terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

O narcisista e os seus parceiros #1

Pretendo deixar-vos algumas considerações sobre as relações íntimas, em que um elemento do casal ou os dois, apresentam um Transtorno Narcisista de Personalidade (TNP).
Outra ideia a salientar é que a dinâmica da relação irá depender da gravidade da perturbação.

Na fase de enamoramento ou da paixão, os indivíduos com esta perturbação não costumam demonstrar as características narcísicas. Pelo contrário, manifestam atitudes que fazem o outro acreditar que é interessante e mais do que isso, especial. Os sinais de alarme podem ser inexistentes. Muito mais tarde, após muitos meses, um ano ou dois, começam a surgir as dificuldades na relação. Pode-se ser até surpreendido com o primeiro ataque de fúria, exagerada, face ao que a despoletou.
A falta de empatia para com as necessidades e interesses do outro, e sobretudo, a necessidade de salvar a face (o seu narcisismo) em detrimento de um encontro amoroso e protector, evidenciam-se.

Mas estas dinâmicas não são fáceis de interpretar, porque o indivíduo com este transtorno, pode alternar comportamentos de prepotência e arrogância com desprezo pelos sentimentos do outro, até ao absoluto sentimento de dependência e necessidade de amparo. Esta necessidade, que não é assumida, pode manifestar-se de modo pouco evidente, misturada com agressividade, sem que se perceba qual a queixa.
Porém, o que parece ser a vontade de ser apoiado ou ter companhia, não invalida que o outro não seja maltratado, por vezes, com prazer. Maltratado de diversos modos, por não ser levado em conta, por não ser valorizado pela pessoa que é... A inveja, outra das características da perturbação narcísica desempenha também um papel na dinâmica da relação. O controle e o domínio, também.

Muitos casamentos terminam no inicio das dificuldades. Nos que se mantêm, qual o perfil da mulher ou do marido que suporta este tipo de relação?
Concordo em absoluto com o psicanalista Mário Quilici, num texto que deu o título a este post, que considera que quando o marido sofre de TNP (Transtorno Narcisista de Personalidade), é frequente o caso da mulher sofrer de Transtorno de Personalidade Dependente (TPD), e vice versa. Estas personalidades são descritas por este autor nos seguintes termos: “Elas (TPD) são carentes, precisam de muita ajuda e são submissas. Elas têm muito medo do abandono e, assim, agarram-se ao parceiro tenazmente. Seu comportamento geralmente é imaturo mas isso as ajuda a manter o relacionamento com os seus parceiros ou esposos de quem dependem. Não importa qual o tipo de abuso que os seus parceiros possam infringir, ainda assim, elas permanecem no relacionamento.” Retiram, naturalmente, gratificações pessoais desta condição.
Atrevo-me a dizer: os dois vivem um "delírio" -  a negação da  necessidade de amar e ser amado.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

O estilo relacional e de comunicação dos obsessivos

Vincenzo Vela

“Como se sabe, a neurose obsessiva, com seus escrúpulos e obsessões de cunho cerimonial, não tem só a aparência de um problema moral; interiormente é cheia de desumanidade, criminalidade e maldade implacável, contra cuja integração a personalidade resiste desesperadamente; de resto esta ultima pode ser bem suave e organizada. O motivo pelo qual tantos atos devem ser realizados de um modo cerimonial e “correto” é a suposição que representam o contrapeso diante do mal que ameaça por dentro. “

Jung Estudos sobre a psicologia analítica

A parcimónia e todas as atitudes cerimoniosas da neurose obsessiva não são só manifestações de hipermoralidade, são também um trabalho defensivo (formação reativa), a fim de transformar no seu contrário, comportamentos e sentimentos sádicos e cruéis, dirigidos a si próprio, ao ambiente e ao outro.
Contudo, a consciência da realidade mantêm-se, a par de um eu dividido com uma outra parcela relacional e lógica (bem suave e organizada), o que acarreta sofrimento e culpabilidade para o próprio, por terem noção do quanto o seu comportamento é inadequado e não conseguirem controlá-lo.
Mas, o que me interessa aqui é apresentar um breve apontamento sobre o estilo de comunicação dos obsessivos - o estilo relacional é de cariz sadomasoquista, ambivalente. 
De acordo com Boris Cyrulnik, em O nascimento do sentido, falam com abundância (hiperinvestimento do pensamento em detrimento do agir), e ao ouvi-los, vamo-nos apercebendo que fazem rodeios e não conseguem dizer o que está em causa. Mantêm um olhar fixo em nós, sem manifestação das pequenas expressões que nos fazem confiar que nos levam em conta. Se param para respirar, e aproveitamos para os levar a se focarem no cerne da questão e no nosso ponto de vista, sobem o tom de voz para o impedir - controlo tirânico e ditatorial, rígido e inflexível, que pode levar à agressividade verbal.
Se temos dificuldade em identificar as características fundamentais da estrutura, pensemos nas atitudes de preocupação excessiva pela organização, perfeccionismo e controle interpessoal, inúteis, que bem dificultam não só a nossa vida privada, mas também, por exemplo, nos balcões de atendimento ao público, nas situações em que as razões apresentadas não são nem auscultadas nem atendidas.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Ternura

Yves Pires

“Os que nunca ultrapassaram a fase captativa e egoísta do amor têm geralmente dificuldade em operar a conversão do desejo em ternura e amizade.”

Pierre Burney O amor

A ternura como expressão superior do amor e da sexualidade. O esvaziar-se no outro, generosa e livremente.