domingo, 27 de novembro de 2011

A desforra do jovem russo


Igreja de S. Domingos, na baixa de Lisboa

Em História de Uma Neurose Infantil” (1918) Freud notará esta característica da “servidão” submissa que é exigida ao objeto por parte da omnipotência do sujeito, e notará igualmente a necessidade de “rebaixar” o objeto que satisfaz, como forma de desforra em relação à humilhação narcísica sofrida. No caso em análise, o jovem russo procuraria as relações sexuais sempre com mulheres de baixa condição, como forma de aviltar a irmã, ou seja, aviltar a mulher perante a qual se sentira humilhado, narcisicamente.”
Cristina Fabião Narcisismo Defesas Primitivas e Separação Climepsi

Estou a pensar naqueles casais mais contemporâneos, em que num momento de crise, um deles por orgulho ferido, se envolve com outra pessoa de condição pessoal, social, económica ou profissional, inferior, com a intenção de humilhar a pessoa com quem até aí mantinha uma relação. 
Não nos esquecendo que a vida faz-se com base na tensão mantida entre o eu, a imagem que tenho do outro, e o outro real, o efeito pretendido poderá não ser rebaixar o amor-próprio da outra pessoa - com a mensagem "vales ainda menos" - visto esta estar consciente do seu próprio valor.
O que poderá ser destruído, é a imagem positiva que esta tinha do individuo que lhe pretende causar humilhação. Não atender a esta possibilidade, deve-se ao sentimento de omnipotência do sujeito - a crença exagerada no seu próprio valor ou importância.
E, porque o amor precisa sempre de uma pitada de admiração, chegado a este estado, o ponto de encontro é incerto.

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