quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O paradoxo do perdão

O (aparente) paradoxo do perdão:
“O animal homem esquece, mas raramente perdoa. E simplesmente perdoar as ofensas sofridas não é a atitude psicológica mais correcta e saudável. Contudo, o perdão é necessário à saúde mental. Como resolver então este aparente paradoxo. Parece complicado mas não é de todo. Para perdoar é preciso previamente ter acusado. Só depois de acusar, mover o processo de inculpação, é possível o perdão, a amnistia, a clemência.”

Coimbra de Matos, “Mais Amor Menos Doença: a psicossomática revisitada” Climepsi editores

Lembrei-me do tema “perdão”, porque não há Natal sem o gesto redentor para connosco e para com o outro. Diz-se. Com o Natal, também se criam proximidades, nem sempre pacificas, em parte por ressentimentos acumulados e não resolvidos.

Mas qual será a maneira mais saudável de perdoar a quem nos ofendeu, de modo a que possamos seguir em frente? Simplesmente perdoar, pode ser a atitude certa para assuntos menores. Não para o que atinge aquilo que defendemos e que damos tanto valor. As ofensas são muitas das vezes manifestações de desamor, em que o ódio, nas suas diversas manifestações, venceu.

As ofensas sofridas e não superadas, retêm-nos no passado.
Se não reagirmos intempestivamente ao sabor das emoções, damos voltas e voltas, e quando vislumbramos que um espaço aberto se criou, parece-nos que encontramos um modo de resolver connosco a situação. Mas surgem à revelia emoções, que não permitem o sossego: a raiva e a tristeza.

Acusar, far-nos-ia renascer. Restaurar a confiança perdida. Pelo que, é preciso superar o medo de nós próprios e da reacção do outro. São momentos de exposição, em que nos revelamos.
Mas, o que pressentimos da sua humanidade diz-nos que merece a pena.
Devemos encarar esta atitude como o triunfo do amor. Do respeito por nós e pelo outro.

 Aprender a perdoar  e Você deve perdoar? (às vezes é saudável não perdoar, como nos casos de violência doméstica), são dois artigos que podem ajudá-lo a compreender a complexidade do perdão. Mas,  os estudiosos conhecem muito pouco sobre as potenciais implicações negativas de perdão. ou seja, se mais vale perdoar ou não. Na dúvida, talvez seja boa ideia seguir o princípio básico: perdoar não é panaceia, ou seja, remédio para tudo.

* Capela de S. Vicente erguida em 1694

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