domingo, 6 de maio de 2012

Ser tomado de ponta


Jonathan Mak A Matter of Perspective

“Eu, desde que veja um uniforme, perco as estribeiras. Da mesma forma não é raro, numa instituição de cuidados educativa ou judicial, ser tomado de ponta por alguém residente sem motivo. É a função que é atribuída que é o alvo, e não a pessoa em si.”
Patrick Charrier e Astrid Hirschelmann Os Estados-Limite Climepsi

É necessário uma certa dose de concentração, de espera, de despreendimento, para não reagirmos de um modo reativo para alguém que nos trata pelo que possamos representar para ele, ou pela imagem que construiu de nós, e não pelo que somos. Se assim o conseguirmos, comprovamos que estamos a lidar com o alucinado – o outro ao não nos reconhecer nesse momento, atualiza perante nós, velhos ressentimentos de outras relações pessoais, de outros lugares, e de outros tempos.
Embora seja ideia comum que comportamento gera comportamento, estas situações que por vezes acontecem, são independentes da interação gerada, e ajudam a responder à pergunta que fazemos a nós próprios: porque me aconteceu a mim e não a outro? Porque fomos confundidos com uma imagem.
Não, não é uma questão de perspetiva ao lidarmos com o outro, ignorarmos a pessoa em si, e nos relacionarmos com o que ela possa representar para nós, a sua raça, género, profissão e por aí adiante.

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