quinta-feira, 29 de julho de 2010

O Prazer a dois

Bouguereau, El asalto

Porque é que umas pessoas sentem prazer na partilha, de emoções, de brincadeiras, do fazer de conta e outras nem tanto? Sentem até desconfiança e medo.

Qual a fonte?

Neste poema de Herberto Helder, a fonte é a mãe de acordo com a minha interpretação.

A Fonte
….
Eu amava-a dolorosamente e tranquilamente.
A lua formava-se
como uma ponta subtil de ferocidade
e a maçã tomava um princípio
de esplendor

Hoje o sexo desenhou-se. O pensamento
perdeu-se e renasceu.
Hoje sei permanentemente que ela
é a fonte.

Herberto Helder

A Mãe é a fonte. A mãe, o pai ou qualquer pessoa que cuide da criança.
O prazer que a criança sente pela partilha, está na mãe tornar-se confiável e previsível, ou seja, que a criança saiba que pode contar com ela. Está no ser capaz de se colocar “na  pele da criança”, o que implica não ter deixado morrer dentro de si a infância que viveu, caso lhe tenham permitido viver a sua natureza.

"E que podemos nós contra o facto de termos tido uma mãe que era ela própria narcísica? Qualquer pedido de dependência a confrontava com aquilo que lhe era maximamente intolerável; ela não podia reagir a tal pedido senão através de um reforço do controlo de todo o espaço, não deixando então, entre nós e ela, qualquer campo aberto para a brincadeira, para o devaneio, as emoções partilhadas, no qual teria sido possível aprender o prazer da mutualidade".
Nicole Jeammet, O ódio necessário, Editorial Estampa

Como tão bem definiu Martha Nussbaum (Filósofa), a importância do jogo:
“Segundo o pediatra e psicanalista britânico Donald. W. Winnicott, o jogo desenrola-se na zona intermédia entre a pessoa e o exterior, aquilo a que se chama ”espaço potencial”. É aí que, primeiro as crianças e depois os adultos, experimentam a ideia da diversidade de uma maneira mais tranquila do que é frequentemente o encontro com o outro. No jogo, a presença do outro torna-se uma fonte de prazer e de curiosidade, e essa curiosidade contribui para o desenvolvimento de atitudes saudáveis em matéria de amizade, de amor…”

Martha Nussbaum (Filósofa)
Jornal The Times Literary Supplement, Londres

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