"A inveja do homem pela mulher não é menos comum que a da mulher pelo homem, nem menos profunda. Mas ela é muito menos reconhecida e compreendida; e acredito que isso se deva não simplesmente ao preconceito masculino sobre esse delicado ponto, mas à natureza das coisas. No que concerne à inveja que o meninozinho sente pelos seios e pelo leite da sua mãe, ele mesmo é dotado de um órgão especial para enfrentá-los, o pénis. Ora suas irmãzinhas não possuem pénis ou seios, de forma que a sua satisfação e superioridade em possuir um pénis podem ser utilizadas para esconder e contrabalançar seu desejo de um corpo capaz de gerar e alimentar bebés. Durante toda a sua vida os homens continuam a utilizar-se dessa compensação contra a sua inveja das mulheres, e nessa compensação é encontrado um elemento de enorme significado psicológico do pénis. A principal razão porque a inveja dos homens em relação às mulheres permanece tão oculta é que ela diz respeito precisamente ao interior dos corpos femininos, às misteriosas funções e processos que se desenrolam, por assim dizer, magicamente, dentro das mulheres (suas mães), ao gerar bébés e produzir leite. É patente também que, da mesma forma que as mulheres invejam a iniciativa masculina, em contraposição os homens invejam a capacidade das mulheres em experiencias passivas, particularmente a capacidade de suportar e sofrer. O sofrimento atenua a culpa; em particular, a dor que traz a vida ao mundo é duplamente invejável, de maneira inconsciente, aos olhos dos homens." Joan Riviére
In Melaine Kleine e Joan Riviére Amor, Ódio e Reparação Imago Editora
Em texto foi publicado em 1937.
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