sábado, 16 de julho de 2011

Admirar e elogiar

“A desvalorização dos outros e o esvaziamento das representações objectais do mundo interno são a causa principal da falta de uma auto-estima normal nos indivíduos narcísicos, para além de determinarem a sua notável incapacidade para empatizar com os outros."

Otto Kernberg Agressividade, Narcisismo e Auto-destrutividade na Relação Psicoterapêutica Climepsi Editores

Devo dizer que fiquei perplexa quando me deparei com este texto. Precisei de tempo para compreender melhor: a desvalorização dos outros é uma das causas principais da falta de uma auto-estima normal nos indivíduos narcísicos (até nos que exibem grandiosidade), mesmo sendo dependentes da admiração dos outros. O que chega a ser um paradoxo. 
Chegada aqui, ainda julguei que precisava de mais tempo para tecer algumas considerações sobre este assunto, já que confio na sua veracidade. Conclui, que o tempo todo do mundo poderia não ser suficiente para alcançar a compreensão plena da importância de reconhecer e elogiar o outro. Prossigo.
A desvalorização dos outros, assim como o desdém, são defesas contra a inveja inconsciente. Na sua origem, estão as experiências más ou pouco gratificantes que superaram as boas, vividas nas relações precoces. Consequentemente, por não se ter maturidade para lidar com essas emoções contraditórias de amor e ódio pelas pessoas de quem se dependeu, porque se foi troçado ou humilhado, ou não “levado a sério”, surge a culpa, também ela prematura. As pessoas próximas e as suas qualidades, e a admiração que se poderia ter por elas, não passaram a fazer parte do mundo interior dos indivíduos narcísicos, caracterizando a natureza das relações no presente. Se assim acontecesse teriam dado conforto e segurança. 
Admirar e elogiar (com verdade e de modo desinteressado), são seguramente fontes de auto-estima!

4 comentários:

Bonfim disse...

Olá.
Sou brasileiro.
Achei seu site pela a entrevista sobre Self-Compassion. Bem, mas achei estes posts sobre Nacisismo e me identifiquei. Credo, sou narcisista!

Me encaixei bem nesta descrição: frustação e humilhação na infancia, dificuldade em aceitar como aqueles q me criaram e eu somos, uma necessidade de estar sempre por cima e de conquistar coisas. Principalmente mulheres.

Obrigado. Vou refletir sobre.

cristina simões disse...

Olá.
Obrigada pelo seu comentário.
A sua capacidade de auto - análise é um excelente prognóstico. Estou a brincar. Mas a verdade é que quanto mais narcisista se é, menos capacidade e mais medo se tem de olhar para dentro de nós próprios. Outra ideia é que, não é por se ter tido uma infância difícil que se é este ou aquele - há quem tenha desenvolvido a capacidade de superar as dificuldades.
Já espreitei o seu blogue.
Fique bem

Bonfim disse...

Poxa, nem lembrava que um dia tinha criado aquele blog.

Mas, bem, gostei do seu comentário. Falar destas coisas no anonimato é mais fácil. Esta coisa de se aceitar e conhecer tem sido super difícil e novo para mim. A sensação q tenho desde pequeno é de que a última pessoa em quem eu deveria confiar e me espelhar seria eu mesmo. Tenho trabalhado nisso e me observado. Fazer meditação tem ajudado.

Nos últimos dias tenho trabalhado numa trabalho de graduação e o para os estudos da graduação eu sou muito travado quando começo a ter dificuldades a ponto de abandonar a disciplina. Bem, mas este eu tenho de fazer e percebi que quando me sinto confiante, desenrola bem o raciocinio e a escrita, mas quando vejo q tenho déficits e dificuldades, travo a ponto de não conseguir me concentrar e precisar recorrer a outros artificios de estudos para retomar a confiança. Não tenho gostado de ter minahs emoções flutuando assim. Tenho ai uma tarefa para reflexão.

Chega de escrever. Boa noite.
Volto a labuta.

cristina simões disse...

Quando nos sentimos confiantes a intuição flui e vemos coisas e ligações entre elas que não víamos até aí. Mas a confiança em nós é uma palavra-chave e no geral a nossa educação familiar e escolar nem sempre a soube promover. É preciso um trabalho de crescimento pessoal. Um meu professor costuma dizer que saúde mental é transformação, para vivermos cada vez melhor, e que envolve criatividade (recorrer a outros artificios como diz...)
Fique bem