sexta-feira, 19 de julho de 2013

A comunicação perversa



Embora sempre tenha estado na minha intenção abordar este tema, não o pretendia fazer para já, mas a manchete do Jornal de Notícias da passada 4ª feira, criou um bom pretexto para o compor.
A mensagem ofensiva, que faz referência à recém empossada ministra das finanças, Maria Luís Albuquerque, e à sua participou na 1ª reunião dos ministros das finanças da Zona Euro “Ministra foi mostrar o buraco”, justifica a criação do post e cumpre  com as condições da comunicação perversa.

A COMUNICAÇÃO PERVERSA

Recusa da comunicação direta
Havendo pouca comunicação verbal por parte do perverso, dizer o que realmente pretende dizer, não é sua qualidade; Nada é nomeado, tudo é subentendido, alimentando a confusão; A comunicação faz-se apenas por observações, comentários vagos, abstratos, trocadilhos ou pequenos toques (verbais), desestabilizadores;
Pode ofender o outro com base numa característica que lhe é própria e imutável: porque é mulher, porque é oriunda desta terra ou daquela, porque tem esta ou aquela profissão...
Quanto à recusa do diálogo, esta é uma maneira de dizer que o outro não interessa, até nem existe; Numa fase tardia da relação, na fase de destruição do outro, a comunicação pode ser direta e clara, mantendo-se sempre a intenção de o agredir e humilhar.

Deformar a linguagem
As palavras têm duplo sentido, oculto, e não têm para o perverso qualquer importância. Só a ofensa, interessa. 
Muitas das vezes, de início, utiliza a técnica da sedução, dá a entender à vítima que é compreendida, confortada, e mais tarde, em outra ocasião, desacredita-a e desqualifica-a, pretendendo que ela se responsabilize pela falha apontada pelo perverso.
É habitual as mensagens exprimirem-se com uma tonalidade fria, em contraste com a violência que está escondida.
Com esta manipulação verbal, pretende-se que a vítima não se aperceba do processo perverso em curso.

Mentir
O perverso pode ater-se a pormenores, fingindo não estar a entender o cerne da questão. A verdade ou mentira, pouco interessa para ele, o que importa é defender a sua necessidade. Como se demonstra no seguinte exemplo:
“…”..à sua mulher que o censura por ter ido oito dias para o campo com uma rapariga, o marido responde: “Tu é que és mentirosa, por um lado não eram oito dias mas nove, e por outro, não se trata de uma rapariga, mas sim de uma mulher.”

Manejar o sarcasmo, o escárnio, o desprezo
“... este desprezo e esta zombaria, dirigem-se muito particularmente contra as mulheres. Nos casos dos perversos sexuais, há uma denegação do sexo da mulher. Os perversos narcísicos, esses negam a mulher toda enquanto individuo. Eles têm prazer em todas as pilhérias que põem a mulher a ridículo.
(…)
…para ter a cabeça fora de água , o perverso tem necessidade de afundar o outro. Para tanto, ele procede por pequenos toques desestabilizadores, de preferência em público, a partir de uma coisa anódina, por vezes íntima, descrita com exagero, tomando às vezes um aliado na assembleia.” Na presença da vítima quando esta está só com ele, o perverso pode ofendê-la através de uma mensagem clara, inequívoca, mais tarde, na presença de outras pessoas, diz algo que não é mais do que um modo diferente de dizer o mesmo, mas agora com um duplo sentido, o que permite enviar uma mensagem à vítima e outra às testemunhas, que a interpretam com diferentes significados. 

Usar o paradoxo
“O discurso paradoxal é composto de uma mensagem explícita e de um subentendido, cuja existência o agressor nega.”
“O paradoxo vem, a maior parte das vezes, da falta de correspondência entre as palavras que são ditas e o tom em que essas palavras são proferidas.“ Esta falta de correspondência gera diferentes interpretações por parte das testemunhas que assistiram à situação, o que deixa frequentemente a vítima sem suporte. Consequentemente, se ela desabafa sobre o sucedido é habitualmente não compreendida ou desacreditada. 
“Estas técnicas de destabilização, se elas podem ser utilizadas por toda a gente, são-no de maneira sistemática pelo perverso, sem qualquer compensação ou pretexto.”

Elaborado com base na minha experiência pessoal, claro, e em:
Marie – France Hirigoyen Assédio, Coação e Violência no Quotidiano Pergaminho

2 comentários:

rosaleonor disse...

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obrigada!

rleonor

cristina simões disse...

Olá Rosa Leonor
Ogrigada por ter colocado no seu blogue um post sobre esta capa do Jornal de Notícias.
Grata