domingo, 3 de julho de 2011

As uvas estão verdes

“Alegar que as uvas estão verdes e voltar as costas com desprezo àquilo que realmente admiramos e desejamos não contribui para trazer maior dose de boa vontade ao mundo em geral.”
Melainie Klein e Joan Reviere Amor Ódio e Reparação Imago editores

A expressão “as uvas estão verdes” é inspirada na fábula da Raposa e as Uvas, e sirvo-me dela para ilustrar certos comportamentos presentes no nosso quotidiano que resultam do facto de se sentir culpa, perda ou desejo em relação a alguém amado, ou pelo menos que representa algo de bom, mas com os quais não se consegue lidar.
Na verdade “as uvas são verdes”, é suavizar a situação. Não só se nega a importância (das uvas) dessa relação, a nossa dependência dela, como para além do desdém e da depreciação do outro (as uvas estão verdes), tentamos provar que este não merece a nossa preocupação e interesse, de tal modo que poderemos desencadear outros comportamentos lesivos para essa pessoa.
Ao proteger-se deste modo de sentimentos depressivos (a percepção da própria hostilidade e a culpa dela decorrente), adquire-se então a fantasia que “agora, sou novamente poderoso”.
Este cenário, costuma perturbar a vítima, que ao sofrer dano, dificilmente aceita que possa ser alvo de novos ataques. Não lhe parece justo. Mas, com estes mecanismos, as pessoas ao se envolverem em totais trapalhadas, estão de facto a lidar com o sofrimento.

Palavra-chave: Defesas maníacas (com os três sentimentos: arrogância, desprezo e triunfo sobre o outro)



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