quarta-feira, 30 de março de 2011

Da certeza


Quanto mais se aperceber quem é o que quer menos se deixa ralar pela vida.
Deveria ser o propósito da nossa vida. Mas poluímos a nossa mente com muitos assuntos que nos provocam desgaste de energia.
Na vontade de a tudo chegarmos, perdemos a noção de liberdade de sermos quem deveríamos ser. Temos medo. Fazemos demasiadas concessões. Acreditamos que não sobrevivemos com menos. São esses pensamentos que determinam as nossas acções e definem a nossa realidade, a nossa vida.
Se nos concentrarmos mais no modo como nos sentimos e no modo como cuidamos de nós, e não tanto no que temos ou no que parecemos, menos nos deixaremos ralar pelas coisas inúteis da vida.

Cena do filme O amor é um lugar estranho - Lost in Translation de Sofia Coppola


sábado, 26 de março de 2011

Lobo com pele de cordeiro # 1

de David Parkins

Poderia recorrer à fábula “O lobo com pele de cordeiro” para ilustrar o comportamento das pessoas que usam um modo camuflado de violência. Mas no livro de fábulas de Fredo “A irmã e o irmão” parece-me mais próxima da nossa realidade:
“Um certo homem tinha uma filha muito feia e um filho admirável pelo belo rosto. Estes, brincando puerilmente viram por acaso um espelho. O rapaz gaba-se por ser formoso, a rapariga que não suporta os gracejos do irmão, corre para o pai, a se queixar do comportamento daquele. O pai, abraçando um e outro, e repartindo beijos por ambos com doce amor, disse: “Quero que vós useis do espelho todos os dias. Tu filho, para que não corrompas a beleza com vícios de maldade. Tu, filha, para que venças esta face feia com bons costumes.”

Como nos parece bem-intencionado este pai! Mas sobre esta capa, não deixa de humilhar os seus filhos, só que o faz com “uma forma erótica da hostilidade”(Robert Stoller). Fá-lo indirectamente – coloca entre a sua intenção de humilhar, os valores de humildade e correcção que qualquer pessoa aprovaria. É um perverso narcísico que utiliza a violência oculta, que não se vê à primeira vista, mas que lhe dá, aos seus olhos, a valorização de ser um bom educador que ama os seus filhos. Faz o mal fingindo fazer o bem.
A vítima só muito mais tarde se dá conta de um desassossego. De um estado de angústia inominável que aos poucos pode ser de tal modo lesiva que toma conta do pensamento, deixando-a invadida por emoções negativas. 
Nem sempre a violência é oculta, mas o propósito será sempre fazer valer as  necessidades pessoais de quem a pratica.
No ambiente familiar ou em outros contextos, aqui vos deixo os perfis destas personagens, por muitos considerados psicopatas passivos, gente mal-amada, que utiliza a sua agressividade de um modo parasita, ou pela sedução, ou pelo ataque directo ao amor-próprio do outro:

“Certas personalidades psicopáticas, de malignidade encoberta mas altamente patogénicas, procedem de modo atrás referido – mantêm em segredo a sua violência e deslealdade: vestem pele de cordeiro mas devoram como lobos. Entram neste grupo as personalidades passivo-agressivas, certos paranóicos com necessidade de controlo omnipotente do desejo e vontade do outro, uns tantos sádicos e exploradores, alguns perversos, as personalidades obsessivo-compulsivas (que controlam pela força) ou histéricas (que controlam pela sedução) regularmente compensadas, muitos doentes com perturbação narcísica que usam e abusam do ataque camuflado mas persistente ao narcisismo do outro e, por último, outras tantas pessoas repletas de inveja”.
António Coimbra de Matos, Violência inconsciente, Revista Portuguesa de Pedopsiquiatria, 1991, nº 2

quinta-feira, 24 de março de 2011

Os Dons - Juans e os instáveis no trabalho

Jack Vettriano, Wicked Games

Na última ilustração que ofereci – os Dom – Juans no campo do amor e os instáveis no do trabalho – é possível discernir com suficiente clareza os principais processos utilizados, por serem grosseiros e exagerados. Constatamos como os desejos insaciáveis dessas pessoas, que em última análise não se distinguem muito da simples e desregrada voracidade, levam-nos inevitavelmente a mostrar-se insatisfeitos e descontentes com o que quer que recebam, despertando com isso seu temor de dependência, vingança e agressividade, e ameaçando inclusive sua segurança e tranquilidade mental, além da da mulher de quem quer que seja a desapontá-los. Todos os impulsos maus que existem dentro deles – o ódio, a voracidade e o desapontamento vingativo – são então psicologicamente expelidos para a pessoa ou tarefa de que tanto haviam esperado, e ali percebidos totalmente; em seguida, naturalmente, sentem ao mesmo tempo necessário e justificável escapar daquela pessoa ou tarefa.
Ora, a fuga é essencialmente e invariavelmente uma medida de segurança; e cumpre atentar para o que vem a ser salvo pela rejeição.
Fundamentalmente, a vida é resgatada através dela, uma vez que as pessoas desse tipo sentem-se ameaçadas por todos os lados, pelo facto de serem o que são; mais do que isso, porém elas estão tentando também assegurar seu prazer.
Também os Dom - Juans e os instáveis conservam o seu anseio de bondade – tanta quanto são capazes de admitir; e de cada vez recomeçam a antiga busca de maior segurança ou maior prazer no amor ou na satisfação sexual do que jamais encontraram ou hão - de encontrar.

Melanie Klein e Joan Riviere, Amor, Ódio e Reparação Imago Editora
Ano da 1ª edição: 1937


quarta-feira, 23 de março de 2011

Elizabeth Taylor

Um homem e uma mulher encontram-se ( aqui ) - cena de Butterfield 8.
Elizabeth Taylor faleceu hoje, aos 79 anos.

terça-feira, 22 de março de 2011

O significado da história de D. Juan

Raffaello, Portrait of Bindo Altoviti


As variadas formas e manifestações de infidelidade (constituindo o resultado das mais variadas formas de desenvolvimento, e traduzindo em certas pessoas principalmente amor, e em outras particularmente ódio, com todos os graus intermédios) têm um fenómeno em comum: o repetido afastamento de uma pessoa (amada), que decorre parcialmente do medo de dependência. Cheguei à conclusão de que, nas profundezas da sua mente, o Dom – Juan vive perseguido pelo temor da morte de pessoas amadas, e de que esse temor haveria de desencadear-se e de exprimir-se em sentimentos de depressão e em grandes sofrimentos mentais, não tivesse ele desenvolvido contra eles esta forma particular de defesa – sua infidelidade. Por esta atitude vem ele provando incansavelmente a si mesmo que o seu único objecto apaixonadamente amado (originalmente a mãe, cuja morte temia por sentir que seu amor por ela era voraz e destrutivo) não é em suma indispensável, já que sempre é capaz de encontrar outra mulher por quem experimenta sentimentos apaixonados porém superficiais.
...
Na realidade, ele é conduzido de uma pessoa para outra, já que esta outra não tarda a retomar o lugar de sua mãe. Seu primitivo objecto de amor é pois substituído por uma sucessão de objectos diferentes. Em sua fantasia inconsciente ele vem recriando ou restaurando a mãe mediante gratificações sexuais (que na realidade oferece a outras mulheres), já que apenas sob um aspecto sua sexualidade se lhe afigura perigosa; sob outro aspecto, apresenta-se como reparadora e capaz de torná-la feliz.
Melanie Klein e Joan Riviere, Amor, Ódio e Reparação, Imago Editora
Ano da 1º edição: 1937

domingo, 20 de março de 2011

Decepção

“As pessoas morrem quando nos decepcionam e, para nossa perplexidade, com elas morre sempre um bocadinho mais ou menos indecifrável dentro de nós.”
Eduardo Sá, Chega-te a mim e deixa-te estar, Oficina do livro

A decepção. Não o pequeno tremor frente à improvável atitude do outro. Mas a sensação que algo nos perfurou. Não antevemos possibilidade de regeneração.
Sofre-se duplamente. Pela perda do outro e pela perda desse bocadinho que não conseguimos localizar.
Esse bocadinho,  é a imagem do outro que se entrelaçou dentro de nós a uma memória elementar. A toda a riqueza que acumulamos das nossas vivencias reais e fantasiadas. À memória das pessoas que amamos, e do que amamos em nós, apesar dos desapontamentos. É a poção de sobrevivência. Do que acreditamos e confiamos, e que nos faz uma companhia silenciosa.
E subitamente, o outro que é parte de nós, decepciona-nos. Diz-nos que está descomprometido com esses sentimentos e emoções. Ficamos sem sustentação. Aproximamo-nos da morte, por agitar temores de um tempo inseguro e desprotegido.

Se a reserva de amor que temos dentro de nós é a bastante, “isso nos permite compensar um fracasso ou um desapontamento em relação a uma pessoa estabelecendo um relacionamento amistoso com outras e aceitar substitutos para coisas que fomos incapazes de obter ou de guardar”. (Melanie Klein)



quarta-feira, 16 de março de 2011

Isabel Leal (1ª Parte)

Isabel Leal é psicóloga clínica. É professora no Instituto Superior de Psicologia Aplicada (Lisboa). Foi entrevistada por Anabela Mota Ribeiro em Maio de 2009. Desta longa entrevista, publicada no Jornal Publico, retirei a ultima parte, que vos deixo aqui.

"...é preciso diminuir o hiato entre o que sentimos e pensamos." é uma das ideias a reter.

Lemos livros e ouvimos psicólogos que repetem à exaustão que a gratificação tem de vir de dentro. Mas como chegar a sentir isso que tão bem sabemos?
Isabel Leal: Acho que só há duas maneiras. Uma é mesmo a psicoterapia. Porque é o retorno a nós próprios, a uma consciência apurada de quem somos, como somos, porque somos. É como na crise adolescente: quem sou, donde venho e para onde vou. A outra é encontrar uma relação em que tenhamos espaço de existência e de construção de uma identidade, que nos permita essa gratificação. Quer um quer outro não são acessíveis a toda a gente. Há uma arbitrariedade horrível. Não é uma das coisas em que vou para casa e faço o treino...
Quer a psicoterapia quer a relação construída com outro são espaços de intimidade. Vivemos entre esses dois espaços: o íntimo, onde nos auscultamos e sabemos quem somos, e o público, onde cabe a conversa sobre o sexo, sobre o parecer ser, a dissimulação.
É incontornável que sejam espaços de intimidade. Atingimos a singularidade na maneira como combinamos os nossos elementos e construímos essa individualidade, apesar de tudo o que nos aconteceu - e sublinho o "apesar de". Aquilo que nos diferencia é essa construção autónoma. Aquela psicologia barata: "Percebe-se perfeitamente por que é que aquela pessoa é assim. Porque lhe aconteceu isto e isto e isto; só podia dar naquilo!" Não é verdade!

Porquê?
Isabel Leal: Há características pessoais e há circunstâncias felizes que nos possibilitam, apesar de tudo, transformar formas de ser. A história passa a ser: "Sou assim, não por causa do que me aconteceu, mas apesar do que me aconteceu." Há muitas pessoas a quem aconteceu o pior possível e que são muito estruturadas. Não temos só a condenação ao Inferno ou ao Purgatório. Temos uma enorme capacidade de resistência, resiliência, reformulação. É possível criar os espaços de liberdade, de recuo em nós próprios.

Do que é que as pessoas falam no consultório? De sexo, do desencontro, da equivocidade permanente?
Isabel Leal: Não há uma resposta única. Diferentes pessoas preocupam-se com diferentes coisas. Todos temos uma história e todos precisamos de significar a nossa história de uma certa maneira. Precisamos de ter um sentido, um norte; sem ele, desorganizamo-nos. Muitos dos sentidos que atribuímos às coisas não nos servem. Portanto, é preciso diminuir o hiato entre o que sentimos e pensamos.

Diz-se muito: "Se eu conseguisse sentir aquilo que penso, aquilo que eu sei..." Mas também: "Se eu conseguisse saber/entender o que sinto."
Isabel Leal: Não é um jogo de palavras. Isto é dito em discurso directo, tem personagens, tem acontecimentos. Dito de outra maneira: são sempre tentativas de crescimento. Perguntaram um dia à Maria Velho da Costa por que é que ela tinha feito psicoterapia: "Para ser mais, para ser melhor." O que todos nós queremos é ser mais e é ser melhor. Mesmo que tenhamos a ideia de que queremos fogões e frigoríficos e computadores e telemóveis. As pessoas que tiveram a sorte de ter tido relações básicas de extrema confiança, em que o abraço sempre lá esteve, provavelmente são as pessoas para quem isto é mais leve.

E esse vínculo é o que facilita a relação com o mundo e os outros?
Isabel Leal: Sim. Não é ingenuidade. É confiança básica. Infelizmente, a maior parte das pessoas não tem isso. No nosso desenvolvimento vamos sempre tentando esse reforço. E nunca nos chega. E isso já endossa para uma zona de inquietação que é constitutiva do ser humano. Para uns é sofrimento e para outros é zona de crescimento.



terça-feira, 15 de março de 2011

O desempenho dos professores

As exigências do ensino sugerem atitudes positivas. Quais as características de personalidade que protegem contra a adversidade e podem contribuir para a eficácia do professor?
O estudo de M. Seligman, publicado em 2009 no The Journal of Positive Psychology sob o título Positive predictors of teacher effectiveness, concluiu que o optimismo, a coragem e a satisfação com a vida, no professor, têm ganhos académicos para os alunos. Ou seja, todos estes três traços positivos, influenciam a eficácia docente. No entanto, a coragem/persistência e a satisfação, permanecem como preditores para um bom desempenho.
Estes resultados sugerem que os traços positivos devem ser considerados na selecção e formação de professores.
Aceda ao estudo aqui.

segunda-feira, 14 de março de 2011

nunca olhar para os velhos

“(a propósito da doença do barão de Tolly) Mathilde não se preocupou com isso. Era coisa decidida, nela, nunca olhar para os velhos e para todos os seres reconhecidos por dizerem coisas tristes.”
O Vermelho e o Negro, Stendhal

A deambular pelo luxo dos salões, envolta em cedas e rendas, Mathilde tem a esperança de escapar ao envelhecimento. É um tema de vida que lhe causa horror. A doença também. O barão de Tolly, por ser velho e doente, não espere por uma visita sua.
Ser velho ou doente, condição natural para quem não nega a perenidade da vida, significa para Mathilde ficar à mercê do desamparo e da dependência.
As pessoas tristes relembram-lhe que tem emoções. Também as rejeita por as julgar fracas. 

O que a mais rica herdeira do bairro não compreende, é que, não são os velhos que ela despreza, mas sim a sua própria condição humana, de um dia ser fraca, necessitar dos outros e sentir o sofrimento. O seu ego grandioso não o permite.
Mathilde é a personagem narcísica do romance.


domingo, 13 de março de 2011

(In) compatibilidades

Jack Vettriano, The Party's Over

“Todos os objectos são passíveis de uma ligação emocional, mas alguns objectos são mais passíveis do que outros.”  
 António Damásio, O Sentimento de Si 

A ligação emocional entre duas pessoas, que quando se dá, não reclama mais nada. O fio espiritual, invisível, que nos liga ao outro e nos coloca em linha com a ordem do mundo, num tempo e lugar que nos pertencem. Sem outro anseio que não seja respeitar a finitude da vida.
Partilha-se o mesmo idioma emocional. É ele que permite a compatibilidade entre as pessoas.
O seu oposto, é a sensação que entendemo-nos, mas algo não funciona. Tem-se a impressão de irrealidade e desorientação: fomos feitos um para o outro e não fomos feitos um para o outro. Pode-se até, não perceber muito bem o que quer de nós.
O que se passa é que racionalmente compreendemo-lo, mas emocionalmente não. O seu mundo interior, as suas vivencias emocionais, nos são estranhos.
As incompatibilidades podem consistir em retirar prazer onde nós sentimos dor. Como por exemplo, na experiência de domínio e de controlo. Pode não ter também prazer no afecto e na ternura.
Na ausência da capacidade de mudança, um irremediável desencontro nos amores infelizes.


sexta-feira, 11 de março de 2011

O Discurso de Rei

George VI na consulta com o Terapeuta da Fala

O filme O Discurso de Rei é baseado na história real de George VI de Inglaterra, que após a morte de seu pai, e da escandalosa abdicação de seu irmão Eduardo VIII, é coroado rei.
Embora retrate uma época histórica, o argumento centra-se na necessidade desta personagem, interpretada por Colin Firth, enfrentar o problema da gaguez, de modo a responder com prontidão às exigências: tornar-se líder e ter voz (discursar em publico).
Antes de ser coroado rei, sua mulher, futura rainha-mãe, encaminha-o para um excêntrico terapeuta da fala (Geoffrey Rush).
A relação foi de inicio, difícil. George VI, Bertie para a família, resiste em se expor “Não estou aqui para falar de assuntos pessoais”, como se fosse vital resolver o seu problema de modo técnico. É a necessidade de controlar as emoções. Tem falta de coragem em tentar saber, como se só de pensar, pudesse passar ao acto ou fragmentar-se. Este medo que tem também uma raiz cultural e histórica, é objecto de uma cena em que resiste a pensar na possibilidade de tomar o lugar do seu irmão. Medo de enfrentar os sentimentos, o confronto com o (possível) rival. Medo de enfrentar a sua realidade interna e o seu lugar no mundo.
Na relação de confiança que acaba por criar com o seu terapeuta, vai encarando os seus demónios: uma infância com uma ama cruel – chega a passar fome ao longo de 3 anos sem que os seus pais se dessem  conta - uns pais ausentes; uma mãe fria e distante. Não foi visto. Não teve voz, é o seu sentimento.
Por fim, é capaz de discursar em público e torna-se um monarca amado pelo seu povo.

É um filme que nos inspira.
Estou certa que, de acordo com Niemiec e Wedding, é um filme que merece a classificação da psicologia positiva, por nos ajudar a encontrar dentro de nós, forças e virtudes, de maneira a superarmos os obstáculos da vida. Só possível, se enfrentarmos a nossa realidade interior. Sem fugas. Como George VI.

Para saber a opinião destes autores sobre este tipo de filmes, veja aqui.

quarta-feira, 9 de março de 2011

George e Martha




“ O ódio é voltado para fora, em lugar do amor, e é utilizado para desviar e encobrir o amor, de tal forma que no final existe em jogo mais ódio e menos amor na vida.” Joan Riviére

…  a absoluta dependência do outro. No final, a perversão, que é uma manifestação da agressividade - Queres? Não tens! 

Cena do filme Quem tem medo de Virgínia Woolf?, com Elizabeth Taylor e Richard Burton

terça-feira, 8 de março de 2011

Pessoas felizes têm mais saúde e vivem mais

Ed Diener da University of Illinois and the Gallup Organization, em conjunto com Micaela Y. Chan, publicou online em Janeiro deste ano, no Applied Psychology: Health and Well-Being, uma resenha  da literatura científica (160 estudos) no âmbito da Ciência da Felicidade, que relaciona o bem-estar subjectivo à saúde e à longevidade. O bem-estar animal é também analisado.


O contributo deste estudo, para além de consistir na mais vasta investigação feita sobre a ligação entre felicidade e saúde, foi sobretudo acrescentar aos conselhos tradicionais para a felicidade, evitar a obesidade, ter uma alimentação saudável, fazer exercício físico, outras duas recomendações vitais: evitar a raiva crónica e a depressão.
A investigação de Ed Diener, aqui.
O artigo sobre o assunto na Ciencedaily, aqui.

domingo, 6 de março de 2011

Allen Gomes

No artigo de Andreia Sanches sobre o casamento e as uniões de facto, publicado no Jornal Publico de ontem, Allen Gomes, psiquiatra e sexólogo, é entrevistado em conjunto com outros especialistas destas matérias. Dessa entrevista retirei a seguinte parte:

Allen Gomes: "As pessoas passam boa parte do seu tempo no trabalho, almoçam com os colegas, sentados, a conversar, algo que se calhar não fazem à noite, quando chegam a casa, com a família. E acabam por criar relações de maior intimidade do que aquelas que têm com o marido ou com a mulher."
Andreia Sanches: Chegam a ser amorosas, estas cumplicidades nas empresas?
Allen Gomes "Há a noção de que, se houver sexo, essa relação estoira, a amizade acaba, por isso protege-se a relação - e protege-se a culpa. Fica esta espécie de amor platónico, nem sei como chamar-lhe."

Na minha opinião, Allen Gomes pode não saber que denominação dar a estas relações, mas explica-as muito bem.
Quem estabelece estas regras ou as aceita, não convive com a outra pessoa na sua totalidade, quer seja, conforme o caso, com a sua mulher ou marido, em casa, ou com a sua colega ou seu colega, no trabalho. O mesmo mecanismo está subjacente nos casos de divórcio em que o casal mantém relações...agora sou eu que não sei como chamar-lhes.
O que se tenta é isolar o amor e todas as emoções positivas de um lado e as agressividades e insatisfações, de outro, de modo a que não interfiram sentimentos negativos com os positivos. Pretende-se salvaguardar assim, a vida e a saúde física e mental nossa, e daqueles a quem dependemos.
É um modo de viver fragmentado, podendo ser gerador de ansiedade. O desafio será, como sempre escrevo, amar uma pessoa real apesar de, por vezes, nos desapontar.

sexta-feira, 4 de março de 2011

...não me ama

Jack Vettriano, Coração Ciumento

É de se notar que a intensidade do ciúme não corresponde em absoluto à intensidade do amor. Aqueles que são mais ciumentos não conseguem amar, mas precisam do sentimento que são amados.”
Otto Fenichel, Teoria Psicanalítica das Neuroses

Acreditamos que os comportamentos de ciúme, são uma prova de amor. A fórmula parece-nos simples. Mas não é.
Quem já viveu histórias de ciúme, duvida destes pensamentos.
O ciumento não tem só medo de perder a parceira, ou o amor desta para um rival. Teme também, comprovar que a razão pela qual não é amado, deve-se ao facto de não merecer amor. E que essa deficiência, seja denunciada pela parceira. Ou seja, que a seus olhos possa ser visto como indigno de ser amado. Estes sentimentos humilham-no, e inferiorizam-no, que em conjunto com a culpa, constituem o sofrimento dilacerante do ciúme. Será tanto mais profundo, quanto mais frágil é a auto-estima e a confiança no valor perante si mesmo. Pelo que, necessita de confirmações sucessivas de que é amado.
Por estas circunstâncias, o ciúme não é a medida para o amor. 



terça-feira, 1 de março de 2011

O desejo

Peter Blake, Interior

“São os neuróticos pessoas que se alienam dos seus impulsos instintivos. Não sabem deles, nem querem os conhecer. Não os sentem em absoluto ou sentem só pequena parte deles; ou experimentam-nos de maneira distorcida.”
Otto Fenichel, Teoria Psicanalítica das Neuroses

Eis a questão: Como lidamos com o desejo instintivo, imoral, que nos atormenta e que poderia romper desgovernado? Vamos lidando o melhor que sabemos e podemos. Mas há quem lide mal com o seu mundo interior de desejos e emoções.
Os actuais terapeutas familiares, entre outros, têm abordagens muito interessantes sobre estas temáticas, mas na obra citada, escrita nos anos 40 do século passado, Otto Fenichel caracteriza dois perfis de pessoas que revelam comportamentos perturbados face às suas emoções, e situa-as em extremos opostos.

Num extremo, teríamos o tipo descrito acima, que evita “consciencializar as suas insuficiências, provocando a si mesmo que são muito eficientes; são naturezas frias, incapazes de simpatia por outros seres humano; fogem das fantasias, que lhes metem medo, para a realidade, realidade morta, inerte, porém."  Nem sabem descrever os seus amigos. "Não entendem o “processo primário” a psicologia das emoções e dos desejos" e fogem das tentações. São do Tipo Frígido.

No outro extremo, está o Tipo Pseudo-Emocional, descrito assim: “É o homem que tem emoções intensas, porém descontroladas; nele as emoções, porque não encontram a saída natural, inundam e sexualizam tudo. As pessoas assim são hiperagitadas, incapazes de colocar seja qual for a distância entre si e os seus sentimentos; vivem no processo primário em demasia para poder reflectir a respeito.”  Segundo o referido autor, as pessoas deste Tipo podem tirar vantagens da sua (pseudo) empatia.