segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

As diferenças entre zanga e ódio

Zeng Fanzhi This Land is so Rich in Beauty, 2010

“Também nos zangamos. Mas a zanga é para corrigir o objeto; entra ainda no círculo do amor (psicopatologicamente, faz parte do especto da neurose e da depressão).
Coisa diferente é o ódio, que visa destruir o outro e é atributo da porção psicótica e borderline do funcionamento mental”
António Coimbra de Matos Relação de Qualidade: penso em ti Climepsi

Ama-me quando eu não merecer, porque é nesse momento que eu mais preciso”, diz um proverbio chinês.
Após uma zanga, surge o remorso pela nossa agressividade e a necessidade que o outro nos perdoe. Nos confirme que merecemos continuar a ser amadas, apesar de termos ferido, ou, apesar do que somos. Aceitarem-nos de volta faz-nos renascer – a nossa agressividade não o destruiu, nem destruiu a relação. Entristecemos enquanto isso não acontece, e por vezes desajeitadamente, solicitamos a reconciliação e acabamos por facilitá-la porque o outro, com todos os seus defeitos e qualidades que reconhecemos, é importante na nossa vida.
Outra coisa diferente é o ódio, e ele habita dentro de todos nós. Pertence à parte psicótica e borderline da nossa personalidade. Mas como diz o povo, todos temos demónios só que alguns de nós têm controlo sobre eles.
O que as vítimas de violência domestica, por exemplo, conhecem, é o ódio e não a zanga.
O ódio nas suas diversas e quotidianas manifestações (desvalorização, humilhação, desdém….), não tem em conta o que cada um dá de bom à relação, e o que quer que o outro faça para agradar não altera a sua natureza. O ódio é imutável, e orientado para atacar o amor-próprio do outro que não é reconhecido como pessoa total. Basta um gesto, uma palavra…que podem ser mais do que suficientes para despoletar uma ofensa pessoal sem sentido - não se trata do que a vítima disse ou fez - mas naquele momento  ligou-se a algo primitivo, inominável, pelo que, tende-se a perder a capacidade de refletir e ser empático para com a outra pessoa.
As tentativas de reconciliação são primárias e revelam dificuldade em se desenvencilhar dos conflitos. As palavras tornam-se dispensáveis, porque não vale a pena contrapor a sua própria opinião, visto “cada um fica na sua” e porque os pensamentos não são articulados entre si.
Ao romper a parte psicótica e borderline da personalidade, ficam frágeis a responsabilidade e culpabilidade pelo efeito do nosso comportamento no outro.

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