domingo, 14 de maio de 2017

Compreender não é sentir


René Margritte A Arte da Conversação, 1950

Muito se fala e muito se escreve acerca da empatia, e eu própria me questiono porque também o faço, aqui e agora.
Talvez o faça porque a empatia esteja na base do laço social, da compreensão e compaixão pelo semelhante, que a cultivar, nos enche de esperança de um futuro melhor. Mas talvez o faça, também, por razões egoístas, para evitar cair no erro de julgar que se a minha emoção faz impressão no outro, e se gera a partir daí um contágio emocional, a denominada simpatia, eu fui compreendia, e ele sente o mesmo que eu sinto, como se tivesse vivido ou estivesse a viver a minha situação. Sente empatia por mim. Puro engano.
Em suma, posso iludir-me se julgar que emocionar-se com o meu relato, coloca-o a habitar o meu mundo emocional, ou seja, “É como eu”.
A empatia de acordo com Boris Cyrulnik em, ”Do sexto sentido”, é então uma construção em duas etapas “compreendo o que você sente”, mas que ainda pode dar azo a não tomar o meu lugar, serve de base para uma emoção profunda, a um sentimento “compreendo o que você compreende”, que permite ver o mundo com os meus olhos, o que implica ter sentido essas experiências emocionais no passado, e ficar comigo, por que a empatia também se faz se se ousar deixar correr a alegria da comunhão.
Podemos então admitir que, é a linha da empatia na qual todos nós nos situamos, compreender o outro, que não é uma tarefa fácil, mas possível para os psicopatas, até à emoção profunda, o sentimento, que não está ao alcance destes, porque não tiveram a vivência emocional. 

13 comentários:

Margot disse...

Não é a empatia uma emoção profunda?
E sentirão de facto empatia os psicopatas?
Estava certa de que não...

cristina simões disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
cristina simões disse...

Olá como vai? Faz-me todo o sentido a explicação do autor: a empatia faz-se em 2 etapas, a 1ª é a compreensão do que o outro sente, que considero que pode ser acessível aos psicopatas, e a 2ª etapa "compreendo o que você compreende " acompanhado de uma dimensão importante que é ter sentido essas experiências no passado para puder se identificar com o outro e emocionar-se compassivamente, e reside aqui o problema dos psicopata, não têm essa componente da empatia. Para não falarmos das "diversas empatias" de que fala Paul Bloom que diz que eles sentem o que o outro sente, é isso que os faz ser bons torturadores, mas considero que não têm a 2º componente da empatia e não a ligam com a moral.

Margot disse...

Obrigada pelo esclarecimento. Assim faz-me mais sentido.

cristina simões disse...

Mas para todos nós, estas (e outras) temáticas são e continuarão a ser um desafio. Também acho interessante, Paul Bloom distinguir a empatia da compaixão, assunto que ficará para outros "escritos".

Margot disse...

:-)
Obrigada. É sempre interessante reflectir em conjunto.

cristina simões disse...

Sem dúvida. Este país é muito dado a cada um pensar isolado do outro. Todos perdemos com isto.

rosaleonor disse...

Gostei muito e continua a ser uma referência de excelência...
rleonor

cristina simões disse...

Rosa Leonor, como está? Pode parecer que este blogue está parado, não o está na minha cabeça. Digamos que é um período de reflexão e de maior consciência da complexidade dos temas. Mas foi muito bom saber de si.

rosaleonor disse...

Ando a volta das emoções e dos sentimentos...vim cá em busca...justamente dada a complexidade dos temas e então este...
Os tempos estão cada vez mais caóticos e a humanidade também acaba por reflectir isso...cada vez temos menos certezas.
Já tenho pensado deixar de escrever no Blog mas é uma roda que começou a girar e parece ter vida própria...
Tenho imenso gosto também em saber de si...
rl

cristina simões disse...

A vida é difícil e complexa, por isso escrevo, para entender melhor. Também ando por aqui e por ali a ler "umas coisas", mas há tanta coisa (um universo) em que ainda me interrogo "o que é isto?", sobretudo no que diz respeito ao comportamento do outro. Não tenho pensado deixar de escrever no blog porque é muito importante para manter a minha sanidade. Tenho pensado apagar alguns post e reescrevê-los por que, entretanto, pensei melhor. Estas sensações talvez se aproximem da sua expressão ".. uma roda que gira e parece ter vida própria".
Fique bem

rosaleonor disse...

AS vezes penso acabar com o blog ou mudar o nome...vejo que o facebook e o twiter tiraram pela facilidade de frases simples e fúteis o prazer do texto; as pessoas cada vez leem menos ...há muito tempo que não há comentários em assuntos mais sérios e controversos...
Mas lá vou escrevendo e reescrevendo os textos e curiosamente um dia destes pensei em retirar textos antigos...que agora me parecem tão ingénuos...acabei por não ao fazer. Os tempos são diferentes e em 17 anos tanta coisa mudou! Não diria as essenciais, mas a superficialidade e a banalidade tomaram conta de tudo. Espero que continue...
Escrever salva-nos como diria a Clarice Lispector - vou por a frase correcta no blog para si...
Um abraço forte
rlp

cristina simões disse...

Vou estar atenta ao seu blog. Os tempos são de facto esses.
Fique bem