segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Um Método Perigoso



Filme: A Dangerous Method
Realizador: David Cronenberg 

David Cronenberg  esteve ontem em Portugal para participar no Lisbon Estoril Festival Film, onde estreou o seu filme mais recente “Um Método Perigoso” que aborda a história da relação entre Sigmund Freud, Carl Jung e a paciente amante de Jung, Sabina Spielrein. Este filme ilustra o nascimento da Psicanálise.
Em entrevista com Alexandra Prado Coelho, publicada hoje no Jornal Publico, transcrevo as afirmações de David Cronenberg:

“ Chamo-lhe uma ménage à trois intelectual – sem dúvida que havia também amor entre Freud e Jung. De certa forma estas três pessoas inventaram o sec.XX. as relações que tinham, a forma como falavam uns com os outros, não tem precedentes”.

As três personagens “viviam na Europa Central, no que era então o império austro-húngaro, num ambiente muito controlado, onde toda a gente sabia o seu lugar, não se falava de sexo, ou do corpo e as pessoas pensavam que estavam a evoluir para uma maravilhosa civilização europeia que seria superior a tudo o que tinha existido antes”.

“ (Freud) veio dizer que, por baixo da superfície, e é uma superfície muito fina, há paixões e emoções incríveis, hostilidades tribais, onde o potencial para a barbárie e a violência é enorme. E que temos que ter consciência disso para não sermos controlados por essas emoções.”

“A I Guerra Mundial provou que Freud estava 100% certo.”

“ (O filme) é muito rigoroso." Tudo nele se baseia em cartas e documentos onde Freud e Jung detalhavam “ O que comiam, o que sonhavam, as suas vidas sexuais, quantos cigarros Freud fumava.”

“ A perspectiva feminina, num tempo em que não era suposto que as mulheres tivessem uma educação ou uma vida sexual”.

“Freud e Jung são dois homens muito sérios, e nas suas cartas estão a falar de coisas como ejaculação, esperma, excrementos, vaginas, abuso sexual de crianças, uma coisa que ninguém imaginava que pudesse acontecer, mas eles viam nos seus doentes que acontecia.”

“Jung acreditava que somos capazes de nos transcender a nós próprios. Algumas pessoas pensam que a teoria da evolução, descrita por Darwin, significa que partimos de uma coisa que não é boa e evoluímos sempre para melhor. Evolução significa mudança, sim, mas não necessariamente para melhor.”



4 comentários:

rosaleonor disse...

“ A perspectiva feminina, num tempo em que não era suposto que as mulheres tivessem uma educação ou uma vida sexual”.

Acha que ambos tiveram uma verdadeira perspectiva do feminino?...ou ambos lidavam com a mulher cindida pela mesma sociedade que ontem, tal como hoje tratam de uma metade mulher cindida na sua psique...não as mulheres em si (as verdadeiras mulheres que não existem há séculos diria.)Embora de maneiras totalmente diferentes...ontem as mulheres não tinham "educação sexual" e hoje...têm uma pseudo liberdade sexual - sempre ao serviço do intelecto masculino do seu imaginário sexual...sempre em projecção das suas experiências enquanto homens, sendo sempre a mulher um ser a viver em função deles e do sexo e nunca em função de si mesma como indivíduo per se...essa mulher que ainda hoje não existe...e que continua dividida entre (a mãe e a amante)conceitos e estereótipos que os homens dela convencionaram...
Freud e Jung andaram à volta da Anima e creio que nunca poderam chegar a mulher verdadeira por não perceberam essa sua cisão interior...
Creio que não estará de acordo comigo, mas não tome como provocação a minha pergunta...só a fiz porque me doi ainda esta ignorância da mulher.E serem ainda os homens a abordar a mulher dentro do seu conceito aliás como ao longo de toda a nossa história de arte e cultura... Não precisa de responder ou mesmo publicar a minha questão para mim crucial...
Entenderei o seu silêncio.
rleonor

cristina simões disse...

Olá Rosa Leonor
Não sei como pensou que eu iria manter-me em silêncio ou não iria publicar o seu comentário. Eu só não publico os ofensivos para quem quer que seja. Freud foi revolucionário porque através do seu método reconheceu a supremacia da relação humana no desenvolvimento. Foi também revolucionário, nisso concordo com o realizador deste filme, por perceber que abaixo da superfície, no nosso mundo interior, estão as paixões e todas as emoções primitivas. Mas com Freud, a sexualidade feminina foi estudada numa perspetiva de um homem e de uma época. Penso que também é esta a sua opinião. Consequentemente do que conheço dos escritos de Freud, se bem os entendi, a sexualidade masculina tinha a supremacia e era comparada à feminina na qual eram identificadas as faltas, falhas. As pessoas até costumam ridicularizar com expressões de nós termos “inveja do pénis”. Não conheço suficientemente Jung. São visões cindidas da sexualidade feminina, até hoje. Só que hoje, muitas mulheres estão mais exigentes (até para o amor), com mais espírito crítico e mais independentes.
Também não concordo com o realizador sobre a evolução não ser uma caminhada para um estado superior. Steven Pinker tem vídeos no YouTube) psicólogo estuda a violência e considera que vivemos as épocas menos violentas da história.
Eu não sabia que o conceito de "cisão interior", não lhe é estranho. Vou falar dele num próximo post. Não era preciso lhe dizer, mas gostei de a ler.
Fique bem

rosaleonor disse...

Na verdade gostava tanto de ter uma resposta sua , a que me deu... que disse o contrário da minha expectativa...pois SINTO em si uma profunda seriedade de dentro...não sei como dizer. Prezo imenso o que escreve de si..a maneira como se diz nesta abordagem sintética da psicologia...Eu conheço melhor Jung que Freud e estou de acordo com o que diz ele, mas ele não nos beneficou muito nessa perspectiva do feminino e na tal inveja...que na verdade sempre foi do homem a inveja do ùtero. E afinal toda esta confusão sobre a Anima...a eles a devemos...Poderemos nós sair ilesas deste labirinto analítico?
Obrigada pela sua atenção

r.leonor

cristina simões disse...

Acho que de facto se pode dizer que Freud (conheço muito pouco Jung) não nos beneficiou, na perspectiva do feminino, como diz. Contudo, vários factores têm contribuído para, nós mulheres, encontrarmos o nosso lugar. A educação masculina também não beneficiou os homens, estão mais afastados dos seus sentimentos e necessidades, têm mais incertezas de qual o seu lugar, a velha metafísica de invulnerabilidade, para os que a têm, deixa-os mais sós (pelo que colocam à mulher, problemas). Nascer homem é para alguns estudiosos (Luis Bonino), à partida, um factor de risco.
Não sei se era um pouco isto que Jung já falava.
Obrigada, eu