Cena do filme Design For
Living 1933
segunda-feira, 29 de dezembro de 2014
segunda-feira, 1 de dezembro de 2014
O Eu e o Outro Eu
Texto sobre as duas dimensões da vida psíquica do homem: a busca do prazer e a luta pela adaptação à realidade, embora esta dicotomia não faça sentido, porque os nossos impulsos, desejos íntimos, não devem ser reprimidos ou sublimados com vista à integração e aceitação social. O desejável, será a sua coexistência harmoniosa em nós, e para o bem de todos. É exemplo modernamente citado, o executivo que dispõe de tempo para uma outra atividade bem distinta.
Para quem não se permite a coabitação dos diferentes territórios da personalidade, a vida pode ser bem infeliz, apesar de produtiva, como foi para Tolstoi:
" (…) minha afirmação é simplesmente de que a presença de desarmonia e conflito entre os dois territórios da personalidade pode não sufocar a produtividade de um indivíduo dotado; que essa desarmonia talvez possa servir de estímulo para respostas criativas - ainda que a disputa entre os dois territórios permaneça sem solução por toda uma (infeliz) vida.
A vida de Tolstoi foi uma luta sem fim entre o Homem Culpado trabalhador que buscava o prazer e o Homem Trágico criativo que buscava a auto-expressão. Finalmente o Homem Tágico predominou durante períodos suficientemente longos para que ele criasse novelas que, como todas as grandes obras de literatura, revitalizam todos aqueles que se deixam atingir por elas. As profundas reverberações dos nossos selves nucleares, à medida que participamos da obra dos grandes romancistas ou dramaturgos, intensificam nossas reacções ao mundo e com isso fazem crescer a nossa autoconsciência. As obras dos grandes romancistas e dramaturgos conferem-nos a capacidade de experimentar mais plenamente nossa existência, de participar mais profundamente do ciclo eterno de vida e morte. Mas também havia outro Tolstoi que pode ser claramente percebido a partir dos dados biográficos e de alguns dos seus escritos (menores). Esse é não somente o Tolstoi jogador, bebedor e galanteador, mas também ao contrário, o homem Tolstoi cheio de aversão às mulheres, carregado de culpas, com a necessidade de expiar, de mortificar a carne. Quando predominava o Tolstoi criador, o imenso talento de escritor era aproveitado na tarefa de lançar um vasto projecto que havia sido elaborado pelo seu vulcânico self criativo. A maior parte do panorama não-moralista do mundo contido em Guerra e Paz é certamente a manifestação máxima do Tolstoi Trágico, profundamente sintonizado com o drama da existência humana, apesar do fato de mesmo essa obra-prima conter algumas passagem e alguns capítulos que são verdadeiros sermões – manifestação do Homem Culpado. “
Heinz Kohut Self e narcisismo Zahar Editores
Imagem retirada da Wikipédia
sábado, 15 de novembro de 2014
Bertrand Russell - Mensagem para o futuro
Bertand Russel dá dois
conselhos para as gerações futuras baseado no que aprendeu.
O
primeiro conselho é sobre aceitar o que os fatos mostram.
O
segundo conselho é sobre a importância do amor acima do ódio.
quinta-feira, 13 de novembro de 2014
"O Estrangeiro" de Albert Camus (3)
“A passagem para O
Estrangeiro, de Camus, em que o protagonista encontra o cerne da identidade apenas
em si próprio (split self), não reconhecendo qualquer sentido de obrigação seja
a quem for, fora dele.”
Orlindo Gouveia Pereira* A
história do sedutor errante Psicologia para todos Climepsi
*Professor Emérito, doutor
em Psicologia
sábado, 1 de novembro de 2014
Quando as coisas são dolorosas...
Pietro Cipriani Vénus (detalhe)
“Quando as coisas são dolorosas, vemo-las no
campo das emoções e não no campo da consciência." João Redondo, psiquiatra, Coordenador da Unidade de Violência Familiar do Serviço de
Psiquiatria do CHUC, em conferência, Estreito de Câmara de Lobos, 2005.
O modo como o outro nos
fez sentir, embate primeiro no campo das emoções. É o cordão que nos liga à
evolução das espécies, ao crepúsculo que nos tornou humanos, à força que não
nos liga à infância, à necessidade de nos fazermos amar.
A dor ou o conforto
põe-nos a nu, e maturidade, diplomas ou capacidade intelectual, pouco servem
perante as dolorosas sensações que chegam. Do profundo poder que
escorre delas, será preciso contar com um longo trabalho do pensamento e da
linguagem, da consciência, para as compreender, aceitar e as tornar suportáveis.
Dão alento aos dias, as
outras, as coisas calorosas que dispensam o raciocínio.
quinta-feira, 2 de outubro de 2014
domingo, 28 de setembro de 2014
quarta-feira, 17 de setembro de 2014
Feitio ou defeito
Ricardo da Cruz Filipe A Onda 1983 CAM
(Importante
saber distinguir) “…estado –
sentimentos transitórios, pensamentos e ações, de traços – características douradoras da personalidade.”
Helena
Marujo Educar para o otimismo
Poderá
parecer ser um assunto muito técnico, só para especialistas, árido, mas encerra um conteúdo interessante.
Para
se tornar mais manejável, comecemos por considerar que as pessoas psicologicamente
saudáveis, podem manifestar uma vez por outra, em determinadas situações, atitudes
que não lhes são habituais. Esses momentos, são estados que envolvem sentimentos
transitórios, pensamentos e ações, e que podem até contribuir para que se apresentem aos olhos dos outros, surpreendentemente interessantes, despertar uma paixão,
como se dessem corpo a desejos de viver que parecem acertados e de
possibilidades ilimitadas.
Com
o conhecimento do outro, poderá acontecer que vamo-nos apercebendo que estes estados não são um detalhe, vêm com um “pacote” - constituem padrões característicos de
percepcionar o mundo, de estabelecer relações com as pessoas e situações. São
traços de personalidade.
Acabamos compreendendo também, que se ligam a outros
traços (ex: a pessoa não é só vaidosa, é também autocentrada…),e que todos eles
a definem. Constituem a sua personalidade que contribui para se tornar uma
pessoa apetecível, ou não.
Podemos também descobrir, que não se trata só de
uma pessoa difícil, mas que possui um distúrbio de personalidade (“Os traços de
personalidade existem num contínuo” John Oldham, sendo o distúrbio o ponto
extremo do contínuo).
Este
exercício é essencial - o conseguir identificar no outro, se a sua atitude é passageira (estado), ou uma característica douradora da sua personalidade
(traço), e até que ponto afeta positivamente ou negativamente a vida e a
relação com as outras pessoas. Como exemplo, nos casos de violência doméstica,
poderá ajudar a clarificar a verdade da mensagem: “O agressor dá a entender que ter sido
violento, não é problema dele (não é traço de personalidade), é porque bebe (estado transitório, fruto do momento, da situação ou...provocado pelo outro).”
Citando, ainda John Oldham , a depressão (estado que acontece em um momento difícil da vida) pode não nos definir, mas a personalidade, define-nos. Ou seja, o estado depressivo, apesar de poder se arrastar por muito tempo, pode ser passageiro, mas traços de personalidade que tiram prazer com o sofrimento, ou que de certa forma, alimentam a depressão, ajudam a que esta se instale.
Citando, ainda John Oldham , a depressão (estado que acontece em um momento difícil da vida) pode não nos definir, mas a personalidade, define-nos. Ou seja, o estado depressivo, apesar de poder se arrastar por muito tempo, pode ser passageiro, mas traços de personalidade que tiram prazer com o sofrimento, ou que de certa forma, alimentam a depressão, ajudam a que esta se instale.
quarta-feira, 3 de setembro de 2014
Os transtornos de personalidade - Flávio Gikovate
O que antes se chamava de personalidade psicopática, agora é chamado de
distúrbio de personalidade do tipo antissocial - o "cluster B" de cor azul, na imagem abaixo colocada.
Canal de Flávio Gikovate no Youtube: https://www.youtube.com/
Em texto:
"Hoje vou falar sobre um tema um pouco mais complexo
que são os distúrbios de personalidade. Estes distúrbios, segundo as classificações
internacionais de doença – a nova tabela americana que se chama DSM5 que é a
ultima classificação de diagnóstico de doenças dos Estados Unidos da América - ,
manteve o mesmo padrão: existem 3 grupos de grandes distúrbios de
personalidade.
Um grupo, que é basicamente o 1º, são os distúrbios na linhagem paranoide, que são pessoas com ideias de perseguição que sempre estão tendo ideias persecutórias em tudo, e são pessoas que não têm nenhuma outra falha a não ser essa, que é de codificar o mundo sempre de um jeito ameaçador, persecutório. São distúrbios que não vamos falar hoje.
O 2º grupo, termina com anti-social - os psicopatas de antigamente. Este é que nós vamos tratar na nossa conversa de hoje.
O 3º grupo envolve aqueles de ansiedade muito forte que têm condutas de evitação - evitar situações. O mais caraterístico deste (3º grupo) grupo, são os transtornos obsessivo-compulsivo, assunto também muito interessante e complexo mas que fica para uma outra vez, para falarmos sobre isso.
Um grupo, que é basicamente o 1º, são os distúrbios na linhagem paranoide, que são pessoas com ideias de perseguição que sempre estão tendo ideias persecutórias em tudo, e são pessoas que não têm nenhuma outra falha a não ser essa, que é de codificar o mundo sempre de um jeito ameaçador, persecutório. São distúrbios que não vamos falar hoje.
O 2º grupo, termina com anti-social - os psicopatas de antigamente. Este é que nós vamos tratar na nossa conversa de hoje.
O 3º grupo envolve aqueles de ansiedade muito forte que têm condutas de evitação - evitar situações. O mais caraterístico deste (3º grupo) grupo, são os transtornos obsessivo-compulsivo, assunto também muito interessante e complexo mas que fica para uma outra vez, para falarmos sobre isso.
Hoje eu queria era, então, tratar deste
2º grupo que são os antigos psicopatas. Este grupo corresponde a um conjunto
de patologias, não é uma só e não sei se a palavra certa é patologia,
algum distúrbio de personalidade, são na verdade alterações de
personalidade e todas elas têm como característica principal (deste 2º grupo): alguma falha na reflexão moral, alguma falha na capacidade de se colocar no
lugar das outras pessoas. Eles são uma sequencia gradual, que vai desde o
egoísmo que as pessoas socialmente consideram aceitável, a pessoas que se
preocupam mais consigo, pouco empáticas em relação ao sofrimento dos outros,
até ao mais grave modelo que seria o anti-social.
Isto é um degradé (graduação) que vai tendo todos os
matizes de agravamento. O "egoísta" pode ser "egoistinha"(egoísta pequeno),
pode ser "egoísta médio", pode ser um "egoístão" (egoísta grande) que só
cuida de si mesmo, não liga a mínima para ninguém e para nada. Não tem
sentimento de culpa. Este grupo todo, não tem sentimento de culpa, mas às vezes
reage dentro de certos limites, por medo, por medo de castigo e punições. São
pouco empáticos. Não têm muita capacidade de sentir compaixão, mas neste
grupo inicial têm alguma empatia, mas isto vai tornando-se mais severo na distância
deste ponto de equilíbrio, intermediário, quando se distanciam os personagens. Estes
grupos (de pessoas) têm outras caraterísticas. Alguns têm de facto uma
capacidade de falar bem de si mesmo, muito sociáveis, muito extrovertidos, bons
no marketing pessoal. Têm uma fala e uma visão muito positiva de si mesmos, são
os chamados histriónicos. Outro grupo (de pessoas) acha que são melhores do que
os outros. Têm uma visão de si achando que são “bacana mesmo” (fantásticos). E, naturalmente,
todos eles têm egoísmo, são pouco empáticos e acreditam que são melhores que os outros, é o chamado de
narcisismo patológico. É patológico porque na realidade quase todo o mundo,
pode até falar bem de si etc, mas no fundo sabe que tem lá os seus complexos de
inferioridade. Essas pessoas parecem que não têm complexos de inferioridade, o
que é muito grave porque um pequeno complexo de inferioridade leva a gente
a ter um pouco de humildade, e a achar que a gente precisa progredir. E
essas pessoas que se acham o máximo, não têm porque evoluir. Então, são pessoas
muito mais difíceis de conviver, de mudar de opinião, de se preocupar com o
direito dos outros e de se tratarem. A empatia vai sempre diminuindo, com cada
vez menos capacidade de ser interessar pelos outros.
Depois, existe um outro grupo (de pessoas,
dentro deste 2º grupo), que se chama de borderline. É um grupo peculiar, em que
algumas caraterísticas estão presentes. Uma delas é idealizar demais certas
pessoas que se transformam em ídolos, para depois arranjar um jeito de
desqualificar esses ídolos e derrubar eles, e achar que são horríveis,
lamentáveis. Primeiro idealiza, depois derruba completamente essa pessoa. Primeiro
"enche a bola" do interlocutor, que pode ser namorada, um patrão, um
subalterno, “avacalha”(abusa, escarnece) com ele, derruba a auto-estima dele. São pessoas que têm
oscilações do humor, não raramente são meio depressivas, têm tendência ao
suicídio, tentativas de suicídio, mais do que efetivos suicídios, às vezes
acabam morrendo, mas por engano, de chamar a atenção através do suicídio. São
pessoas que têm uma agressividade, uma impulsividade muito grande. Parecem
incapazes de serem contrariadas, aliás como toda a sequência dos egoístas, lidam
mal com o processo de contrariedade. Todos são meio estouvados (pensam
pouco nas consequências e nas obrigações), mas estes aqui podem ser mais
estouvados e têm essa caraterística de "encher a bola dos outros"
e depois derrubar a auto-estima deles. São pessoas que são...nesses momentos,
bastante cruéis. Às vezes aparecem traços persecutórios ou de conspiração,
achando que um grupo de gente está falando mal contra eles. Borderline é uma
fronteira entre a neurose - um grupo de distúrbios em que o individuo está
consciente da situação e um quadro psicótico em que o individuo não tem mais a
noção exata do que ele mesmo está fazendo. Esta confusão às vezes aparece
neste grupo. A empatia por vezes é razoável, outras horas o individuo tem muito
pouca capacidade de sentir, de se preocupar com as outras
pessoas, podendo ser muito cruel, especialmente quando acaba a idealização do
outro. Finalmente, o mais radical deste grupo, em que a empatia vai decrescendo,
é aquele grupo com empatia zero, que é aquele grupo dos anti-sociais. Pessoas
que não têm nenhuma sensibilidade para com o outro, nenhuma culpa, e além de
não terem nenhuma culpa com a dor do outro ou compaixão, também não têm medo.(...)
Tratar esta gente toda é muito difícil.
Depende de muita sorte do ponto de vista do terapeuta, da empatia. Os
anti-sociais são quase impossíveis de tratar. Esses são realmente os
delinquentes. Os outros, dependem muito do tipo de empatia que se estabelece entre
o paciente e terapeuta, da paciência, da persistência. Muitas vezes é
preciso tomar medicação, ou tranquilizantes, ou anti-psicóticos ou anti
depressivos. É um manejo difícil de trabalhar. Demora anos, e existem alguns
casos, que sim, há uma evolução favorável, melhoras. Mas são trabalhosos, sempre. Muitas vezes as pessoas perguntam por estes assuntos usando a palavra
"psicopata". Psicopata é um termo genérico, que envolve um pouco de
tudo isto que eu falei. São pessoas que, às vezes, pelo fato de serem muito
simpáticos, são o parceiro sentimental de muita gente. E quando há este tipo de
história, realmente não é raro os casamentos acabarem, se dissolverem, porque
não é difícil a partir de certo momento, o parceiro perder a paciência e não
conseguir mais tolerar certo tipo de arbitrariedades que essas pessoas, por
força de uma empatia muito baixa ou mesmo inexistente, conseguem provocar nos
seus interlocutores.
Flávio Gikovate "os transtornos da personalidade."
As perturbações de personalidade no programa da RTP Play "Fora da Caixa", com a psicóloga Isabel Leal e o médico psiquiatra Vitor Amorim Rodrigues:
http://www.rtp.pt/play/p1727/e201315/fora-da-caixa
As perturbações de personalidade no programa da RTP Play "Fora da Caixa", com a psicóloga Isabel Leal e o médico psiquiatra Vitor Amorim Rodrigues:
http://www.rtp.pt/play/p1727/e201315/fora-da-caixa
sexta-feira, 15 de agosto de 2014
Sou muito exigente a respeito de vídeos de localidades que guardo no coração. Considero-os sempre aquém da capacidade de retratar a minha memória, mas este vídeo de Kirill Keiezhmakov, sobre Lisboa e Sesimbra, consegue-o, e vai mais além, permite-me imaginar, pela técnica que utiliza, o bom que seria se ultrapassássemos as possibilidades humanas e pudéssemos voar e submergir.
sexta-feira, 8 de agosto de 2014
A Falha
Café Filosófico: Aposta Na
Coragem – O filósofo Oswaldo Giacóia Jr
Algumas das suas palavras, ao minuto 25 e 32 segundos, acerca do que eu chamo A FALHA (fraqueza estrutural) nas palavras do filósofo:
“…Quanto mais forte você é, mais corajoso e generoso você
pode ser. A marca registada da fraqueza é justamente a impossibilidade de se
doar.
Toda a avidez compulsiva e auto concentrada é sintoma de uma fraqueza estrutural. Ou seja, você em última instância deseja obsessivamente tudo para si, porque você é muito fraco. Quem é forte, quem tem uma riqueza de sentimentos de poder, pode doar-se. Quem é fraco, não. Justamente por isso, é desse sentimento de poder que nasce uma atitude de despreendimento e não uma atitude de cristalização, condensação, fechamento na perspetiva do próprio umbigo. Portanto, nos seus pequenos medos.” Oswaldo Giacóia Jr
Toda a avidez compulsiva e auto concentrada é sintoma de uma fraqueza estrutural. Ou seja, você em última instância deseja obsessivamente tudo para si, porque você é muito fraco. Quem é forte, quem tem uma riqueza de sentimentos de poder, pode doar-se. Quem é fraco, não. Justamente por isso, é desse sentimento de poder que nasce uma atitude de despreendimento e não uma atitude de cristalização, condensação, fechamento na perspetiva do próprio umbigo. Portanto, nos seus pequenos medos.”
domingo, 3 de agosto de 2014
A capacidade de diferenciar as emoções
Gerard Von Opstal Bacchanal os statyes and Cupids Riksmunseum Amsterdam
“O que é uma relação de
amizade e uma relação amorosa? Há pessoas que têm dificuldade em distinguir
isto.” António Coimbra de Matos* (psicanalista)
Fala-se de se ser capaz, ou
não, em discriminar, entre a diversidade de emoções que envolvem uma relação
de amizade, das nuances próprias que envolvem uma relação amorosa.
A importância de se ser específico: naquela
relação sentimos raiva ou vergonha? Raiva, porque na realidade, sentimos culpa?
Para melhor compreendermos de que estamos a falar, há dias
perguntava a alguém “Estás triste?”, ao que ela me respondeu: “Não. Estou
desiludida comigo”, e acrescentou: “Porque sei que podia ter feito melhor.”
É
revolucionário o quanto esta capacidade em diferenciar as emoções e as
significações pessoais, poderá ajudar-nos a lidar com os
problemas e a melhorar a vida, ou seja, a planearmos e executarmos a ação de um modo mais eficaz.. É um tipo de inteligência emocional que se desenvolve desde o nascimento, de uma
sensibilidade grosseira, para a sensibilidade descriminada na vida adulta - processo de diferenciação emocional -, mas que nem todos lá chegam a este estado de exatidão na distinção das emoções.
Continuando, não deixei de
me surpreender com Coimbra de Matos, naquela conferência, com o exemplo
que escolheu para ilustrar as dificuldades no dito processo: um homem heterossexual que só mantinha relações de amizade e de
intimidade emocional, com homens, e com as mulheres, relações desprovidas de
convívio e intimidade, mas reservando para elas, a componente sexual, e a sua vontade não conseguida, de alterar esta condição. Podemos catalogá-lo
como um individuo cindido, fragmentado, ou à luz da diferenciação emocional, um
individuo que apresenta fixidez - sensibilidade grosseira - e que (ainda) não evoluiu para um estado homogéneo,
maturo, socialmente mais ajustado e desenvolvido cognitivamente e emocionalmente - sensibilidade discriminada.
A EVOLUÇÃO nas palavras de
Coimbra de Matos:
“Nos primeiros tempos de vida extra-uterina o
bebé vive um estado de indiferenciação anímica - uma sensibilidade geral de
tipo protopática (grosseira, difusa, sincrética, não discriminativa), desenvolvendo-se na sequência, e a pouco e pouco, para a sensibilidade diacrítica
(descriminada, ou seja, consciente das diferentes subtilezas das emoções e
sentimentos).”
*Psicanalista, na conferência “Promoção da
Saúde Mental na Criança”, organizada pela CPCJ, que decorreu no Funchal no
passado dia 27.6.2014
Palavras - chave:
Diferenciação e regulação emocional
A Roda das Emoções - Texas Association of School Psychologists
A Roda das Emoções - Texas Association of School Psychologists
sexta-feira, 25 de julho de 2014
As 10 estratégias para manipular as pessoas
Mural de Martin Ron
Enviaram-me este texto por email. Julgo que muitos
de nós já o conhecem. Mas aqui fica para memória futura.
Sempre atual, sempre verdadeiro. E não diz respeito só à nossa história coletiva, ao modo como o poder político se pode comportar para connosco, mas aplica-se também, a todas as situações de manipulação inscritas na nossa história pessoal.
Sempre atual, sempre verdadeiro. E não diz respeito só à nossa história coletiva, ao modo como o poder político se pode comportar para connosco, mas aplica-se também, a todas as situações de manipulação inscritas na nossa história pessoal.
O seu verdadeiro autor é Sylvain Timsit
1. A estratégia da Distração:
O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração, que
consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das
mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do
dilúvio, ou inundação de contínuas distrações e de informações insignificantes.
A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir o público de
interessar-se por conhecimentos essenciais, nas áreas da ciência, economia,
psicologia, neurobiologia e cibernética. “Manter a atenção do público,
distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem
importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado…, sem nenhum tempo
para pensar; de volta à granja como os outros animais”
2. Criar problemas e depois oferecer
soluções:
Este método também é chamado “problema-reação-solução”. Cria-se um problema,
uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este
seja o mandante das medidas que se deseja aceitar. Por exemplo: deixar que se
desenvolva ou que se intensifique a violência urbana, ou se organize atentados
sangrentos a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e
políticas desfavoráveis à liberdade. Ou também: criar uma crise económica para
fazer aceitar como um mal necessário, o retrocesso dos direitos sociais e o
desmantelamento dos serviços públicos.
3. A estratégia da gradualidade:
Para fazer que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradualmente,
a conta-gotas, por anos consecutivos. Foi dessa maneira que condições
socioeconómicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as
décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo, privatizações, precariedade,
flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos
decentes, tantas mudanças que teriam provocado uma revolução se tivessem sido
aplicadas de uma só vez.
4. A estratégia de diferir:
Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la
como “dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação pública, no momento, para uma
aplicação futura. É mais difícil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício
imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregue imediatamente. Depois, porque o
público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “amanhã
tudo irá melhorar” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais
tempo ao público para se habituar à ideia da mudança e aceitá-la com resignação
quando chegar o momento.
5. Dirigir-se ao público como crianças:
A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso,
argumentos, personagens e entoação particularmente infantis, muitas vezes
próximos da debilidade, como se o espetador fosse uma criança de pouca idade ou
um deficiente mental. Quanto mais se tenta enganar o espetador, mais se tende a
adotar um tom infantilizante. Porquê? “Se alguém se dirige a uma pessoa como se
ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então, em função da
sugestionabilidade, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou
reação também desprovida de um sentido crítico como as de uma pessoa de 12 anos
ou menos ”
6. Utilizar o aspeto emocional muito
mais do que a reflexão:
Fazer uso do aspeto emocional é uma técnica clássica para causar um
curto-circuito na análise racional e, finalmente, no sentido crítico dos
indivíduos. Por outro lado, a utilização do registo emocional permite abrir a
porta de acesso ao inconsciente para implantar ou injetar ideias, desejos,
medos e temores, compulsões ou induzir comportamentos.
7. Manter o público na ignorância e na
mediocridade:
Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos
utilizados para seu controle e sua escravidão. “A qualidade da educação dada às
classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma
que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores e as classes
sociais superiores seja e permaneça impossível de ser revertida por estas
classes mais baixas.
8. Estimular o público a ser complacente
com a mediocridade:
Levar o público a crer que é moda o ato de ser estúpido, vulgar e inculto.
9. Reforçar a autoculpabilidade:
Fazer com que o indivíduo acredite que somente ele é culpado da sua própria
desgraça, por causa da insuficiência da sua inteligência, suas capacidades, ou
de seus esforços. Assim, em vez de se rebelar contra o sistema económico, o
indivíduo auto desvaloriza-se e culpa-se a si próprio, o que gera um estado
depressivo, sendo um dos efeitos a inibição da sua ação. E, sem ação, não há
revolução!
10. Conhecer aos indivíduos melhor do
que eles mesmos se conhecem:
No decurso dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado uma
crescente brecha entre os conhecimentos do público e aqueles possuídos e
utilizados pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à
psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento avançado do
ser humano, tanto na sua forma física como psicologicamente. O sistema tem
conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele se conhece a si mesmo.
Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e
um grande poder sobre os indivíduos, maior que o dos indivíduos sobre si
mesmos.
terça-feira, 15 de julho de 2014
Samuel Weber: A Europa e as suas pulsões destrutivas
Entrevista de António Guerreiro a Samuel Weber
com o título A Europa e as suas pulsões destrutivas, que saiu no Jornal
Publico de 13.07.14:
A noção freudiana de “período de latência” serve ao filósofo americano
Samuel Weber para analisar a história recente da Europa e o sentido das suas
instituições, em função de categorias psicanalíticas e teológicas.
Professor
de Literatura Comparada na Nortwestern University, Samuel Weber faz parte de
uma constelação americana da “Teoria” que atravessa vários campos
disciplinares, a filosofia, a psicanálise, a teoria literária, os estudos
culturais.
A ligação deste universitário americano à filosofia europeia,
continental, fá-lo olhar para a Europa com a distância analítica de um
não-europeu que conhece muito bem a “tarefa infinita” inerente à ideia
europeia, essa ideia que lhe foi destinada pela tradição filosófica, mas que
nunca impediu que este “continente espiritual” fosse o palco e o sujeito da
violência e da barbárie cíclicas.
Autor
de uma vasta obra, onde se destacam títulos como Mass
Mediauras: Form, Technics, Media (1996), Theatricality
as Medium (2004) e Targets
of Opportunity: On the Militarization of Thinking (2005), Samuel Weber esteve em Lisboa
para participar na Summer School of the Study of Culture, uma semana de
palestras e seminários organizado pelo Lisbon Consortium, o programa de
mestrados e doutoramentos em Estudos de Cultura da Faculdade de Ciências
Humanas da Universidade Católica. O título geral da Summer School deste ano foi
“Latências: Europa 1914 -2014”. A noção de latência tornou-se importante nos
estudos culturais, sobretudo por via de um outro americano, Hans Ulrich
Gumbrecht (Professor na Stanford University, e autor deAfter 1945. Latency as Origin of the
Present), que também proferiu uma palestra. Samuel Weber é um
estudioso de Walter Benjamin, traduziu Adorno para inglês e escreveu um livro
sobre Freud. A sua crítica social e política é fortemente marcada por estas
figuras de referência.
O que é um período de latência?
Fui buscar a noção a Freud, que diz, aliás, que não a pode definir de maneira
exacta, na medida em que é algo que se torna invisível. Na teoria freudiana, a
sexualidade infantil é muito activa até mais ou menos aos seis anos. Mas em
seguida, com o complexo de Édipo, a sexualidade da criança fica num estado de
impossibilidade e durante um longo período, até à adolescência, há um recuo da
sexualidade manifesta. A energia sexual não desaparece, mas é utilizada para
outros fins que parecem não sexuais, embora estejam ligados à sexualidade. E a
sexualidade, para Freud, é sempre conflitual. Não é simplesmente a questão do
desejo, mas o desejo que está em conflito com o mesmo e com o outro.
Mas como passa da dimensão da evolução do indivíduo para a periodização histórica?
Mas como passa da dimensão da evolução do indivíduo para a periodização histórica?
A análise de Freud incide nos indivíduos, mas creio que a estrutura que ele
analisa abre para os problemas colectivos, Por exemplo, o problema do complexo
de Édipo: a certa altura ele é bloqueado pelo desenvolvimento daquilo a que
Freud chama o super-ego. E o super-ego é uma instância intra-psíquica,
individual, mas que reflecte toda a história e todo o passado da pessoa. E
portanto é o momento em que os valores colectivos tradicionais entram no quadro
do desenvolvimento individual, em que os valores e as experiências colectivos
passam pelo super-ego, que tem um duplo sentido, em Freud: o sentido da
interdição moral, mas também o sentido da emulação (“é preciso ser assim”).
Essas interdições e esses desejos são canalisados por valores colectivos e
tradicionais, específicos de uma comunidade e cultura, neste caso da Europa.
Trata-se de certos valores europeus, dominados por uma longa tradição em que os
valores cristãos são muito importantes, mas também muito contestáveis.
O período de latência de que fala começa quando?
Começa depois da Segunda Guerra Mundial. Quis-se instaurar instituições
colectivas depois da Primeira Guerra, a Liga das Nações, mas não funcionou
porque os interesses nacionais eram muito fortes e porque impuseram à Alemanha
deveres insustentáveis. A Alemanha foi considerada como a única culpada da Primeira
Guerra, e havia obrigações económicas que tornavam a função das instituições
colectivas quase impossível. Depois, a Segunda Guerra provocou uma tal
devastação que quase atingiu a sobrevivência da Europa. Na Primeira Guerra
houve cerca de 17 milhões de mortos, mas na Segunda foram 60 milhões, mais o
dobro dos deslocados, e uma destruição generalizada. Depois da Segunda Guerra
não se podia continuar a Europa entregue a esses desejos auto-destrutivos e foi
imposto um período que podemos chamar de latência, por analogia com a situação
do indivíduo, segundo a teoria de Freud. Portanto, depois da Segunda Guerra
houve a ambição de criar instituições para inibir e controlar as pulsões
destrutivas, em relação às quais podemos estabelecer um paralelo com as pulsões
sexuais do indivíduo. A ideia de um período de latência, aplicada à Europa,
parece-me interessante, dadas as pulsões destrutivas dominantes. O perigo é que
com o colapso das instituições da União Europeia destinadas a transformar as
pulsões egoístas, narcisistas, individuais, em desejos colectivos, que podemos
identificar com a União Europeia, se dê o retorno de pulsões maioritariamente
destrutivas. É preciso ver de que modo o funcionamento das instituições
esconderam as pulsões essencialmente egoístas das nações. Freud é aqui muito
útil porque ele diz que a tendência civilizadora no período de latência não
está separada do sexual, é apenas um outro modo de os impulsos narcisistas se
dissimularem. Algo semelhante pode já estar a acontecer.
Um período de latência é equivalente a um período de transição?
Sim, mas a questão é: transição para o quê? O modelo freudiano é interessante
porque não tem uma lógica progressiva, teleológica, que implica um avanço
contínuo. A transição pode ser um retorno a algo muito destrutivo, ao qual está
subjacente o narcisismo. O narcisismo individual pode ser transposto para o
narcisismo dos Estados e para o narcisismo do sistema económico, que tem como
fim a maximização do lucro, isto é, da riqueza que pode ser apropriada em termos
privados. A apropriação privada da riqueza através do mercado pode ser vista
como a expressão económica do narcisismo. A ideia que eu defendo é a de que
este modelo narcisista está muito além da Europa, remonta à concepção bíblica
de um Deus singular e exclusivo que responde assim à pergunta de Moisés:
“Eu sou aquele que sou”. Esta ideia de um Eu que é singular e universal é, ao
mesmo tempo, o modelo do narcisismo.
Trata-se, assim, de trazer o teológico para o nosso mundo
secularizado e de fazer dele uma categoria interpretativa...
As categorias teológicas são muitas vezes negligenciadas. Habitualmente, quando
as pessoas falam de economia assumem que vivem num mundo secular e que o
capitalismo, por exemplo, nada tem a ver com a teologia. Tal ideia é desmentida
num famoso texto de Walter Benjamin, O Capitalismo como Religião,
no qual ele argumenta que o capitalismo é o sucessor da religião. A minha
questão é a de que ele é de facto o sucessor da religião, mas no sentido desta
continuidade narcisista em que um Deus se torna o indivíduo apropriador de
riqueza. E apesar da mecanização e automatização generalizadas, pelos
computadores e as tecnologias, o sistema ainda está muito ligado a esse
indivíduo apropriador “humano, demasiado humano”. Por isso é que a sociedade
precisa de imagens e rostos, seja de Bill Gates ou de Warren Buffett. Cada país
conhece o rosto e o nome do seu homem mais rico, isso é muito importante para o
sistema. O sistema, esse, é sem rosto, mas é importante que haja rostos, dos
apropriadores e dos inimigos, o imigrante, o terrorista, o fundamentalista
islâmico...
E assim vamos dar à célebre oposição de Carl Schmitt entre amigo
e inimigo.
Mas os media, sobretudo os media televisivos, são também muito
importantes, pois ajudam a dar um rosto ao sem rosto, e isso permite às pessoas
pensar que vivem num mundo em que podem identificar toda e qualquer coisa com
um rosto. Quando os americanos entraram em guerra contra Saddam Hussein, no
Iraque, difundiram um baralho de cartas, cada uma delas com um rosto do governo
de Saddam.
Voltando à questão inicial: a temporalização da história
acelerou-se de tal modo que podemos perguntar se não é hoje difícil haver tempo
para os períodos de latência.
A noção de aceleração e de velocidade podem estar ligadas a essa questão do
narcisismo. Porque se o narcisismo tem a sua raiz numa concepção de identidade
que pode remontar a um Deus criador monoteológico que se nomeia como “Eu sou
aquele sou”, então isso significa que tudo se reduz ao presente e que o espaço
e o tempo estão fundamentalmente subordinados ao tempo presente. A velocidade
é, assim, um modo de tentar dominar ou superar o tempo, no sentido de uma
auto-identidade, de um “Eu sou aquele que sou”. Os desportos profissionais são
hoje concebidos como mecanismos de auto-produção narcísica. É possível e
importante pensar um conceito não narcisista do Si [self]. Nietzshe talvez o tenha tentado no seu Zaratustra.
Na sua palestra, partiu de um texto importante livro de Derrida
sobre a Europa, L’Autre Cap, onde ele desenvolve de
maneira analítica o problema da identidade. Quanto a isso, a Europa é muito
narcisista...
Isso faz parte dos seus problemas, mas também tem elementos que são o contrário
disso. Penso que é muito importante ver os problemas europeus num contexto
alargado, para que possa ser possível dizer o que é específico deles. Toda esta
onda de privatizações não está só a atacar as estruturas do Estado mas também
as estruturas sociais. A ideia de serviços públicos que não estejam submetidos
ao motivo do lucro é cada vez mais rara. Hoje, a União Europeia quase obriga a
que haja em todos os domínios competição privada. Os antigos serviços sociais
estão, um a um, a ser privatizados. E, neste aspecto, é uma área muito
importante é a das telecomunicações. Uma das grandes diferenças entre os
Estados Unidos e a Europa é o facto de nos Estados Unidos osmedia, e pensemos no mais
importante, que é a televisão, não terem a mínima obrigação em relação à esfera
pública, pelo que todo o sistema político tem de funcionar através do mercado.
O que significa que não se pode existir politicamente sem ter milhões e milhões
de dólares para comprar tempo de antena. Na Europa, há ainda a ideia de que a
televisão e a rádio são de alguma maneira, e num determinado grau, mesmo que
reduzido, públicas. Dão tempo de antena aos candidatos. Nos Estados Unidos,
isso não acontece. E a primeira coisa que se pergunta a um candidato não é
sobre o seu programa político, mas quanto dinheiro é que vai conseguir
angariar. Ao mesmo tempo, é importante perceber que isto pode dar origem a
atitudes contrárias extremamente destrutivas. Já o fascismo era um ataque à
plutocracia. O nazismo, por exemplo, não foi apenas anti-semita, foi também
anti-plutocrata. E tentou estabelecer uma equivalência entre anti-semitismo e
anti-plutocracia. Um dos seus mais poderosos elementos constitutivos era contra
a regra do dinheiro. Mas isso está hoje completamente esquecido. Em vez disso,
a historiografia concentra-se apenas no anti-semitismo e elimina todos os elementos
anti-capitalistas do nazismo. O Partido Nazi foi conscientemente buscar
elementos à crítica socialista do capitalismo. Mas depois converteram-nos numa
política narcisista, em busca do rosto do inimigo: o judeu, o estrangeiro, etc.
O nazismo afastou-se então do modelo monoteísta do
capitalismo...
Sim. O modelo monoteísta é muito importante porque diz que a única coisa que
conta é a relação de si para consigo. E Deus é o exemplo disso. Um modelo
alternativo, incompatível com o modelo monoteísta, seria aquele em que o Eu
depende verdadeiramente da experiência com os outros, com o que vem de outro
lado e está relacionado com outra coisa diferente, com a heterogeneidade. É
isso, precisamente que encontramos em Derrida, em L’autre
cap, o que tem certamente a ver com as suas origens, com a sua
experiência de francês judeu que nasceu e viveu na Argélia.
Falou de algumas diferenças entre a Europa e a América. Continua
a ser pertinente insistir nessas diferenças?
A América, em certa medida, deriva da Europa, mas de uma parte específica da
Europa, aquela que lhe transmitiu o lado protestante, puritano. A essa parte
original veio juntar-se outra, que tema ver com a eliminação brutal das
culturas indígenas. Tudo na América foi centrado numa noção essencialmente protestante
de indivíduo. O indivíduo branco como imagem de Deus. Ainda hoje, Obama fala da
“excepção” americana. A América vê-se a si própria sob a forma de uma pureza
protestante, como a imagem individual e excepcional do divino. Na Europa, a
luta entre protestantes e católicos produziu uma diferente configuração da
relação do indivíduo com o social, o que faz com que a dimensão colectiva seja
muito mais importante. Na América, a única coisa que conta é o indivíduo e tudo
o que acontece é da responsabilidade dele. Se tem sucesso, o mérito é todo
dele, mas se não tem, se perde o emprego, por exemplo, o problema é dele.
quinta-feira, 10 de julho de 2014
Robert Sutton: Sobreviver nas empresas
“Antes de diagnosticar a si
mesmo com depressão ou baixa auto-estima, primeiro tenha a certeza de que não
está, de fato, cercado por idiotas” Freud
Não posso confirmar, para
já, se esta afirmação pertence a Freud, mas é um óptimo concelho, sobretudo
porque apela para a necessidade de interpretarmos os contextos da nossa vida e os papeis dos diferentes atores, antes de nos culpabilizarmos pelo mau ambiente (no trabalho...). Identifica também, o responsável por esse ambiente - o idiota - e o efeito que tem na nossa saúde mental.
Assim, idiota é todo aquele, que de um modo persistente, intencional ou não, retira a energia e a auto-estima das pessoas, seja em que contexto for (casa, trabalho, vida social…).
Assim, idiota é todo aquele, que de um modo persistente, intencional ou não, retira a energia e a auto-estima das pessoas, seja em que contexto for (casa, trabalho, vida social…).
Para se libertar dos efeitos
destas relações abusivas, deverá ter um plano, com base em alguns
princípios básicos (para simplificar):
- Ser capaz de identificar os idiotas – são detectados pelo ataque à auto-estima e à energia vital do outro.
- A culpa do comportamento do idiota, não é sua;
- Acreditar que ficará bem, passada a tormenta.
- Mude a forma como vê a situação: evite a auto recriminação e o modo como até aqui interpretava e justificava o seu comportamento e o do outro - analise o seu pensar.
- Desenvolva uma atitude de indiferença e desapego emocional (desligar emocional): significa auto preservar-se, que poderá passar por baixar as expectativas e a não se preocupar (tanto) com as coisas.
- Tente obter pequenas vitórias: escolher batalhas com possibilidade de alcançar sucesso.
- Limite a sua exposição: irá descobrir como fazer isto. Poderá passar por evitar opinar, participar em reuniões, encontros sociais…
- Construa bolsas de segurança, apoio e sanidade mental: está ligado ao item anterior, incluí o estabelecimento de novas relações sociais e/ou profissionais, alterações nos espaços de convívio e nas rotinas…
Robert Sutton* Sobreviver nas empresas - Aprenda a lidar com um mau ambiente de trabalho. Editora Actual
domingo, 29 de junho de 2014
Paradoxo da recuperação
Nigel Buchanan
“Recuperação não se refere a um produto final ou resultado. Isso não quer dizer que se está "Curado". De fato, a recuperação é marcada por uma aceitação cada vez mais profunda das nossas limitações.
Mas agora, ao invés de ser uma ocasião de desespero, descobrimos
que nossas limitações pessoais são a terra da qual brotam as nossas próprias
possibilidades únicas. Este é o paradoxo da recuperação, ou seja, que ao
aceitar o que não podemos fazer ou ser, começamos a descobrir que o que
puderemos ser e o que poderemos fazer. Assim, a recuperação é um processo. É um
modo de vida. É uma atitude e uma forma de abordar os desafios do dia-a-dia.
Não é um processo perfeitamente linear, como as marés, a recuperação tem suas
estações, o seu tempo de crescimento, para baixo na escuridão, para garantir
novas raízes e em seguida, os tempos de sair à luz do sol. Mas acima de tudo,
recuperação é um processo lento, deliberado, que ocorre através de um pequeno
grão de areia de cada vez.”
Patricia E. Deegan, Ph.D.*
Pela autenticidade do testemunho, esforço-me por me lembrar de uma
experiência vivida de sofrimento. Da recuperação. Do período de transição
de uma situação que não volta, ou que percebemos, por fim, que deliberadamente
teremos de abdicar. Centra-nos. Temos de ser nós, da pessoa contra si mesma.
Talvez possamos reconhecer os erros, sem culpas, mas não poderemos
começar do princípio. Do princípio não. Para outro destino.
Sem que seja um salto no vazio, é urgente acreditarmos,
pacientemente, que vamos ficar bem passadas as provações e que as dificuldades
serão temporárias.
Qualquer mudança deverá parecer-nos bem-vinda, e trocarmos pelo
caminho, os máximos desejos, por pequenas vitórias alcançáveis. Serão pedacinhos
de controlo. Esta parte de nós resiste, mantém-se saudável, o sofrimento não
contaminou tudo, mas nunca se sabe quando se estará pronto, sabe-se que pela
metamorfose, se sobreviveu. Contudo, sabemos que estamos no caminho da recuperação quando as crises são menos intensas e duradouras.
O esperado, nas palavras de Coimbra de Matos, que possamos
adquirir um modo de ser "...mais
resistente e sobremaneira mais eficiente de dar a volta por cima, construir uma
outra e superior maleabilidade e endurance (tenacidade)".
* Patricia E. Deegan PhD "Recovery, Rehabilitation and the Conspiracy of Hope" (está online: http://www.state.sc.us/dmh/recovery_rehab_conspiracy.htm)
segunda-feira, 23 de junho de 2014
O amor que se vai | Flávio Gikovate
No mundo contemporâneo, os relacionamentos são menos
definitivos e as separações ficaram tão cotidianas... Mas ainda sempre muito
doloridas. Diante da perda de algo ou alguém importante, impossível não sentir
que “meu mundo caiu”.
E já que
estamos passando por uma epidemia de separações geradas pela crise mundial
(perda de emprego, perda de bens, mudança de país, e separações amorosas
propriamente ditas), talvez seja mesmo a hora de falarmos desse assunto
indesejado.
Diante dos
efeitos catastróficos de uma separação, é preciso ter também um lado prático.
Se meu mundo caiu, como vou reconstruí-lo?
Palestra
de Flávio Gikovate no programa Café Filosófico CPFL gravada no dia 30 de
setembro de 2009, em São Paulo.
ACEDER aos 252 vídeos do Instituto CPFL, em
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