quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Love fraud - incapacidade de amar



Clóvis Graciano O clarinetista

"…um outro laço assume as funções de laço amoroso, há uma substituição por outro tipo de laço – é o que designamos por vicariância."

Descrevemos três tipos fundamentais de vicariância:
Vicariância erótica: o laço erótico supre a não organização ou falência do laço amoroso. É típica de algumas personalidades histéricas e personalidades – limite; erotização das relações por incapacidade de amar e /ou ser desejado, já que não é amado. É própria também da personalidade histérica. "Ninguém me ama mas todos me desejam"
Vicariância narcísica: o desejo de amar é substituído pelo desejo de ser admirado. É típica das personalidades narcísicas; ser admirado uma vez que não consegue ser amado; e, complementarmente, brilhar/exibir-se porque não sabe dar e amar."Ninguém me ama, mas todos me admiram" - o grito de triunfo narcísico.
Vicariância agressiva: “ Não sou amado mas sou temido”. É própria dos psicopatas; ter poder ou dominar porque não se é desejado nem amado. Ser poderoso para iludir a ferida de ser, de facto, um Zé Ninguém. É  patognomónica do defeito narcísico-identitário, como do núcleo psicótico-psicopático ou perverso. Abunda nos ditadores de toda a espécie, feitios e graus. É o "poder da portinhola" - por onde sai a boca do canhão escondido.
Coimbra de Matos Relação de Qualidade: penso em ti Climepsi

A capacidade de amar ou fazer amigos está fora do alcance destas personagens, que como compensação recorrem à sedução, domínio, ou outros artifícios, para manter o outro. Podem no entanto, questionar-se porque magoam as pessoas que julgam amar. Só que, na realidade não amam.
Poder-se-á agora compreender porque não se foi amada/o por essa pessoa - porque ela/ele não é capaz de amar ninguém.
Se o orgasmo não está numa relação de prazer mútuo, onde é que ele está? Na sedução, só por si? Na manipulação ou pela humilhação do outro?

É um amor transvestido de amor, inchado de nada, descoberta tardia no desengano e na anarquia dos sentidos, em revolução, pela necessidade de ser-se amada por um outro que o saiba. Porta para a vida, como bênção.


Os serial lovers nas palavras de Jacques-Alain Miller, psicanalista:

“Alguns sabem provocar o amor no outro, os serial lovers – se posso dizer – homens e mulheres. Eles sabem quais botões apertar para se fazer amar. Porém, não necessariamente amam, mais brincam de gato e rato com suas presas. Para amar, é necessário confessar sua falta e reconhecer que se tem necessidade do outro, que ele lhe falta. Os que crêem ser completos sozinhos, ou querem ser, não sabem amar. E, às vezes, o constatam dolorosamente. Manipulam, mexem os pauzinhos, mas do amor não conhecem nem o risco, nem as delícias”.

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