Diálogo do filme O Cisne Negro: "A única pessoa no teu caminho és tu própria"
Há autores que eu reconheço
competência cujas declarações são para mim como uma obra de arte (científica)
que se deve respeitar. A autora deste texto, sobre a inveja, é uma das que admiro bastante:
"O motor do núcleo perverso é
a inveja, o objetivo da apropriação.
A inveja é um sentimento de cobiça, de
irritação odienta à vista da felicidade, das vantagens de outrem. Trata-se de
uma mentalidade agressiva que se baseia na perceção do que o outro possui e de
que se é desprovido. Esta perceção é subjetiva, pode mesmo ser delirante. A
inveja comporta dois pólos: egocentrismo por um lado e a malevolência, com
vontade de prejudicar a pessoa invejada, por outro lado. Isso pressupõe um
sentimento de inferioridade em relação e essa pessoa, que possui o que é
cobiçado. O invejoso lamenta ver o outro possuir bens materiais ou morais, mas
ele é mais desejoso de os destruir do que os adquirir. Se os tivesse, não
saberia o que fazer com eles. Não dispõe de recursos para tanto. Para preencher
a distância que separa o invejoso do objeto da sua cobiça, basta humilhar o
outro, aviltá-lo. O outro assume assim os traços de um demónio ou de uma
feiticeira.
O que os perversos invejam,
antes de tudo, é a vida no outro. Eles invejam o sucesso dos outros, que os põe
perante o seu próprio sentimento de fracasso, pois eles não estão mais
contentes com os outros do que consigo mesmo;
nunca nada corre bem, tudo é complicado, tudo é uma provação. Eles
impõem aos outros a sua visão pejorativa do mundo e a sua insatisfação crónica
em relação à vida. Eles quebram todo o entusiasmo à sua volta, procuram antes
de mais nada demonstrar que o mundo é mau, que os outros são maus, que o
parceiro é mau. Pelo seu pessimismo, eles arrastam o outro para um registo
depressivo para, em seguida, lho censurar. O desejo do outro, a sua
vitalidade mostram-lhes as próprias carências.”
Marie-France Hirigoyen
Assédio, Coação e Violência no Quotidiano Pergaminho
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