segunda-feira, 17 de junho de 2013

Show time


Eugenio de Blaas

“A sociedade baseia-se na confiança e nós costumamos prestar mais atenção ao que os outros dizem do que o seu comportamento não verbal – gestos das mãos, movimentos faciais, sorrisos, contato pelo olhar. Porém, quando o falante é atraente e tem um desempenho não verbal realmente impressionante, o efeito pode ser o contrário, assistimos ao espetáculo e damos pouca atenção ao que é dito”
Robert D. Hare Sem consciência O mundo perturbador dos psicopatas que vivem entre nós Artmed
Interessante e perturbador.
Deveríamos dar atenção ao que o outro diz, mas sobretudo ao modo como encadeia as palavras e as associações que faz, e não tanto aos gestos, entoações  e  demais manifestações não-verbais. É exemplo de associação desconexa, na sua manifestação extrema: “O mais insuportável é saber que matei a pessoa que mais amava — a pessoa que mais amo.” (comentário  real de um caso de violência contra a namorada).
Para o bem e para o mal, esta competência é antinatural, ou seja, sermos críticos com a pessoa por quem estamos interessados. 
O que acontece é não detetarmos de imediato, com rigor, a natureza das mensagens, que nos pudesse ajudar a alumiar um pouco mais de perto, no outro, a verdade do sentimento humano.
Recentemente prestei mais atenção a este aspeto da comunicação, ao ouvir uma adolescente falar dos dois rapazes com quem estava a sair.
Sobre um dos rapazes, que só enfado lhe causava, era extramente crítica acerca do que ele dizia, cruel até. De nada valia mostrar interesse pelas coisas da vida dela – como vai a escola? Eram exatamente os assuntos terrenos que ela queria esquecer.
O outro rapaz levava-a para a leveza das nuvens onde se deu por perdida. Nem passados três dias, o tempo que durou o namoro, o efeito hipnótico passou, e o parelho mental mostrou-se eficiente para analisar este tipo de discurso que teve com ele:
Ela: “Gostas de mim?”
Ele: “Estás triste? Eu deveria morrer só por te pôr triste”
Hábil. O quanto uma abstração pode ser útil para pular fora!

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