sábado, 31 de maio de 2014

Os chatos

Winogrand foto

“Quando Graham se mostrava enfadonho era agressivo – tratava-se de uma forma de controlar, e de excluir, os outros: uma forma de ser visto, mas de não ver. Servia também, outro objetivo. Especialmente no contexto da sua psicanálise, protegia-o de ter de viver no presente, de ter de reconhecer o que estava a acontecer na sala.”
                                                              Stephen Grosz A vida em exame. Temas e debates
Transferindo para a vida real, motivações semelhantes podem justificar os comportamentos das pessoas a quem chamamos chatas. Mas devo acrescentar que, embora a atribuição desta característica possa ser subjetiva - cada um de nós lá sabe que tipo de pessoas costuma classificar na categoria -, é possível que as pessoas chatas ou enfadonhas apresentem como que uma fachada perante a qual, conscientemente ou não, escondem o que realmente sentem ou experimentam, naquele momento. Por este mecanismo, tornam-se opacas, pretendem dizer apenas aquilo que dizem, e não se importam de ser elas a falar sós ou que o outro fale só. Falta-lhes coragem para um verdadeiro encontro. Num próximo, voltam ao mesmo, num faz de conta a que chamam relação, o que muito aumenta a nossa prudência para com elas e o nosso enfado.
Miguel Esteves Cardoso escreveu na sua cronica de 10. Jan.14: “Hoje estou convencido que os chatos sabem que são chatos e que estão a chatear. E que têm prazer em chatear. É uma espécie de vingança ou de comédia. Para eles não são eles que chateiam: somos nós que pensamos que eles nos chateiam.”

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