domingo, 4 de novembro de 2012

Paradoxo do crescer

Jesús F. Contreras Malgré Tout 1898

“O nosso desenvolvimento obedece desde a origem, e não cessa de obedecer a uma lei de diferenciação. E quanto mais aumenta a nossa diferenciação, mais se afirma, podemos dizê-lo, a nossa existência. Mas, também, mais se individualiza e se complica a nossa organização, mais se confirma o seu destino conflitual ao mesmo tempo que se impõe a solidão.”
Christian David O estado amoroso, ensaios psicanalíticos
É a lei da diferenciação pela qual deve reger-se o nosso desenvolvimento, que cria o paradoxo: quanto mais crescemos espiritualmente, quanto mais nos tornarmos nós próprios, mais exigentes ficamos, mais complexos e possivelmente mais sós.
Se julgamos que pagamos um preço por seremos agentes da nossa própria existência, não reconhecermos o que temos de único, de diferente, e não vivermos em função dessa força, terá outro preço. 
Se crescer dá dor, torna-nos contudo, menos vulneráveis aos outros, mais resistentes ao stress, mais flexíveis e mais independentes da emoção.  
Na dúvida, como dizia o professor Carlos  Amaral Dias,  se "Crescer dá dor, não crescer dá dor (do ponto de vista mental)", ainda maior digo eu. Tudo em nós traz esse sabor.

Nota: Diferenciação - noção utilizada por Jung na Psicologia Analítica para designar o processo autónomo e realização espontânea das funções psicológicas no decurso do desenvolvimento e maturidade do homem. Nas suas palavras "Um pensamento não diferenciado é incapaz de se isolar dos outros pensamentos, quer dizer, constitui uma mistura constante de sensações, sentimentos ou intuições. Um sentimento não diferenciado mistura-se, por exemplo, com sensações e fantasias.."

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