Martin Stavars Portrait of a tree
“Para pensarmos, precisamos de isolar, separar, fazer a triagem das nossas experiencias. Precisamos de privilegiar certas facetas, obrigando-nos forçosamente a negligenciar outras.
E no entanto, esse movimento de isolamento, que é um tempo indispensável para a coerência de todo o pensamento, poderá ser uma armadilha tanto mais perigosa quanto mais favorável a lucidez e facultar um seguro conforto intelectual. Famílias de pensamento nascem assim em torno de campos particulares de compreensão, que poderão erigir-se em gueto na medida em que o consenso intelectual no interior dessas famílias vem reforçar então um sentimento de evidência”.
Nicole Jeammet O Ódio Necessário Editorial Estampa
A intenção de abordar este texto não se faria sentir se não estivesse a ler um autor que me vai obrigar a repensar em alguns temas deste blogue. É como diz Gregory Bateson em Metadiálogos: “…para ter pensamentos novos ou para dizer coisas novas, temos de separar todas as ideias já prontas e misturar os pedaços outra vez”.
Seria uma armadilha se permanecesse no conforto das ideias antigas ou se o esforço não permitisse alcançar um conhecimento mais amplo e profundo.
Não é só a nova leitura que me impulsiona a realizar este exercício. São também os modos como as pessoas, incluindo eu própria, analisam as suas experiências de vida e as resistências que colocam em deter-se, de maneira a encontrar o significado que tem para si, tal e tal situação. Requer vontade e humildade em se aceitar.
Mas o coração teme e não nos queremos relembrar. Julgamos que nos retira de um qualquer êxtase, ou porque perdemos o sentido da nossa existência.
Somos também impacientes. Indisciplinados. Mas precisamos para nos clarificarmos, de um tempo para parar e ligar os pensamentos acerca das nossas vivências, às emoções que lhes estão associadas. E de um tempo para viver e se emocionar. E se deixar levar.
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