Lorenzo Bartolini Ninfa dello scorpione 1845 (detalhe)
A síndrome da enfermeira ou
de solicitude compulsiva ou de amar de mais:
“ Um padrão de comportamento
de ligação relacionado com a autoconfiança compulsiva (aguentar firme e fazer
tudo por si mesma) é o de solicitude compulsiva. Uma pessoa que o manifesta
pode envolver-se em relações intimas, mas sempre no papel de dispensar
cuidados, nunca de os receber. Com frequência o individuo escolhido é um aleijado
que poderá, por algum tempo, agradecer os cuidados que lhe dispensam. Mas no
caso da solicitude compulsiva, a pessoa esforça-se também por cuidar de quem
não procura nem agradece tal ajuda. A experiencia típica da infância de tais
pessoas é terem tido uma mãe que, devido à depressão ou algum impedimento, não
pôde cuidar da criança mas, em vez disso, aceitou de bom grado ser cuidada, e
talvez tenha exigido também ajuda para cuidar de irmãos mais novos. Assim,
desde o começo da infância, a pessoa que se desenvolve desse modo descobre que
o único vínculo afetivo de que dispõe é um vínculo em que é sempre ela que deve
ser solicitada para com os outros e que a única atenção que poderá receber é a
atenção que dá a si mesma (as crianças que cresceram em instituições também se
desenvolvem, por vezes, deste modo). Tal como na autoconfiança compulsiva,
também neste caso existe muito anseio latente de amor e solicitude, e muita
raiva latente para com pais por não lhes terem dado amor e atenção; e, uma vez
mais, muita ansiedade e culpa em torno da expressão desses desejos. Winnicott (1965)
descreveu indivíduos desse tipo como tendo desenvolvido um “falso eu”…”
John Bowlby Formação e rompimento dos laços afetivos
Martins Fontes
Um texto clássico para
introduzir um outro, presente na vida de hoje: porque há mulheres que se ligam a
homens fragilizados, danificados, a quem se entregam ao amor e à dor, e vivem em função deles?
Reconhecem
por vezes que estão erradas ou que a dádiva é imerecida, até que uma nova vaga
pulsional as arremessa e as faz juntar as peças todas, sem grandes razões. O
eterno desassossego de subverter os sentimentos, e crer que tudo o que de belo
existe, está no segredo dessa união, inacessível à força de um olhar.
Estão ali, porque não se sentem inteiras por si mesmas? Estão
ali porque precisam participar numa união mais estreita a fim de puderem sentir a
sua própria existência? Estão ali pela “ necessidade de se sentirem mais fortes
e de ser super-heróis que vão salvar o... e de se reforçarem narcisicamente”
(Didier Lauru)? Estão ali, porque essa relação lhes dá uma sensação de superioridade moral?
Continuar a ler o texto Pourquoi elles aiment les hommes qui vont mal
(O mesmo fenómeno pode ser vivido por homens)
(O mesmo fenómeno pode ser vivido por homens)
2 comentários:
Nossa, esse texto foi um tapa na minha cara. Sempre falei brincando que eu tinha síndrome de enfermeira, nem sabia que isso existia mesmo. Resolvi dar um google e acabei aqui. Tenho muito que pensar. Obrigada.
O importante é que seja útil para a ajudar a estar alerta sobre o que se passa com as nossas escolhas, refletir sobre elas, que, por vezes, são repetitivas (sempre o mesmo tipo de pessoas...). Quando isto me acontece, eu também começo a pensar que há aqui uma mensagem a decifrar. Fique bem.
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