domingo, 24 de fevereiro de 2013

Freud e os regionalismos

“…sempre se poderá ligar amorosamente entre si o maior número de homens, com a condição de que sobrem outros nos quais descarregar as pancadas. Em determinada ocasião ocupei-me do fenómeno de que as comunidades vizinhas, e ainda aparentadas são precisamente as que mais lutam e desdenham entre si, como por exemplo, os espanhóis e os portugueses, os alemães do Norte e do Sul, os ingleses e os escoceses, etc. Denominei este fenómeno narcisismo das pequenas diferenças…”

 
Sigmund Freud Psicologia de las massas y analisis del you Obras complexas Bueno Aires: Rued 1953

O modo como o homem lida com as suas tendências agressivas, naturais, que podem ser bem geridas, ou seja, sublimadas em comportamentos de competição e outros, saudáveis, ou então com o recurso a manifestações de violência, manifesta ou oculta.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Em paz com nós mesmos



“Concluindo: um bom relacionamento para com nós mesmos é condição para demostrar amor, tolerância e bom senso para com os outros: esse bom relacionamento para com nós mesmos decorreu em parte, conforme me esforcei por provar, de uma atitude amigável, afetuosa e compreensiva para com outras pessoas, em particular aquelas que no passado significaram muito para nós, e para com quem nosso relacionamento tornou-se parte da nossa mente e personalidade. Se, no mais profundo dos nossos inconscientes nos houvermos tornado capazes de remover até de certo ponto os ressentimentos presentes em nossos sentimentos para com nossos pais, e os tivermos perdoado pelas frustrações que nos vimos obrigados a suportar, então haveremos de nos sentir em paz com nós mesmos e estaremos em condições de amar outras pessoas, no verdadeiro sentido da palavra.” Melanie Klein 
Melanie Klein e Joan Riviere Amor, Ódio e Reparação Editora Imago






sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Transgressões familiares

Morimura Yasumasa Mother (Judith II)
 
 
  
“À partida, a criança só pode reconhecer aquilo que a sua própria mãe reconhece e investe: por exemplo, uma mãe que não faz referência ao seu marido como portador de uma lei, impede o seu filho de fazer esse reconhecimento. E, também aí, não será uma referência manifesta no discurso o que vai contar, mas antes uma referência interiorizada no vivido (a nível afetivo), na qual certas mães desqualificarão totalmente a palavra paterna, transformando-se em cúmplices mudas perante as transgressões desta (organizando, por exemplo, a pretexto de uma excessiva severidade do pai, as “desobediências” do filho). Podemos então imaginar como, a partir de fundamentos de tal modo inconsistentes, será precária a construção do Édipo.
J. Chasseguet – Simirgel, nos trabalhos sobre a perversão, põe em evidência a ideia de que esta é favorecida pelo engano que é mantido pela mãe: o seu filho poderá satisfazê-la e não tem nada a invejar ao seu pai; ele é um objeto erótico adequado, numa cumplicidade contra o pai, cumplicidade essa que os reúne. Iludindo assim a diferença de gerações, essa mãe impede a projeção no futuro de um desejo, por parte do filho, de vir a ser como o pai, dado que já acumula – daí a idealização de pregenitalidade, que, de imediato traz, tanto prazer.
Contudo, não existe somente a posição materna; há também a maneira como o pai, na realidade, se vai situar perante o filho; “
Nicole Jeammet O Ódio Necessário Editorial Estampa

Uma mãe, no caso evocado, por comportamentos manifestos ou encobertos, manipula um filho ao ponto de o tornar seu cúmplice, a fim de desqualificar o pai deste, no seu papel e direitos.
Talvez nem sempre situemos a narrativa num quadro das perversões, mas é disso que se trata, por representar o controlo da criança e a sua alienação, ao pretender fazê-la acreditar num amor que não lhe pertence, que deveria ser o amor ou a estima da mãe pelo pai e vice-versa.
Com o propósito de criar e manter este contrato entre mãe e filho, o jogo de sedução /ameaça não permite reconhecer os interesses e angustias dolorosamente sentidos pela criança.  

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Dia dos Namorados


“Os vínculos afetivos e os estados subjetivos de forte emoção tendem a ocorrer juntos, como sabem todos os romancistas e autores teatrais. Assim, muitas das mais intensas emoções humanas surgem durante a formação, manutenção, rompimento e renovação de vínculos emocionais. Em termos de experiência subjetiva, a formação de um vínculo é descrita como “apaixonar-se”, a manutenção de um vínculo como “amar alguém”, a perda de um parceiro como “sofrer por alguém”. Analogamente, a ameaça de perda gera ansiedade e a perda real causa tristeza; ao passo que ambas as situações podem despertar raiva. Finalmente a manutenção incontestada de um vínculo é experimentada como fonte de segurança, e a renovação de um vínculo como uma fonte de júbilo”.
John Bowlby* Formação e rompimento dos laços afetivos Martins Fontes

A roda da vida
Somos seres complexos, que de tão complexos que às vezes só complicamos – para relembrar o Dia dos Enamorados (gosto mais assim).
*Do Autor da Teoria da Vinculação

Assistir aos vídeos de Sonja Lyubomirsky: I can,  t be happy when I don t have a partner e The Myth of happiness em:


segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

ARTE POÉTICA – Jorge Luís Borges




 vídeo retirado de: http://www.neelscastillon.com/



ARTE POÉTICA – Jorge Luís Borges

Tradução de Rolando Roque da Silva

Mirar o rio, que é de tempo e água,

E recordar que o tempo é outro rio,

Saber que nos perdemos como o rio

E que passam os rostos como a água.

E sentir que a vigília é outro sonho

Que sonha não sonhar, sentir que a morte,

Que a nossa carne teme, é essa morte

De cada noite, que se chama sonho.

E ver no dia ou ver no ano um símbolo

Desses dias do homem, de seus anos,

E converter o ultraje desses anos

Em uma música, um rumor e um símbolo.

E ver na morte o sonho, e ver no ocaso

Um triste ouro, e assim é a poesia,

Que é imortal e pobre. A poesia

Retorna como a aurora e o ocaso.

Às vezes, pelas tardes, uma face

Nos observa do fundo de um espelho;

A arte deve ser como esse espelho

Que nos revela nossa própria face.

Contam que Ulisses, farto de prodígios,

Chorou de amor ao avistar sua Ítaca

Humilde e verde. A arte é essa Ítaca

De um eterno verdor, não de prodígios.

Também é como o rio interminável

Que passa e fica e que é cristal de um mesmo

Heráclito inconstante que é o mesmo

E é outro, como o rio interminável.
 
Poema retirado do blog:
 


 

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Paradoxo da dádiva

Gordon Parks Dinner time at Mr. hercules Brown s Home, Smmerville Maine, 1944 (fotografia)


“ Ou mais precisamente a expetativa que a dádiva de si leve o conjugue a colocar-se por sua vez, numa posição de doador, sendo que a dádiva é feita mais para que o outro dê do que para receber. (Bloch, Buisson, Mermet, 1989). O paradoxo é que esta expetativa não pode ser formulada, sob pena de a economia da dádiva ser desvirtuada. Ela deve idealmente permanecer silenciosa e não representada, como uma imposição que a funda. Se não, transforma-se progressivamente, no seu contrário: o cálculo da dívida.”

 Jean – Claude Kaufmann - O casal e o seu guarda – roupa Editorial Notícias


Um tema central na nossa vida, nos diversos contextos, esperar que o outro se aperceba da nossa dedicação e que tenha a iniciativa de retribuir com a sua parte. O desafio permanece silencioso e muitas das vezes nem temos plena consciência das provas que colocamos, mas mesmo intencionais, não podem ser expressas porque queremos que ele revele a sua natureza vazia de obrigações. Seria reconhecer o nosso ser. Dar-nos razão, e de certa forma, um fio inseparável do próprio amor, nos unir.
Alimentamos sem querer uma esperança, e esticamos o tempo e as ideias, para não chegarmos com uma certa crueldade de espirito, a cobrar todas as dívidas que ficaram por pagar.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Mal-me-quer

Paul Freeman (fotografia)

“O perverso de caráter apresenta como o perverso autêntico uma recusa muito focalizada e muito parcial da realidade, no entanto a sua recusa específica incide não sobre o direito da mulher em ter um sexo autêntico que é mesmo dela, mas sobre o direito dos outros em possuir um narcisismo próprio na medida em que é sentido como um obstáculo à utilização dos outros exclusivamente ao serviço do seu próprio narcisismo”
Jean Bergeret Psicologia Patológica Climepsi
Andreas Goosses que é o porta-voz do “Fórum de homens”, e que trabalha o campo do mundo psicológico masculino há cerca de duas décadas, esteve em Portugal e disse em entrevista para o Jornal Publico: Os homens são sempre vistos como mais fortes mas também são, por vezes, vítimas de violência de outros homens. Não é tão falado, mas existe.” 
Acerca da estratégia demolidora do perverso, compreendemos melhor a suas técnicas, se pensarmos que o verdadeiro alvo a  que apontam é aquilo que mais seguramente atingirá a identidade da vítima, seja ela mulher ou homem, e fazem-no com um prazer disfarçado.
Nesse jogo perverso, joga-se com as expetativas da vítima, cujo escape poderá estar em libertar-se delas, (das suas expetativas), guardar para si as partes que mais aprecia em si própria, deixar de se justificar, e resistir à sedução do perverso.