sábado, 25 de fevereiro de 2012

Fez-se luz !

Autor: Aimishboy

“Durante uma noite inteira, tinha aspirado o cheiro íntimo de outra com que o cabelo do marido estava completamente impregnado!
Apetece-lhe, de repente, despedir aquele corpo como se despede uma criada. Apetece-lhe não ser para Tomas senão uma alma e expulsar aquele corpo para bem longe, para ele passar a comportar-se como os outros corpos femininos se comportam com os corpos masculinos! Já que o seu corpo não soube substituir todos os outros corpos para Tomas e perdeu a maior batalha da vida de Tereza, muito bem!, agora pode ir-se embora! “
Milan Kundera A Insustentável Leveza do Ser

Tereza bate com a porta. É um exemplo de momento lâmpada, de fazer-se luz no nosso espírito que estabelece o limite da nossa existência, do suportável. É a fronteira que cria a possibilidade de libertação, e em simultâneo, a possibilidade de alienação se nos deixarmos ficar, ou se mentirmos para nós próprias que a revelação não ocorreu. Tereza decidiu ir-se embora.
Seja qual for o desfecho, neste ou em outros contextos, os momento em que o nosso espírito se ilumina, são relevantes por permitirem atribuir, finalmente, um sentido ao que parecia inconciliável e disperso – o caráter do outro, o significado dos acontecimentos, as nossas necessidades.
Por vezes, os sinais sempre estiveram presentes mas não eram decifrados, porque excediam a nossa capacidade de emocionalmente os aceitarmos e porque precisamos de várias experiências para criarmos associações. É assim feita a nossa natureza. Por estas razões é inútil a autorrecriminação, o julgarmo-nos parvas (o que sugere a foto naif), por não termos reparado antes, dado importância aos sinais.
Despertar para um real onde se pode desvendar, agora, por antecipação, certos comportamentos do outro, concede o ressurgir da esperança e do cuidar de si.

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