Eugenio de Blaas
“A sociedade baseia-se na confiança e nós costumamos prestar mais atenção ao que os outros dizem do que o seu comportamento não verbal – gestos das mãos, movimentos faciais, sorrisos, contato pelo olhar. Porém, quando o falante é atraente e tem um desempenho não verbal realmente impressionante, o efeito pode ser o contrário, assistimos ao espetáculo e damos pouca atenção ao que é dito”
Robert D. Hare Sem consciência O mundo perturbador dos psicopatas que vivem entre nós Artmed
Interessante e perturbador.
Deveríamos dar atenção ao que o outro diz, mas sobretudo ao modo como encadeia as palavras e as associações que faz, e não tanto aos gestos, entoações e demais manifestações não-verbais. É exemplo de associação desconexa, na sua manifestação extrema: “O mais insuportável é saber que matei a pessoa que mais amava — a pessoa que mais amo.” (comentário real de um caso de violência contra a namorada).
Para o bem e para o mal, esta competência é antinatural, ou seja, sermos críticos com a pessoa por quem estamos interessados.
O que acontece é não detetarmos de imediato, com rigor, a natureza das mensagens, que nos pudesse ajudar a alumiar um pouco mais de perto, no outro, a verdade do sentimento humano.
O que acontece é não detetarmos de imediato, com rigor, a natureza das mensagens, que nos pudesse ajudar a alumiar um pouco mais de perto, no outro, a verdade do sentimento humano.
Recentemente prestei mais atenção a este aspeto da comunicação, ao ouvir uma adolescente falar dos dois rapazes com quem estava a sair.
Sobre um dos rapazes, que só enfado lhe causava, era extramente crítica acerca do que ele dizia, cruel até. De nada valia mostrar interesse pelas coisas da vida dela – como vai a escola? Eram exatamente os assuntos terrenos que ela queria esquecer.
Sobre um dos rapazes, que só enfado lhe causava, era extramente crítica acerca do que ele dizia, cruel até. De nada valia mostrar interesse pelas coisas da vida dela – como vai a escola? Eram exatamente os assuntos terrenos que ela queria esquecer.
O outro rapaz levava-a para a leveza das nuvens onde se deu por perdida. Nem passados três dias, o tempo que durou o namoro, o efeito hipnótico passou, e o parelho mental mostrou-se eficiente para analisar este tipo de discurso que teve com ele:
Ela: “Gostas de mim?”
Ele: “Estás triste? Eu deveria morrer só por te pôr triste”
Hábil. O quanto uma abstração pode ser útil para pular fora!
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