terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

O estilo relacional e de comunicação dos obsessivos

Vincenzo Vela

“Como se sabe, a neurose obsessiva, com seus escrúpulos e obsessões de cunho cerimonial, não tem só a aparência de um problema moral; interiormente é cheia de desumanidade, criminalidade e maldade implacável, contra cuja integração a personalidade resiste desesperadamente; de resto esta ultima pode ser bem suave e organizada. O motivo pelo qual tantos atos devem ser realizados de um modo cerimonial e “correto” é a suposição que representam o contrapeso diante do mal que ameaça por dentro. “

Jung Estudos sobre a psicologia analítica

A parcimónia e todas as atitudes cerimoniosas da neurose obsessiva não são só manifestações de hipermoralidade, são também um trabalho defensivo (formação reativa), a fim de transformar no seu contrário, comportamentos e sentimentos sádicos e cruéis, dirigidos a si próprio, ao ambiente e ao outro.
Contudo, a consciência da realidade mantêm-se, a par de um eu dividido com uma outra parcela relacional e lógica (bem suave e organizada), o que acarreta sofrimento e culpabilidade para o próprio, por terem noção do quanto o seu comportamento é inadequado e não conseguirem controlá-lo.
Mas, o que me interessa aqui é apresentar um breve apontamento sobre o estilo de comunicação dos obsessivos - o estilo relacional é de cariz sadomasoquista, ambivalente. 
De acordo com Boris Cyrulnik, em O nascimento do sentido, falam com abundância (hiperinvestimento do pensamento em detrimento do agir), e ao ouvi-los, vamo-nos apercebendo que fazem rodeios e não conseguem dizer o que está em causa. Mantêm um olhar fixo em nós, sem manifestação das pequenas expressões que nos fazem confiar que nos levam em conta. Se param para respirar, e aproveitamos para os levar a se focarem no cerne da questão e no nosso ponto de vista, sobem o tom de voz para o impedir - controlo tirânico e ditatorial, rígido e inflexível, que pode levar à agressividade verbal.
Se temos dificuldade em identificar as características fundamentais da estrutura, pensemos nas atitudes de preocupação excessiva pela organização, perfeccionismo e controle interpessoal, inúteis, que bem dificultam não só a nossa vida privada, mas também, por exemplo, nos balcões de atendimento ao público, nas situações em que as razões apresentadas não são nem auscultadas nem atendidas.

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