sábado, 1 de abril de 2017

Entrevista a Erin Marie Saltman

Egon Shiele Double Porttrait of Henriche and Otto Benesh, 1913

Em agosto de 2014, o jornal Publico, no artigo "Jihadistas espalham o terror e fascinam jovens em busca de identidade", citava as declarações de Erin Marie Saltman, especialista em contra-terrorismo no Think tanK Qulliam;  "Há pessoas que precisam ser enquadradas, e por isso são presas vulneráveis destes grupos que prometem que poderão morrer como mártires ou tornar.se uma espécie de super-heróis que salvarão o mundo".
As análises de Erin Marie Saltman, e outras, expressam interpretações que fazem referência à complexidade dos fatores sociais, políticos e culturais dos processos de radicalização, mas parece-me interessante considerar também a ideia de que os jovens radicalizados e alienados poderão estar com dificuldades em criar um conceito integrado de si próprios.
O pressuposto que está na base é que quando não se tem uma identidade definida procura-se um lugar (autoridade, seita, grupo político…) para imprimir um sentido à existência, e não existe melhor modo,  que a entrega a ideologias violentas. E, sem um núcleo de um Eu para voltar, surge à submissão. 
Até à radicalização, julgo que não existe um momento identificável de reconhecimento desse vazio angustiante, mas ele faz-se revelar gradualmente sem que possa causar estranheza, sendo tecnicamente invisível.






2 comentários:

Margot disse...

Curiosamente, ainda ontem ouvi algo semelhante: a necessidade de alguém pertencer a algo maior, de ter uma missão, de ser herói (procura de identificação ao paterno militar e herói de guerra). A sua actividade profissional não preenche e desenvolve grande curiosidade pela guerra colonial e lamenta a sua geração não ter tido oportunidade idêntica.
Não sendo exactamente o mesmo que descreveu, fez-me pensar nesta necessidade de pertencer a algo maior que pode estar acima de outros valores e cujos limites podem ser unicamente a destrutividade (dele e do outro), se a missão "maior" assim o exigir.
Inquietante.

cristina simões disse...

De fato o assunto é muito complexo, cada caso é cada caso, e é com muita humildade que escrevi este apontamento. Até li numa outra entrevista a um especialista, que há pessoas que se radicalizam e têm a maior das intenções de paz. Também li que alguns que se radicalizam, mem partilham ideias políticos.
O estádio superior do amor, digamos assim, seria esse, de pertencer a algo maior, mas com vista ao bem comum.
Fique bem