domingo, 1 de agosto de 2010

Fernando Pessoa e o seu narcisismo

Almada Negreiros, Retrato de Fernando Pessoa

Não sei se Fernando Pessoa tinha uma grave patologia narcísica, mas tem seguramente características narcísicas.
Joana Amaral Dias na caracterização psicológica e psicopatologica que fez de Fernando Pessoa em Maníacos de Qualidade, retrata -o como maníaco e faz referência ao seu narcisismo. Embora eu tenha gostado do retrato de D. Afonso VI que apresenta nesta obra, acho que Fernando Pessoa merecia uma análise mais profunda.

Deixo aqui como breve apontamento, a minha interpretação pessoal sobre o narcisismo de Fernando Pessoa.

"Corpinho de tentação" te chamei eu; e assim continuarás sendo, mas longe de mim – Fernando Pessoa

Tal como o Narciso exclamou para a ninfa Eco, ao fugir dela “ Preferiria morrer a deixar que me tocasses”, Fernando Pessoa evita estabelecer uma relação de intimidade (também sexual) com Ofélia, embora a deseje. Manifesta assim a ambivalência, quer mas não quer. Na verdade, parece que morreu virgem.
Assim, para se defender perante a ansiedade de uma relação íntima com Ofélia, chega a opor-se ao seu próprio desejo para não satisfazer o desejo dela. Este comportamento, pode ser também visto como uma manifestação de sadismo.


Nunca amei ninguém. O que mais tenho amado são sensações minhas – Fernando Pessoa

Quanto à sensibilidade, quando digo que sempre gostei de ser amado, e nunca de amar, tenho dito tudo – Fernando Pessoa

É a dificuldade em viver relações de reciprocidade. Prefere ser admirado (pela sua obra), a ser amado.

Todo o homem que há sou Eu. Toda a sociedade está dentro de mim. Eu sou os meus melhores amigos e os meus verdadeiros inimigos. O resto – o que está fora – desde as planícies e os montes até às gentes (…) – tudo isso não é senão Paisagem - Fernando Pessoa

É preciso que todos os que lidam comigo se convençam de que sou assim, e que exigir-me sentimentos, aliás muito dignos, de um homem vulgar e banal, é como exigir-me que tenha olhos azuis e cabelos louros - Fernando Pessoa

Nestas duas mensagens, revela uma fantasia grandiosa. Esta omnipotência, que é uma defesa contra sentimentos e emoções, expressa-se pela negação da dependência dos outros, como se se considerasse auto-suficiente,  e  consequentemente tem por si auto- admiração. Tem horror em ser considerado um homem vulgar.




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