Pretendo deixar-vos algumas considerações sobre as relações íntimas, em que um elemento do casal ou os dois, apresentam um Transtorno Narcisista de Personalidade (TNP).
Outra ideia a salientar é que a dinâmica da relação irá depender da gravidade da perturbação.
Na fase de enamoramento ou da paixão, os indivíduos com esta perturbação não costumam demonstrar as características narcísicas. Pelo contrário, manifestam atitudes que fazem o outro acreditar que é interessante e mais do que isso, especial. Os sinais de alarme podem ser inexistentes. Muito mais tarde, após muitos meses, um ano ou dois, começam a surgir as dificuldades na relação. Pode-se ser até surpreendido com o primeiro ataque de fúria, exagerada, face ao que a despoletou.
A falta de empatia para com as necessidades e interesses do outro, e sobretudo, a necessidade de salvar a face (o seu narcisismo) em detrimento de um encontro amoroso e protector, evidenciam-se.
A falta de empatia para com as necessidades e interesses do outro, e sobretudo, a necessidade de salvar a face (o seu narcisismo) em detrimento de um encontro amoroso e protector, evidenciam-se.
Mas estas dinâmicas não são fáceis de interpretar, porque o indivíduo com este transtorno, pode alternar comportamentos de prepotência e arrogância com desprezo pelos sentimentos do outro, até ao absoluto sentimento de dependência e necessidade de amparo. Esta necessidade, que não é assumida, pode manifestar-se de modo pouco evidente, misturada com agressividade, sem que se perceba qual a queixa.
Porém, o que parece ser a vontade de ser apoiado ou ter companhia, não invalida que o outro não seja maltratado, por vezes, com prazer. Maltratado de diversos modos, por não ser levado em conta, por não ser valorizado pela pessoa que é... A inveja, outra das características da perturbação narcísica desempenha também um papel na dinâmica da relação. O controle e o domínio, também.
Muitos casamentos terminam no inicio das dificuldades. Nos que se mantêm, qual o perfil da mulher ou do marido que suporta este tipo de relação?
Concordo em absoluto com o psicanalista Mário Quilici, num texto que deu o título a este post, que considera que quando o marido sofre de TNP (Transtorno Narcisista de Personalidade), é frequente o caso da mulher sofrer de Transtorno de Personalidade Dependente (TPD), e vice versa. Estas personalidades são descritas por este autor nos seguintes termos: “Elas (TPD) são carentes, precisam de muita ajuda e são submissas. Elas têm muito medo do abandono e, assim, agarram-se ao parceiro tenazmente. Seu comportamento geralmente é imaturo mas isso as ajuda a manter o relacionamento com os seus parceiros ou esposos de quem dependem. Não importa qual o tipo de abuso que os seus parceiros possam infringir, ainda assim, elas permanecem no relacionamento.” Retiram, naturalmente, gratificações pessoais desta condição.
Atrevo-me a dizer: os dois vivem um "delírio" - a negação da necessidade de amar e ser amado.
Atrevo-me a dizer: os dois vivem um "delírio" - a negação da necessidade de amar e ser amado.