segunda-feira, 28 de maio de 2012

A intuição


Daniel Kahneman de 78 anos, é psicólogo especialista na psicologia do julgamento e da tomada de decisão. Deu uma entrevista ao Spiegel on line com o título Debunking the Myth of Intuition.

Da longa entrevista retirei esta pequena parte que acho muito interessante (pede-se desculpas pela tradução), porque ajuda a perceber, por exemplo, os deslumbramentos sentidos por alguém, ou os sentimentos de antipatia que não conseguimos controlar com recurso à razão.
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Kahneman: Sim. Os psicólogos distinguem entre um "sistema 1" e um "sistema 2", que controlam nossas ações. Sistema 1 representa o que podemos chamar de intuição. Ele incansavelmente nos fornece impressões rápidas, intenções e sentimentos. Sistema 2, por outro lado, representa a razão, autocontrole e inteligência.

Spiegel: Em outras palavras, nossa autoconsciência?

Kahneman: Sim. Sistema 2 é aquele que acredita que ele está tomando as decisões. Mas, na realidade, na maioria das vezes, o Sistema 1 age por conta própria, sem estar ciente disso. É um sistema que decide se você gosta de uma pessoa, que pensamentos ou associações vêm à mente, e que você sente. Tudo isso acontece automaticamente. Você não pode ajudá-lo, e ainda muitas vezes você baseia suas decisões sobre ele.

Spiegel: E o Sistema 1 nunca dorme?

Kahneman: Isso mesmo. Sistema 1 nunca pode ser desligado. Você não pode pará-lo de fazer a sua coisa. Sistema de 2, por outro lado, é lento e só se torna activo, quando necessário. Lento, o pensamento deliberado é trabalho duro. Ele consome recursos químicos no cérebro, e as pessoas geralmente não gostam disso. É acompanhada por excitação física, aumentando a frequência cardíaca e pressão arterial, as glândulas sudoríparas ativadas e pupilas dilatadas.

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A entrevista na íntegra pode ser lida aqui.

domingo, 27 de maio de 2012

Toda a mentira é perversa




Diálogo do filme “A Importância de Ser Ernesto”:
 
Ernesto: "Bom, já que queres saber, Cecily é uma tia minha."
Amigo de Ernesto: "Mas por que te trata a tua tia por “tio”?"

"O emissor da mentira pressupõe e acredita que o recetor é parvo, ingénuo e supinamente crédulo; na dúvida, manipula-o. Engana-se com alguma frequência, mas em regra sabe escolher a vítima.
Pela sedução prévia, encanta o mártir – como a serpente hipnotiza o passarinho. "
António Coimbra de Matos Relação de Qualidade penso em ti Climepsi

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Prever a perda

Gonzalez Palma

“Em Narcisismo de Vida, Narcisismo de Morte, Green (1979) referindo-se aos sujeitos com personalidades narcísicas incapazes de prever uma perda…”.
Manuela Fleming Dor sem Nome – Pensar o Sofrimento Edições Afrontamento

Não posso contar que este texto de Manuela Fleming pareça fascinante para quem o lê, como é para mim. Mas não é desprezível o assunto referente à incapacidade das pessoas que por estarem tão centradas em si próprias, e por não terem incorporado a importância da outra pessoa, não preveem a saída de alguém das suas vidas, seja pelo luto, ou por uma ofensa por elas cometida.
Pela maior ou menor indiferença ao amor, incapacidade de empatia, sentido excessivo que bastam-se a si próprias,  não dão conta do efeito do seu comportamento no outro, e ultrapassam por isso, o limiar do respeito. Quando despertam, é o desalinho dos gestos, muitas vezes, tardios.
Este comportamento também pode revelar-se em outras áreas. Não antever a perda de forças do corpo, ou de outros bens sobre os quais a vida se sustenta, compromete-se a possibilidade de se precaver, proteger e cuidar de si, e por quem seria importante se preocupar.

ENTREVISTA a Américo Baptista

ENTREVISTA

O Professor Américo Baptista fala do seu livro "O Poder das Emoções Positivas", que foi recentemente lançado.
É entrevistado pela melhor apresentadora de televisão, Fátima Lopes. Como sempre, muito bem.

Curriculo do Professor Américo Baptista
Licenciado em Psicologia pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada e Doutorado em Ciências Biomédicas, Especialidade de Psicologia, pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto. Membro fundador da Associação Portuguesa de Terapia de Comportamento, de que foi presidente de 2005 a 2007, da Associação Portuguesa de Psicologia e da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica. Psicoterapeuta Supervisor pela Associação Portuguesa de Terapia do Comportamento. Membro da American Psychological Association (APA) e representante nacional da Stress and Anxiety Research Society (STAR). Premiado em 1992 com o Prémio de Psiquiatria Clínica Elysio de Moura e, em 2000, com o prémio do melhor poster atribuído pela Academia Portuguesa de Psico-oncologia.



domingo, 20 de maio de 2012

Altruísmo


Caravaggio The Seven Acts of Mercy (detalhe)1607

“…é que toda a ação com os outros supõe primeiro uma ação desejada somente para si.”
“…aquele que ama, não começa por amar ocupando-se dos outros, mas sim ao realizar ele próprio a obra para a que se descobriu destinado, numa aparente indiferença  para com aqueles que o rodeiam. Ocupar-se dos outros serve demasiadas vezes para escondermos a nós mesmos que não nos amamos, e que nos recusamos a ocupar o lugar que é nosso; é precisamente nisto que consiste o princípio de todas as manipulações.”

Nicole Jeammet O Ódio Necessário Editorial Estampa



sexta-feira, 18 de maio de 2012

Defesa da saúde mental


Foto de Mathew Spiegelman

Para a defesa da saúde mental é necessário o isolamento e a separação dos agentes patogénicos e para a promoção dessa saúde o convívio e a relação com pessoas saudáveis”.
Coimbra de Matos Mais Saúde Menos Doença Climepsi Editores

Para quem não se permite fechar a porta atrás de si, por acreditar que para se proteger, basta o silêncio, pense outra vez, porque pode estar enganado. 
Seja humilde. Creia que a sua força está em travar as ligações tóxicas, porque a importância das relações com pessoas saudáveis, não pode ser inseparável da própria vida. 

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Percebi que é inútil falar


Nathan Spotts

“Percebi que é inútil falar aos outros sobre coisas que não sabem.”
C. G. Jung Memórias Sonhos e Reflexões Editora Nova Fronteira

Não é por sermos ingénuos que pretendemos convencer o outro de uma ideia que para nós é de relevante significado, mas que para ele, não o tem. No nosso íntimo julgamos que não se trata de uma opinião pessoal. Acreditamos que ela transporta não só o sentido das coisas do mundo, como nos define. Mas o alheamento do outro não consente este ver o mundo de dentro para fora. Por isso insistimos.
Com o tempo, percebemos que mesmo com todas as razões, não merece a pena falar de coisas para as quais os outros ainda não tiveram uma experiencia que os ajudasse a compreender.
Pode ser desconcertante fazer um esforço para retirar o que não é partilhado e consagrar-se ao essencial, mas é bom que seja feito, para bem de todos.

Tipos de perversos morais


Adolphe William Bouguerreau Senhora com luva

“Caracterizam-se pela maldade, pela ausência de sentido moral, pela aptidão pelas relações sociais – que ajuda à manipulação e mesmo à subordinação dos outros -, pela tendência e facilidade em mascarar as suas intenções.
Nas relações sociais do perverso de caráter, a dominação e a influência ocupam um lugar privilegiado. Ele manobra habilmente para submeter o outro a pouco e pouco. Animada pelo ódio, a sua vontade procura apagar aquilo que o outro tem de singular. Cada uma das suas formas e variantes da perversão moral responde a apetites particulares: o escroque procura o despojamento económico do outro; o sádico moral centra a sua ação na crueldade, o masochista moral na submissão; o voyeurista moral deseja provocar a vergonha e o exibicionista moral, o escândalo. Quanto ao perverso-narcísico, ao jogar com a necessidade de afirmação de si, deseja alterar o valor do amor-próprio do outro. Daí que estabelecer relações íntimas com um perverso e ligar-se a ele é pura perda. Quem o faz nunca sai incólume: perde o sorriso, torna-se amargo, sente-se fraco. Aliás, atenção: a perversão moral joga-se muitas vezes na relação, e a vítima pode também ser cúmplice, tirando daí vantagem…apenas durante algum tempo.” 

Alberto Eiguer Pequeno Tratado das Perversões Morais, Climepsi

(porque depois da sedução, vem o desprezo, sem contudo abandonar jamais a sua vitima, acrescento eu, e acrescento também - as vítimas do perverso-narcísico não sentem que a intenção deste fosse simplesmente, alterar o amor-próprio delas, sentem, após compreenderem o que lhes aconteceu e se libertarem do domínio, que a intenção do perverso era sugar o amor-próprio da vítima, tal era a voracidade manifestada).



domingo, 13 de maio de 2012

O verão chegou!

Datado de Agosto de 1965. A praia é Malibu. As pessoas são, as maiores estrelas de Hollywood — Paul Newman, Natalie Wood, Robert Redford, Jane Fonda, Julie Andrews, Christopher Plummer, e Rock Hudson.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Conseguir o perdão pela violência


Artemisia Gentileschi Danae (detalhe)

“…um ato que nega o medo Se fizer uma coisa sexual, tenho de ser punido, mediante o outro, torturo-te até obrigar-te, pela intensidade do teu sofrimento, a perdoar-me, a libertar-me do sentimento de culpa que bloqueia o meu prazer, e deste modo, pelo teu perdão e nele, a dar-me satisfação sexual.
O sádico que se supõe independente trai, desta forma, a sua dependência profunda em relação à vítima. Pela forma, tenta obrigar esta a amá-lo. O amor que busca é primitivo, significando provisão narcísica.
O modelo deste tipo de sadismo é o rei Frederico Guilherme da Prússia, que costumava bater nos súbitos, berrando, Não tens que me temer, tens que me amar”.
Otto Fenichel Teoria Psicanalítica das Neuroses Livraria Atheneu

Podemos transferir esta interpretação para os quadros de violência doméstica - o perdão da vítima é libertador, num ciclo que se perpetua.

terça-feira, 8 de maio de 2012



Uma das minhas séries preferidas - O Mentalista. Esta cena é sobre a vingança.
"I can see you". Genial!

“…a pungente descrição da insaciável busca de vingança após uma ferida narcísica – nesse campo, creio que só é superado por uma única obra: a grande Moby Dick de Melville” 
Heinz Kohut Self e Narcisismo Zahar Editores


domingo, 6 de maio de 2012

Ser tomado de ponta


Jonathan Mak A Matter of Perspective

“Eu, desde que veja um uniforme, perco as estribeiras. Da mesma forma não é raro, numa instituição de cuidados educativa ou judicial, ser tomado de ponta por alguém residente sem motivo. É a função que é atribuída que é o alvo, e não a pessoa em si.”
Patrick Charrier e Astrid Hirschelmann Os Estados-Limite Climepsi

É necessário uma certa dose de concentração, de espera, de despreendimento, para não reagirmos de um modo reativo para alguém que nos trata pelo que possamos representar para ele, ou pela imagem que construiu de nós, e não pelo que somos. Se assim o conseguirmos, comprovamos que estamos a lidar com o alucinado – o outro ao não nos reconhecer nesse momento, atualiza perante nós, velhos ressentimentos de outras relações pessoais, de outros lugares, e de outros tempos.
Embora seja ideia comum que comportamento gera comportamento, estas situações que por vezes acontecem, são independentes da interação gerada, e ajudam a responder à pergunta que fazemos a nós próprios: porque me aconteceu a mim e não a outro? Porque fomos confundidos com uma imagem.
Não, não é uma questão de perspetiva ao lidarmos com o outro, ignorarmos a pessoa em si, e nos relacionarmos com o que ela possa representar para nós, a sua raça, género, profissão e por aí adiante.

Dia da Mãe


Renato Guttuso Nude 1959

“Só dá vida aquele em quem podemos confiar.”
Nicole Jeammet O Ódio Necessário Editorial Estampa



sexta-feira, 4 de maio de 2012

ENTREVISTA a Helena Marujo #2

Entrevista de Inês Menezes a Helena Marujo, doutorada em Psicologia na área de Psicoterapia e Aconselhamento Educacional e professora na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa e do Mestrado em Psicologia Escolar da Universidade do Minho. Esta entrevista foi publicada no Suplemento X do Publico  a 10 de Fevereiro de 2007. Apresenta-se a 2ª e ultima parte. A 1ª parte já se encontra publicada, na Etiqueta Entrevistas.


Poderá ser uma espécie de herança cultural que passou a fazer parte do nosso código genético?
H. M: Sim, por um lado faz parte da espécie humana e da luta pela sobrevivência, embora com especificidades e diferenças entre culturas. Nalguns países, como por exemplo Portugal, desenvolveu-se uma grande sensibilidade para o que é negativo. Nestes, os níveis de felicidade das pessoas são, do ponto de vista social, baixos. (Ao contrário dos países da América Latina, onde a tendência é para haver níveis de felicidade mais elevados.)

Talvez seja esse o motivo pelo qual se dá cada vez mais atenção à construção da felicidade?
H.M: Sabemos hoje que existem fatores importantes no aumento dos níveis de felicidade, e que esses fatores têm a ver com algumas ações que estão sob o nosso controlo. Ou seja, muitas pessoas com experiências de vida dolorosíssimas são capazes de manter os seus níveis de felicidade elevados e até de utilizar essas experiências (muitas vezes demasiado difíceis) para se transformarem positivamente.

O que podemos então controlar?
H.M: Sabemos hoje o poder que têm, em termos cognitivos, as emoções positivas. Há, neste momento, programas de intervenção em vários países com o intuito de ensinar as pessoas, em várias etapas da sua vida, a serem capazes de fazer uma reestruturação cognitiva dos seus pensamentos, usando-os de forma mais saudável, de forma a atingir um maior equilíbrio emocional. Para além disso, estudiosos do assunto chegaram à conclusão que, quando vivemos emoções positivas, seja através do riso, quando vemos um filme que nos impressiona e agrada ou durante uma conversa muito estimulante, aumentamos a nossa capacidade de resistência ao stress e, consequentemente, a capacidade de resolução de problemas.

Como podemos transformar as emoções negativas em acontecimentos positivos?
H.M: Alguns autores dizem que uma das abordagens importantes para conseguir essa mudança e essa capacidade de resiliência e resistência ao pior da vida, se processa através das nossas cognições e da gestão das nossas próprias emoções.

E todos possuímos essa capacidade?
H.M: Este tipo de competências treina-se. Para além da propensão genética e das experiências de vida, temos sempre capacidade de refletir e descobrir o que é melhor para nós, potenciando o nosso lado mais saudável. As pessoas com tendência para a depressão não são capazes deste tipo de atitude, pois centram-se no negativo da vida. É necessário saber distinguir e ter plena consciência de quais são os pensamentos, as emoções e os comportamentos que nos fazem bem e mal para, depois, escolher.

Algumas pessoas parecem não ser capazes de escolher o lado mais saudável?
H.M: Podem não ter capacidade ou, do ponto de vista relacional, aperceberem-se que esse estado de incapacidade, de vitimização ou doença, tem mais ganhos do que se derem a volta à vida. Para dar um exemplo, pensemos nas famílias pobres. Se estas forem muito resilientes perante os técnicos, têm menos hipóteses de conseguir apoios. Há um jogo, por vezes muito complexo e paradoxal, em que as pessoas escolhem, nalgumas situações e de forma inconsciente, o papel de vitimização ou doença como forma de se relacionarem com o mundo, pois dessa forma têm mais ganhos do que mostrando-se fortes. Muitas vezes tornam-se protegidas pelos outros, ou captam mais a sua atenção.

Temos sempre duas opções: lutar ou desistir?
H. M: É verdade, embora a nossa capacidade de escolha esteja sempre ligada ao meio que nos rodeia. Mas há, de facto, pessoas que escolhem a infelicidade, pois estão constantemente com um discurso dramático de vitimização, e absorvem dos meios de comunicação o negativismo da vida em geral. Mas, insisto, para haver esta escolha, alguma coisa no percurso de vida da pessoa a fez sentir que há menos ganhos com a felicidade.

O que é um processo aparentemente doentio...
H.M: Se pensarmos em termos de Curva de Galles temos as pessoas que estão em florescimento (palavra que se usa atualmente para designar saúde mental positiva), que apreciam a vida, que estão envolvidas em projetos que lhes fazem sentido, que sabem por que estão na vida e o que dela querem e, no outro extremo, temos as doenças mentais. Mas, no meio disso, existem vidas vazias, estagnadas e sem qualquer sentido. As pessoas, na sua maioria, encontram-se entre o extremo de sentirem que a vida é uma maravilha, que são muitos felizes, que adoram tudo à sua volta e a vida com pouco sentido. As pessoas que escolhem a infelicidade ou estão perto da doença mental ou caminham para lá. É cada vez mais importante estar atento aos jovens, pois alguns estudos demonstram que muitos sentem a sua vida sem sentido, vazia. E, quando isso acontece, o mais provável é tentarem enchê-la com consumos, comportamentos de risco, etc.

E podemos mudar essa perceção de vida sem sentido?
H. M: Uma das abordagens que parece aumentar os níveis de felicidade das pessoas está ligada à consciência profunda das escolhas de cada um, de tudo o que se passa dentro e fora de si. Algumas das propostas que existem nos programas de aumento de felicidade visam treinar as pessoas a estarem mais atentas tanto ao seu interior como ao que se passa fora de si, aumentando o nível de consciência da vivência do momento presente e introduzindo estratégias pontuais que mostraram aumentar o nível de emocionalidade ou felicidade.

Que estratégias são essas?
H.M: Algumas já foram testadas e aumentam, de facto, os níveis de felicidade. O exercício mais conhecido, conhecido como o das três bênçãos, consiste no seguinte: inventariar diariamente três coisas que me fizeram feliz naquele dia; perceber qual o meu contributo para que essas coisas acontecessem (é muito importante introduzir o elemento de controlo sobre o destino - este é, alias, um elemento presente na vida de muitas das pessoas mais felizes, pois sentem que têm as rédeas da sua vida); e fazer um treino imagético de antecipação do que penso que me poderá acontecer de positivo no dia seguinte.

O que implica mudar o discurso e o olhar sobre a realidade de uma forma quase radical?
H.M: Este exercício, testado por Martin Seligman em milhares de pessoas durante os últimos três ou quatro anos, tem demonstrado um efeito extraordinariamente benéfico, aumentando de forma muito rápida os níveis de felicidade, pois ensina as pessoas a reconhecerem que há coisas boas na sua vida.

As pessoas negativas ou deprimidas são capazes de o fazer?
H.M: Algumas sim, outras precisam de ajuda técnica especializada. O mais importante é que as pessoas percebam que podem, a qualquer momento, escolher o destino da sua vida. Claro que se pode estar numa situação, do ponto de vista emocional, tão deteriorada que nem se consegue sentir que existe escolha e que é possível encarar a realidade de outra forma, e actuar de forma diferente.

Independentemente das circunstâncias em que vivemos, podemos sempre transformar a nossa vida, mesmo que nada à volta favoreça?
H.M: Exatamente. Se formos cada vez mais capazes de pensar sobre aquilo que nos faz sentir bem, teremos mais hipóteses de aumentar a nossa flexibilidade cognitiva intelectual, tornando-nos mais capazes de visualizar a resolução de determinados problemas. É um jogo permanente. Quem está do lado negativo da vida, promove um ciclo vicioso, em que nada de bom acontece.

Urge, então, o recurso à terapia?
H.M: Estas intervenções visam promover ciclos viciosos. Como saio então das situações de vida dolorosa? Reconhecendo, em primeiro lugar, que o sofrimento é democrático e que o grau de sofrimento experimentado individualmente é, muitas vezes, independente das experiências e circunstâncias de vida. Toda a gente vive dor e sofrimento, perda e frustração.

Em termos de felicidade, os acontecimentos continuam a ter menos importância do que a atitude?
H. M: Inevitavelmente. Está provado que o lado material, por exemplo, não é assim tão importante como julgamos, em termos de bem-estar e felicidade. Depois de garantido o acesso mínimo a bens materiais, em termos de alimentação, casa, emprego, educação e saúde, deixa de haver relação direta entre o aumento dos níveis de felicidade e o aumento de bens materiais.

Porque se mantém então a ilusão entre consumo e felicidade?
H. M: Vivemos numa sociedade de consumo, onde somos permanentemente convencidos de que seremos mais felizes se consumirmos mais. Curiosamente, quando lhes perguntamos o que as faz felizes, as pessoas raramente referem o consumo. Estarmos envolvidos numa atividade, exercitando ao máximo as nossas competências, com a máxima motivação, envolvimento e prazer, parece ser um dos ingredientes da felicidade. Infelizmente, existe ainda um enorme paradoxo entre aquilo que faz as pessoas felizes e as suas opções de vida. É necessário mudar este cenário. Precisamos de ajudar as pessoas a perceberem que têm de estar mais atentas e mais capacitadas para a descoberta do que as faz felizes (e esta é uma escolha individual), aumentando depois as hipóteses dessas coisas acontecerem nas suas vidas.

FIM





quinta-feira, 3 de maio de 2012

Não querendo turvar a sua imagem


Josef Fischnaller Venus

"A imagem no espelho parece mesmo mais importante do que a maneira como o individuo se considera. Narciso reconhece-se numa nascente de água pura, que foi procurar para acalmar a sua sede. Ora, o amor por si, que faz nascer esse instante de autocontemplação, condu-lo à inanição. Não querendo turvar a sua imagem, não consegue decidir-se a beber daquela água."
Albert Eiguer Pequeno Tratado das Perversões Morais Climepsi

Acho bem conseguida a metáfora: Narciso por não querer turvar a água - alterar a pureza da sua imagem - deixa-se morrer. O parecer é mais importante que o ser. Mas seria um outro e a vida, que o faria sentir a realidade, e a suas próprias possibilidades. 
Este isolamento progressivo, este evitar pôr-se à prova, seria uma defesa contra uma dor sem nome que não permite tomar consciência das suas forças e das suas insuficiências. E o assombro por tudo, e apesar de tudo.