quinta-feira, 16 de agosto de 2018

O novo paradigma do sofrimento mental



Michelangelo Merisi da Caravaggio Penitent Magdalene

"Com essa falta de tempo (da falta de tempo na modernidade), você não tem uma construção complexa do espírito. Freud falava muito dos sintomas, das construções patológicas. Hoje as patologias ficaram simplórias e pobres de representação. O pânico, por exemplo. A pessoa acha que está morrendo e não sabe falar disso, não tem discurso. As depressões melancólicas são grandes vazios. A pessoa precisa ter repertório de sofrimento, senão ela fica muda diante dos fatos, paralisada, dá branco. Um analista era visto, no senso comum, como um interpretador. Agora tem de ser um construtor. Somos construtores de sonhos. Com seu paciente, o analista passa a ser um construtor de acervo onírico, construindo uma cultura pessoal. Essa é uma mudança radical de paradigma de sofrimento mental."
Leopold Nosek, psicanalista, um dos maiores especialistas em Freud

Esta é a resposta de Leopold Nosek a Alice Granato, face à pergunta “ Que tipos de problema isso (a falta de tempo na modernidade) pode gerar?”, em entrevista publicada recentemente na Revista Época.
Dou-lhe especial relevância, porque refere-se no meu entender, a um novo fenómeno que se observa, com frequência, no apoio psicológico: as narrativas pessoais dos sujeitos são desprovidas de profundidade emocional. Pouco ou nada é problematizado, sentido.
É como se coisa nenhuma se passasse dentro do individuo, que tivesse significado para ele, nem parece padecer de um vazio que, mesmo angustiante, se declare comovente para quem ouve. Falta-lhe consciência do sentido de existência.

A entrevista na íntegra com o título "As grandes infelicidades não aparecem nas redes sociais e as grandes felicidades também não.": 

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