terça-feira, 27 de abril de 2010

O significado da história de Narciso

John William Waterhouse Echo and Narcissus (1903)

A história de Narciso que representa a metáfora do amor narcísico, encontra-se muito divulgada. Poderá consultá-la aqui
Contudo, a “moral da história”, ou o seu significado, nem tanto. Ao ler Jane G. Goldberg em “O lado Escuro do Amor”, compreendi melhor o tipo de amor que Narciso nutria por si mesmo, e a natureza das relações que os narcísicos estabelecem com as outras pessoas.
Esta autora, refere que, na história do mito, Narciso na verdade não está apaixonado pela sua imagem reflectida no lago. Ele está preso, porque não há movimento, de vida animal, ou da imagem nas águas. Está tudo parado. Isto significa que, Narciso ficou tão absorvido pela sua imagem - que habitualmente interpretamos, de amor por si próprio – que suprimiu a sua relação com os outros. Mas não fez, só isto. Narciso ao deixar-se morrer nesta situação, também não velou pelas suas próprias necessidades físicas.
Daí que Jane G. Goldberg, concluí: “ Para se importar tão pouco com as suas próprias necessidades a ponto de se matar, Narciso deveria ter uma grande reserva de auto-desprezo.”

É este o significado oculto da história de Narciso. No narcisismo existe raiva e ódio dirigidos contra o próprio, não sendo por isso correcto, dizer-se que os indivíduos competurbação narcísica amam-se a si próprios. Assim sendo, incorremos numa ilusão de óptica se interpretarmos o orgulho, a futilidade e a ambição características destas personagens, como amor-próprio. 
A origem do seu sofrimento, também não é reconhecida por Narciso, por várias razões, uma delas é a dificuldade em tomar consciência de si.

Em breve falaremos da mãe de Narciso - outra história pouco conhecida.


segunda-feira, 26 de abril de 2010

Por falar em pecados



Que venham mais dias assim, em que basta o sol.

E, para que tenhamos um raiozinho de sol, no coração, vou, a partir de hoje, abrir uma etiqueta Pecados. Não os pecados de que fala Carlos Drummond de Andrade, no poema “Sentimento de Pecado”:

Saio puríssimo para pecar de novo.
Padre Olimpico não se cansa,
Não me canso.

Mas os pecados que cometemos, e deveríamos estar alerta, porque fazem-nos mal à nossa saúde mental.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Compaixão

A Câmara Municipal de Santa Cruz com o Projecto “Avós por afecto” pretende voluntários para fazer companhia a um idoso,  através de um contacto telefónico diário. Leia o  Projecto aqui.
Ajudar os outros, aumenta as suas possibilidades de ser feliz.
Assista à  conferência  de Daniel Goleman o autor de “Inteligência Emocional” sobre  compaixão (sentir com o outro). Seleccione o idioma.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Mudar o outro

“De facto, as pessoas só conseguem mudar se sentirem que gostamos delas e que as aceitamos tal e qual como são. Quando as pessoas se sentem criticadas, quando sentem que não gostam delas, que não existe apreço, ficam incapazes de mudar.”
”…para se protegerem, entrincheiram-se ainda mais nas suas posições.”
“Os 7 Princípios do Casamento” De John Gottman e Nan Silver, Pergaminho

Na tremenda desilusão que o outro não muda, não antevemos que em vez do controlo omnipotente que rompe o laço, deveria estar a aceitação do outro. Exige de nós honestidade, transparência, auto-revelação, incompatíveis com a luta travada para dominar. 

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Vereda - Porto Moniz

Fazíamos o caminho para a piscina (natural), por uma vereda. Havia também a estrada, mas pela vereda eram menos os passos e antecipava-se a emoção. Ficávamos perto da terra e dos seus elementos, e das sombras.
A vereda era de pedra irregular, lascada, ladeada por grandes pedras, e por amparos construídos com urze seca, que serviam de protecção às latadas de vinhas. Hoje, os amparos estão derrubados e as vinhas abandonadas. Depois disso, só a visitei mais uma vez. Não volto. A minha mãe diz que os proprietários dos terrenos são gente imigrada, por isso, não há nada a fazer.


cristina simões: vereda no Porto Moniz,
aguarela

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Ajudar a crescer


“Hoje em dia, sabemos que a chave para instilarmos nas crianças uma imagem de si próprias positiva e competências sociais efectivas é transmitir-lhe precisamente que compreendemos os seus sentimentos. As crianças crescem e mudam favoravelmente quando reconhecemos as emoções delas («Aquele cão assustou-te», «Estás a chorar porque estás triste», «Pareces muito zangado. Vamos falar sobre isso»), em vez de as diminuirmos ou punirmos por causa dos seus sentimentos («É uma patetice ter medo de um cão tão pequenino», «Os meninos crescidos não choram», « Cá em casa não há touros enraivecidos. Vá imediatamente para o seu quarto até acalmar»). Quando se transmite a uma criança que ela pode ter os seus sentimentos, ao mesmo tempo está a transmitir que ela própria é aceitável, mesmo quando está triste, resmungona ou assustada. Isto faz com que a criança se sinta bem consigo própria, o que possibilita o crescimento e a mudança positiva.”
Os 7 Princípios do Casamento, John Gottman e Nan Silver, Pergaminho

...e as emoções negativas, de tristeza, medo,…não se acumulam no seu interior, aumentando o seu potencial destruidor, em depressão, ansiedade, ataques de fúria…

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Ser feliz e virtuoso

Devo dizer-vos, que “os americanos” surpreendem-me nas áreas das ciências e filosofia, e certamente, os atentos às tecnologias e às artes, dirão algo semelhante. São várias as publicações cientificas e os recursos on line que me interessam. Lamentavelmente muitos deles de subscrição.
A minha última descoberta foi o Journal of Ethics e Social Philosophy, com alguns artigos de acesso livre. Esta publicação, apresenta-se como um jornal da filosofia moral e política.
No artigo de Olívia Bailey publicado em Fevereiro de 2010,com o título, “What Knowledge is Necessary for Virtue”, a autora analisa de modo crítico, o pensamento de Aristóteles sobre as virtudes. Se bem compreendi, concordo com Olívia Bailey.  Aristótoles era muito exigente na atribuição do adjectivo virtuoso, por considerar necessário que o indivíduo, para merecer esse nome, terá  de estar na posse de conhecimentos sobre o assunto que defende, além   de atitude ajustada. Olívia Bailey considera, que pode-se ser virtuoso, sem se ter conhecimentos científicos ou técnicos, suficientes. Se assim pensarmos, nos programas de educação para a saúde, além de se investir na informação científica e técnica, outras áreas devem ser também desenvolvidas. Essas áreas, são as que estão mais relacionadas com a satisfação com a vida, que são objecto de estudo dos psicólogos ligados à felicidade e ao bem-estar.
Seligman e Peterson são psicólogos e fundadores da Psicologia Positiva. Investigaram quais as virtudes, a que chamaram forças de carácter - As 24 Forças do Carácter  (ver no fim do post) - que estão mais relacionadas com a satisfação com a vida. Concluíram dessa investigação, que as forças de carácter que apresentam mais relação, são: A esperança/optimismo (força 22); O entusiasmo/vitalidade (força 9); A gratidão (força 21); O amor e humanismo; A curiosidade (força 2).
O que nos leva a pensar, que podemos ser virtuosos e felizes, se incluirmos nas nossas vidas e nos programas de educação para a saúde, a alegria, o amor e os tradicionais valores humanistas.
Seligman e Peterson no Handbook and Classification, Character Strengths and Virtues (pg. 632), referem:
“A maioria das forças de carácter tem uma forte correlação com a satisfação com a vida, à excepção da sabedoria e do conhecimento. Este achado é interessante, porque as nossas escolas geralmente enfatizam o desenvolvimento destes tipos de forças, e não outras, o que ajuda a explicar porque a escola não é uma via automática para uma vida plena.”
A investigação de Seligman e Peterson sobre as forças de carácter, está publicada no Journal of Social and Clinical Psychology, Vol. 23, No. 5, 2004, pp. 603-619
Se, entretanto desejar poderá avaliar A sua autoavaliação das forças do caráter, faça o teste, em:   http://susancain.sharedby.co/share/Y2bdf0 ;



As 24 Forças do Carácter

Peterson & Seligman (2004)

 I - SABEDORIA E CONHECIMENTO
Força cognitiva que favorece a aquisição e o uso do conhecimento.
1 - Criatividade: pensar em maneiras novas e produtivas de fazer as coisas, incluindo as realizações artísticas.
2 - Curiosidade e interesse pelo mundo: encontrar interesse em qualquer experiência em curso; achar interessante todos os temas; gostar de indagar.
3 - Gosto pela aprendizagem: dominar novas capacidades e novas áreas de conhecimento (por si mesmo ou formalmente); ligado a curiosidade, da qual se distingue no entanto pela tendência para querer adquirir sistematicamente novos conhecimentos.
4 - Espírito aberto: examinar uma coisa sob todos os ângulos; não tirar conclusões precipitadas; aceitar mudar a ideia à luz de novas informações.
5 - Perspectiva: ser capaz de dar conselhos sensatos aos outros; ter maneiras de encarar o mundo que façam sentido para o próprio e para os outros.

II - CORAGEM
Forças emocionais que envolvem o exercício da vontade para cumprir os objectivos independentemente dos obstáculos interiores e exteriores.
6 - Integridade/autenticidade/honestidade: apresentar-se de modo verdadeiro; assumir a responsabilidade pelos sentimentos e acções próprios.
7 – Bravura: Não recuar perante a ameaça, as dificuldades ou a dor; exprimir o que está certo, ainda que encontre oposição; agir de acordo com as próprias convicções mesmo que isso seja impopular; inclui a bravura física mas não se limita a ela.
8 – Persistência: Acabar o que se começou; perseverar apesar das dificuldades; ter prazer em terminar uma tarefa.
9 – Entusiasmo/vitalidade: Encarar a vida com excitação e energia; não fazer as coisas pela metade; viver a vida como uma aventura; sentir-se bem por viver.

III - AMOR E HUMANISMO
Forças interpessoais que consistem em “virar-se para os outros” e “ir em socorro”.
10 – Bondade/Generosidade: fazer boas acções em favor de outrem, ajudar a tomar conta dos outros.
11 – Capacidade de amar e ser amado: valorizar as relações próximas, em especial as relações recíprocas; estar perto das pessoas.
12 – Inteligência social: estar consciente das emoções e motivações dos outros e próprias; saber fazer o que convém em diferentes situações sociais, saber o que convém às outras pessoas.

IV - JUSTIÇA
Forças cívicas que subentendem uma vida em comunidade sã.
13 – Equidade/Igualdade: tratar todas as pessoas de acordo com a justiça; não se deixar influenciar pelos sentimentos pessoais nas decisões que envolvem os outros; dar uma oportunidade a toda a gente.
14 – Liderança: encorajar o grupo a trabalhar; esforçar-se por manter boas relações dentro do grupo; organizar actividades de grupo.
15 – Colaboração/Cidadania: trabalhar bem como membro de um grupo; ser leal com o grupo; cumprir a sua parte.

V – TEMPERANÇA
Forças que protegem contra excessos.
16 – Perdão: perdoar a quem agiu mal; dar uma segunda oportunidade; não se vingar.
17 – Modéstia/Humildade: deixar que as realizações próprias falem por si; não procurar estar no lugar principal; não se considerar alguém especial.
18 – Prudência/precaução: estar atento às escolhas próprias; não correr riscos inúteis; não dizer nem fazer coisas que possa vir a arrepender-se.
19 – Auto – controlo/Auto-regulação: gerir os sentimentos e as acções próprias; ser disciplinado; controlar os apetites e as próprias emoções.
VI – TRANSENDENCIA
Forças que favorecem uma abertura maior do que a própria pessoa e que a ajudam a encontrar sentido para a vida.
20 - Apreciar a beleza: reparar na beleza, na excelência e no desempenho em todos os domínios na vida (arte, ciência, etc.).
21 – Gratidão: estar consciente e reconhecido pelas coisas boas que acontecem, arranjar tempo para manifestar agradecimento.
22 – Esperança/optimismo: esperar o melhor para o futuro e trabalhar para o concretizar; acreditar que um bom futuro é uma coisa que se pode alcançar.
23 – Humor: gostar de rir e de sorrir aos outros; ver as coisas pelo lado melhor; dizer piadas.
24 – Espiritualidade/sentido de vida/fé: ter opiniões coerentes acerca do sentido do universo; saber onde nos situamos num conjunto mais vasto; ter opiniões sobre o sentido da vida que orientem o comportamento e favoreçam o bem-estar.




segunda-feira, 5 de abril de 2010

Tentativa de reparação


“ Quando existe uma amizade forte num casal as pessoas tornam-se naturalmente especialistas no envio um ao outro de tentativas de reparação e na interpretação correcta dos sinais emitidos na sua direcção”.
Os 7 Principios do Casamento, John M. Gottman e Nan Silver, Pergaminho


Tentativa de reparação é definida pelos autores, como qualquer declaração ou qualquer acção que impede que o conflito no casal se agrave a um nível fora de controlo. Acredito, tal como os autores, que são um dos factos principais que ditam o sucesso ou o fracasso do casamento.
Quando as fronteiras entre nós e o outro se esbatem e o que pressentimos da sua humanidade impele-nos para a pacificação, interpretamos como prova de amor. Mas o amor não é um sentimento, é um conjunto de dimensões, um deles a amizade, que não deve ser vista como o que restou dos despojos de um amor.

Foto: cristina simões

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Convento de Santa Clara

Ontem, de manhã, fiz uma visita ao convento de Santa Clara, impulsionada pelo sentimento que era uma tristeza, passar-lhe à porta todos os dias, e ter do interior do convento, uma ténue recordação. Fui só. Sabia que seria também uma maneira de confirmar, se ainda era boa companhia para mim mesma. O sentimento foi libertador, despojado de constrangimentos. Estamos, pela natureza dos ambientes que habitamos, demasiado rodeados de pessoas.
Da visita, registo um património que desconhecia - a existência de pequenas capelas mandadas construir pelas irmãs, conforme o seu santo ou santa de devoção. Até ali, no convento, a identidade se afirma.

Edifício de final do século XV.
Localização: Calçada de Santa Clara nº15 9000-036Funchal
Telefone: 291 742602
Horário: Segunda a Sábado das 10:00 às 12:00 e das 15:00 às 17:00
Preço: 2 € Grupos: 1,5 €

Duas das capelas
Altar (1ª foto) e chão com azulejos  (2ª foto).
Promenores de outra capela mais ricamente ornamentada (3ª foto).











quinta-feira, 1 de abril de 2010

Varandas

“No momento exacto em que o progresso se tornou evidentíssimo, o homem pôde verificar que ele tem uma relação longínqua com a harmonia entre ele e os seus instrumentos de trabalho, os seus gestos e a finalidade deles, os actos dos outros e os seus próprios actos.”
Eduardo Lourenço, Heterodoxia II, Edições Gradiva

Para que permaneçam  - Varandas do Funchal com pormenor do rendilhado em madeira.