sábado, 16 de janeiro de 2010

O poder do desejo




“Diz-me como posso gostar deste indivíduo!”

A expressão pareceu-me de início, feliz – a pretender revelar um sentimento descuidado. Mas desnecessária. Aos amigos íntimos não devemos mentir.

E, sigo com o meu lamento “Alguma coisa correu mal na minha infância, uma falha qualquer (Mas fatal. Somos sempre trágicos no amor) ”.

A pensar que ele esperava a partilha de uma vivência mais íntima, procuro recordar-me do acontecimento traumático, no espaço vazio das minhas lembranças.

Quando ele diz: “Isso não é defeito. É excesso.”

Como excesso ???? Percorri a psicopatologia toda. Só podia situar o meu caso num transtorno de natureza delirante.

Sim. Excesso. Lê a Teoria do Corpo Amoroso do filósofo Michel Onfray.”

Li. E, percebi o meu erro “ a metafísica do buraco” de Platão – o amor, como vazio a ocupar, como carência - estava a me encher de culpa.

Percebi outros lugares comuns (expressão de Michel Onfray) onde caímos, que são fonte de infelicidade para quem não se revê neles: o casal como forma de conseguir a plenitude; a oposição dualista, moralista, entre os dois tipos de amor (segundo a lógica platónica, “tudo o que liga o individuo à carne, merece ser condenado, enquanto que o único desejo meritório exige a união da alma com o Bem”).

Algumas frases retiradas do livro:

“ A minha proposta, seriamente instalada em terrenos antigos, em guerra contra o modelo ético dominante, estabelece laços directos com o projecto de todas as escolas filosóficas helenísticas: o de tornar possível a vida filosófica. E para fazê-lo, quer decididamente o fim da vida amputada, fragmentada, explodida, dispersa, tal como é fabricada pela nossa civilização alienante que tem como referências o dinheiro, a produção, o trabalho, o domínio. A filosofia pode contribuir para esse projecto radical. Melhor ainda: ela deve fazê-lo.”

“ Ela (a filosofia) teria tudo a ganhar em tornar-se claramente a disciplina das soluções, das respostas e das propostas”.

“ O desejo persistente mostra aos homens que devem submeter-se a um destino mais forte do que eles”.

Teoria do Corpo Amoroso
Michel Onfray (filósofo)
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