Devo dizer-vos, que “os americanos” surpreendem-me nas áreas das ciências e filosofia, e certamente, os atentos às tecnologias e às artes, dirão algo semelhante. São várias as publicações cientificas e os recursos on line que me interessam. Lamentavelmente muitos deles de subscrição.
A minha última descoberta foi o Journal of Ethics e Social Philosophy, com alguns artigos de acesso livre. Esta publicação, apresenta-se como um jornal da filosofia moral e política.
No artigo de Olívia Bailey publicado em Fevereiro de 2010,com o título, “What Knowledge is Necessary for Virtue”, a autora analisa de modo crítico, o pensamento de Aristóteles sobre as virtudes. Se bem compreendi, concordo com Olívia Bailey. Aristótoles era muito exigente na atribuição do adjectivo virtuoso, por considerar necessário que o indivíduo, para merecer esse nome, terá de estar na posse de conhecimentos sobre o assunto que defende, além de atitude ajustada. Olívia Bailey considera, que pode-se ser virtuoso, sem se ter conhecimentos científicos ou técnicos, suficientes. Se assim pensarmos, nos programas de educação para a saúde, além de se investir na informação científica e técnica, outras áreas devem ser também desenvolvidas. Essas áreas, são as que estão mais relacionadas com a satisfação com a vida, que são objecto de estudo dos psicólogos ligados à felicidade e ao bem-estar.
Seligman e Peterson são psicólogos e fundadores da Psicologia Positiva. Investigaram quais as virtudes, a que chamaram forças de carácter - As 24 Forças do Carácter (ver no fim do post) - que estão mais relacionadas com a satisfação com a vida. Concluíram dessa investigação, que as forças de carácter que apresentam mais relação, são: A esperança/optimismo (força 22); O entusiasmo/vitalidade (força 9); A gratidão (força 21); O amor e humanismo; A curiosidade (força 2).
O que nos leva a pensar, que podemos ser virtuosos e felizes, se incluirmos nas nossas vidas e nos programas de educação para a saúde, a alegria, o amor e os tradicionais valores humanistas.
Seligman e Peterson no Handbook and Classification, Character Strengths and Virtues (pg. 632), referem:
“A maioria das forças de carácter tem uma forte correlação com a satisfação com a vida, à excepção da sabedoria e do conhecimento. Este achado é interessante, porque as nossas escolas geralmente enfatizam o desenvolvimento destes tipos de forças, e não outras, o que ajuda a explicar porque a escola não é uma via automática para uma vida plena.”
A investigação de
Seligman e
Peterson sobre as forças de carácter, está publicada no
Journal of Social and Clinical Psychology, Vol. 23, No. 5, 2004, pp. 603-619
Se, entretanto desejar poderá avaliar A sua autoavaliação das forças do caráter,
faça o teste, em:
http://susancain.sharedby.co/share/Y2bdf0 ;
As
24 Forças do Carácter
Peterson & Seligman (2004)
I - SABEDORIA E CONHECIMENTO
Força cognitiva que favorece a aquisição e o uso do
conhecimento.
1 - Criatividade: pensar em maneiras novas e
produtivas de fazer as coisas, incluindo as realizações artísticas.
2 - Curiosidade e interesse pelo mundo:
encontrar interesse em qualquer experiência em curso; achar interessante todos
os temas; gostar de indagar.
3 - Gosto pela aprendizagem: dominar novas
capacidades e novas áreas de conhecimento (por si mesmo ou formalmente); ligado
a curiosidade, da qual se distingue no entanto pela tendência para querer adquirir
sistematicamente novos conhecimentos.
4 - Espírito aberto: examinar uma coisa sob
todos os ângulos; não tirar conclusões precipitadas; aceitar mudar a ideia à
luz de novas informações.
5 - Perspectiva: ser capaz de dar conselhos
sensatos aos outros; ter maneiras de encarar o mundo que façam sentido para o
próprio e para os outros.
II
- CORAGEM
Forças
emocionais que envolvem o exercício da vontade para cumprir os objectivos
independentemente dos obstáculos interiores e exteriores.
6 - Integridade/autenticidade/honestidade: apresentar-se de modo verdadeiro; assumir a
responsabilidade pelos sentimentos e acções próprios.
7 – Bravura: Não recuar perante a ameaça, as
dificuldades ou a dor; exprimir o que está certo, ainda que encontre oposição;
agir de acordo com as próprias convicções mesmo que isso seja impopular; inclui
a bravura física mas não se limita a ela.
8 – Persistência: Acabar o que se começou; perseverar
apesar das dificuldades; ter prazer em terminar uma tarefa.
9 – Entusiasmo/vitalidade: Encarar a vida com
excitação e energia; não fazer as coisas pela metade; viver a vida como uma
aventura; sentir-se bem por viver.
III
- AMOR E HUMANISMO
Forças
interpessoais que consistem em “virar-se para os outros” e “ir em socorro”.
10 – Bondade/Generosidade: fazer boas acções em favor
de outrem, ajudar a tomar conta dos outros.
11 – Capacidade de amar e ser amado:
valorizar as relações próximas, em especial as relações recíprocas; estar perto
das pessoas.
12 – Inteligência social: estar consciente das
emoções e motivações dos outros e próprias; saber fazer o que convém em
diferentes situações sociais, saber o que convém às outras pessoas.
IV
- JUSTIÇA
Forças
cívicas que subentendem uma vida em comunidade sã.
13 – Equidade/Igualdade: tratar todas as pessoas de
acordo com a justiça; não se deixar influenciar pelos sentimentos pessoais nas
decisões que envolvem os outros; dar uma oportunidade a toda a gente.
14 – Liderança: encorajar o grupo a
trabalhar; esforçar-se por manter boas relações dentro do grupo; organizar
actividades de grupo.
15 – Colaboração/Cidadania: trabalhar bem como
membro de um grupo; ser leal com o grupo; cumprir a sua parte.
V
– TEMPERANÇA
Forças
que protegem contra excessos.
16 – Perdão: perdoar a quem agiu mal; dar uma
segunda oportunidade; não se vingar.
17 – Modéstia/Humildade: deixar que as realizações
próprias falem por si; não procurar estar no lugar principal; não se considerar
alguém especial.
18 – Prudência/precaução: estar atento às escolhas
próprias; não correr riscos inúteis; não dizer nem fazer coisas que possa vir a
arrepender-se.
19 – Auto – controlo/Auto-regulação: gerir
os sentimentos e as acções próprias; ser disciplinado; controlar os apetites e
as próprias emoções.
VI
– TRANSENDENCIA
Forças
que favorecem uma abertura maior do que a própria pessoa e que a ajudam a
encontrar sentido para a vida.
20 - Apreciar a beleza: reparar na beleza, na
excelência e no desempenho em todos os domínios na vida (arte, ciência, etc.).
21 – Gratidão: estar consciente e
reconhecido pelas coisas boas que acontecem, arranjar tempo para manifestar
agradecimento.
22 – Esperança/optimismo: esperar o melhor para o
futuro e trabalhar para o concretizar; acreditar que um bom futuro é uma coisa
que se pode alcançar.
23 – Humor: gostar de rir e de sorrir aos outros; ver
as coisas pelo lado melhor; dizer piadas.
24 – Espiritualidade/sentido de vida/fé: ter
opiniões coerentes acerca do sentido do universo; saber onde nos situamos num
conjunto mais vasto; ter opiniões sobre o sentido da vida que orientem o
comportamento e favoreçam o bem-estar.