sexta-feira, 8 de abril de 2011

Não ter voz

“ ..mas aí onde a perversidade se instala é justamente quando essa verdade é denunciada sem que se possam colocar dúvidas, dado que o outro não nos deixa margem de manobra, recusando-nos um espaço e um outro tempo, os da reparação entre ele e nós”.
Nicole Jeammet, O Ódio Necessário, Editorial Estampa

Há violências que só se fazem com recurso a verdades. Palavras que correspondem a verdades. Mas reveladas pelo outro, não deixam de ser crueldades porque não nos levaram em consideração ou seja, quem as praticou não revelou capacidade de se colocar no nosso lugar.
Se nos parecer difícil identificarmos este tipo de situações, pensemos por exemplo, nos casos em que um diagnóstico médico é comunicado, despojado de compaixão pelo paciente.
A perversidade instala-se quando, dita ou apresentada a verdade, não nos é facultado espaço nem tempo para repor a esperança ou reparar os ressentimentos e frustrações do passado.
Este trabalho de reparação é fundamental nos relacionamentos humanos. Não se faz nos casos em que deliberadamente não se respeita a palavra do outro, o seu lugar e o seu desejo.
A agressão surge pela impossibilidade de termos voz, de transformarmos em bons os danos que causamos, ou que de algum modo julgamos que causamos. Da necessidade não satisfeita de sermos compreendidos e vistos como dignos de valor.

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