sábado, 9 de janeiro de 2010

O eu verdadeiro


Tracy Chevalier inspirou-se no quadro do pintor Vermeer – Rapariga com Brinco de Pérola – para escrever um romance com o mesmo título, onde retrata esta cena, entre Vermeer e a criada, passada em 1664:
“Voltei-me, ainda com as mãos no cabelo. Ele encontrava-se no limiar da porta, a olhar para mim.
Baixei as mãos. O cabelo caiu-me em ondas sobre os ombros, castanho como os campos no Outono. Nunca ninguém o via a não ser eu.

- O teu cabelo – disse ele.

Já não estava zangado.
Por fim desviou os olhos de mim.

Agora que ele vira o meu cabelo, agora que me vira revelada, já não sentia que tinha uma coisa preciosa a esconder e a guardar só para mim. Podia ser mais livre, se não com ele, pelo menos com outras pessoas. Já não importava o que fazia ou deixava de fazer.”

Quando confiamos que não há mais necessidade de nos defendermos, de nos escondermos.

Quando acreditamos que há alternativa à imagem ideal que criamos, sem que isso nos coloque em risco.

Recupera-se a capacidade de aceitação de nós próprios, e das nossas fragilidades.

Uma existência verdadeira torna-se possível.





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