domingo, 11 de março de 2012

O gesto mágico


Foto de Chris Fraser

"Certa pessoa comporta-se como quer que o objeto se comporte, movida pela expetativa mágica de que a vista deste gesto forcará o objeto a imitá-lo. Na realidade, o gesto mágico não é antecipação do que o objeto vai fazer, e sim do que a pessoa deseja que o objeto faça. Claro, portanto, que o gesto mágico difere da “empatia” objetiva, a qual consiste em identificação temporária com um objeto para o fim de antecipar aquilo que o objeto vai fazer.
Por forma análoga consiste a empatia, em dois atos: a) identificação com a outra pessoa e b) consciencialização dos sentimentos próprios após a identificação; daí, consciencialização dos sentimentos do objeto."
Otto Fenichel Teoria Psicanalítica das Neuroses Edições Atheneu

Empatia versus gesto mágico, que segundo Fenichel é um conceito de Theodor Reik, filósofo e psicanalista, e que me parece útil para retratar aquelas situações em que por razões diversas como ignorância, insensibilidade, não nos preocupamos em saber o que o outro pensa e sente, e se somos capazes de realizarmos o que pretendemos, e mesmo assim, julgamos que basta um gesto (intervenção sem qualidade), para que ele se comporte como desejamos.
Embora utilizado como estratégia de educação infantil, o verdadeiro gesto mágico pode ser entendido como forma de acalmar consciências, ou então, como prática de manipulação, sendo inerente aos inúmeros acontecimentos da nossa vida política, pessoal e profissional,  de que são exemplo, neste último contexto, certas dinâmicas de grupo que se realizam nas formações, que não levam em conta as características e necessidades específicas dos formandos, que se revelam desprovidas de conteúdos científicos e não respeitam os princípios do desenvolvimento psicológico. São gestos mágicos, que não promovem a aquisição de competências como seria suposto acontecer. São deprimentes.
Se lhe fizer sentido, o pensamento de Eleanor Roosevelt: "Ninguém pode fazê-lo sentir, inferir, sem o seu consentimento".

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