hoje penso, e aparece também no meu ultimo livro “ E o cérebro criou o homem” - nunca consigo lembrar-me do título, penso sempre no homem que criou o cérebro -, aquilo que eu aponto, também aí (neste livro), é que, a nossa vida e a nossa organização social, são um reflexo extraordinariamente importante da nossa organização básica afetiva. A razão pela qual temos uma sociedade organizada da forma que temos, aquilo que acontece em matéria da criação da moralidade, justiça, economia, política, e mesmo termos mesmo das artes e humanidades, tudo isso tem uma influência extraordinariamente grande na vida dos afetos.

NOTA: O mesmo assunto em uma outra entrevista que António Damásio deu à Revista Veja: 

http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/os-sentimentos-sao-fundamentais-para-a-sociedade-diz-antonio-damasio



sábado, 22 de fevereiro de 2014

ENTREVISTA a José Gil



Na página pessoal do jornalista Paulo Moura, poder-se-á ler uma entrevista feita pelo próprio, ao filósofo José Gil aquando da publicação do seu livro “Portugal, Hoje – o medo de existir”, em 2005. A entrevista tem o título: “Vivemos paralisados pela inveja”.
José Gil foi considerado pelo Nouvel Obsevateur, um dos 25 grandes pensadores de todo o mundo.

Os que vivem a "vida plena"


Moreno Bondi Parole di Pietra (detalhe)

 “ (…) Parece-me que os pacientes que fizeram progressos significativos na terapia vivem de um modo mais íntimo com os seus sentimentos dolorosos, mas vivem também mais intensamente os seus sentimentos de felicidade; a cólera é mais claramente sentida, mas o amor também; o medo é uma experiencia feita mais profundamente, mas também a coragem. E a razão pela qual eles podem viver de uma maneira tão plena num campo tão vasto é que eles têm em si mesmos uma confiança subjacente de serem instrumentos dignos de confiança para enfrentar a vida.(…) Estou convencido de que este processo da “vida plena” não é um género de vida que convenha  aos que desanimam facilmente. Este processo implica a expansão e a maturação de todas as potencialidades de uma pessoa. Implica a coragem de ser.”

Carl Rogers Tornar-se pessoa Moraes Editores

Não tenho muita simpatia pela ideia que a pessoa que evolui ao mais alto nível espiritual, definida pela capacidade de consciência e de harmonia que desenvolve consigo e com os outros, deverá aspirar como que a um perpétuo estado Zen. Aconselha-se por ai: utilizar estes atributos  - não ouvir, não ver, não dizer -  na família, na sociedade e no trabalho. Distanciar-se dos estímulos negativos, pressuponho. Desenganem-se. 
Estou convencida que as pessoas que se tornam mais plenamente humanas, têm profundidade emocional, diferenciam mais facilmente o certo do errado e estão ancoradas aos seus sentimentos, o que muito conta para a união ardente com o outro, para a indignação e para a coragem se a situação o exigir. 

Um belo e profundamente sabedor texto, sobre este assunto, com o título The Moral Bucket List da autoria de David Brooks, em: 
http://www.nytimes.com/opinion/sunday/david-brooks-the-moral-bucket-list.html?_r=1

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Dia dos Namorados

Foto de  Ranak Martin

A capacidade de cativar. De se tornar desejável. A sorte se o outro repara:

“…uma competência de que todos precisamos: a capacidade de fazer com que outra pessoa se preocupe connosco.”
 Stephen Grosz A vida em exame Temas e debates

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Freud sobre o luto


Raffaello Monti

“Embora eu saiba que após tamanha perda o estado agudo de luto acabará por dissipar-se, também sei que permanecemos inconsoláveis e nunca encontraremos um substituto. Seja o que for que venha a preencher a lacuna, e ainda que a preenchesse completamente, continuaria sendo, não obstante, uma outra coisa. E, na realidade, é assim que deve ser. É a única maneira de perpetuar aquele amor a que não queremos renunciar."

In carta de Sigmund Freud a Binswanger


Interpreto como uma maneira de Freud dizer que é desejável que o luto seja ultrapassado,  não através da busca de um precipitado substituto, jamais encontrado, mas pela aceitação de uma outra coisa (pessoa…interesse…), que irá permitir perpetuar a ligação a esse primeiro amor e à vida.