sábado, 13 de novembro de 2010

Pedir perdão

Rubens, Venus at a Mirror (detalhe)

O pedido de perdão de Dorian Gray do romance “O Retrato de Dorian Gray” de Oscar Wilde representa, para mim, a metáfora do medo em enfrentar o outro nas alturas em que deveríamos pedir perdão.
Após a cena em que Dorian Gray rejeita violentamente Sibyl na sequência da sua lastimável actuação teatral, já em sua casa, vacila entre o impulso em implorar-lhe o seu perdão ou o recurso a algum meio que “adormecesse a sua sensibilidade moral”. Resolve-se pelo pedido de perdão. Escreve-lhe uma carta.
Segundo o narrador “escreveu páginas e páginas de palavras desesperadas de mágoa”. Ao terminar, “Dorian Gray sentia-se perdoado”.
Entretanto, chega um amigo que se interessa em saber do seu estado, a que Dorian responde: “Sinto-me agora inteiramente feliz. Sei agora o que é a consciência. Não posso suportar a ideia de a minha alma ser hedionda”.

Para Dorian Gray, a principal personagem narcísica do romance, perdoar-se a si próprio por ter sido cruel com Sibyl, só porque lhe escreveu uma carta que não entregou, simboliza a recusa de relações de reciprocidade. É a negação da importância do outro. O seu mundo fica concentrado nele próprio, não necessitando do confronto para ser perdoado. O outro pouco interessa, como se se tomasse numa base segura de substituição. Assim, evita-se o confronto, porque este tornaria evidentes as limitações pessoais que a sua fantasia de superioridade, não permite. 

A ansiedade é suportada com recurso aos mecanismos: negação do quanto o está a perturbar a atitude que teve para com Sibyl e a consequente idealização das suas próprias qualidades morais.


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