domingo, 22 de novembro de 2015

Narciso por Carlos Amaral Dias

“Retomaríamos aqui, ainda que de outra forma, o mito de Narciso. A tragédia que o mito de Narciso descreve não diz respeito apenas à incapacidade de amar, ou ao amor voltado para si mesmo e que exclui o outro, mas também nos remete para a impossibilidade de alguns sujeitos terem uma vida própria, na medida em submergem no desejo ou na dificuldade de quem cuidou deles nos momentos iniciais, É que a mãe de Narciso, por temer que a beleza dele pudesse ofender os deuses ignora e interdita nele o que ele tem de mais particular: a sua beleza. Narciso, por sua vez, submetendo-se ao temor materno, fica cego em relação à sua própria beleza, desconhecendo o que há de mais singular em si próprio”.

Carlos Amaral Dias O obscuro fio do desejo Fim de século

A mãe de Narciso ao não reconhecer e aceitar o que o seu filho tinha de particular - a sua beleza -, e por temor dessa diferença, interpela sobre o futuro, Tirésias, que simboliza a autoridade do perito, o especialista, o poder masculino.
É a metáfora da obsessão pela normalidade, de uma mãe frágil, insegura do seu papel, estendendo estas dificuldades ao filho, que se manifesta, por isso, incapaz de trilhar a sua identidade única e singular.

O meu tributo a Carlos Amaral Dias, com quem se aprende sempre, penetrante, o que só acontece com os grandes autores.

Pintura de Jorge Rodriguez Gerada


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