segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

D. Giovanni

Ana:
”… que não tenhas ilusões, Giovanni. Dentro de dois meses as tuas hesitações serão ainda maiores. E, de repente descobrirás que deixaste de a amar. Não saberás quando foi, mas será assim. E verás que o que sempre te interessa não é o amor conquistado, mas o esforço para o conquistares. Ou melhor: amas o momento em que o amor se inicia, é a infância do amor que tu amas, as hesitações do princípio. Porque não te fazes alpinista?”
Augusto Abelaira, A Cidade das Flores

Giovanni necessita desta entrega aos devaneios da sedução. É como se enganasse a realidade tornando-a em fantasia, ou seja, numa realidade artificial.
As preocupações mundanas, e sobretudo, as necessidades reais do outro, não são para ele. Se assim fossem, teria de reconhecer a pessoa em cada namorada, o que não se passa. Não se importa com quem elas são, ou o que necessitam. Só se importa com a maneira como elas o fazem sentir.
Seria arriscado deixar-se ficar numa relação de intimidade e reciprocidade, inevitavelmente iria ser questionado, pelo que prefere negar a realidade.
Estas excitações também o ajudam a enganar o tédio.
A ser rejeitado, o que parece ser a dor pela falta que ela lhe faz, é na verdade a manifestação da fúria e ressentimento por alguém ter ousado abandoná-lo.
Giovanni que ama de modo sempre esquivo, é na realidade um amor por si mesmo. Um amor narcísico.



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