quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Interioridade

Josef Fischnaller

“Confundimos demasiadas vezes narcisismo com solidão, mas o processo é na realidade inverso: Narciso está só porque está rodeado por espelhos que o impedem de ver aqueles que estão à sua volta; pelo contrário, o solitário apoia-se em si próprio. Aliás, Pascal dizia: O homem que gosta apenas de si mesmo odeia acima de tudo ficar sozinho consigo próprio.
Erroneamente, associamos a solidão ao egoísmo e ao egocentrismo, enquanto a vida sozinho e, em particular, o celibato, pode permitir uma abertura ao mundo que a vida em casal não permite, e a solidão desempenha muitas vezes um papel de propulsor para ir para outra coisa. A dificuldade em estabelecer relações sólidas num mundo incerto leva as pessoas a virar-se para outras aspirações. A carência, o fracasso, o sofrimento servem por vezes de impulso para progredir. Podemos encontrar aí a força para inventar outros laços.”
Marie- France Hirigoyen As Novas Solidões Na era da comunicação estamos mais sós Caleidoscópio

Narciso representado na imagem por uma personagem feminina exibe prazer em ser admirado à distância (não é por acaso que tem um revolver na mão), e não está disponível para relações de reciprocidade. Muito dependente do olhar do outro, tem também o desejo de tudo agarrar.
Outra coisa é estar atento a si próprio e ao que na verdade nos convém, de acordo com as nossas necessidades. Por vezes, esta (boa) solidão é escolhida. Começa por pequenas alterações nos hábitos quotidianos. Já não nos apetece ir ao encontro de…,fazer isto ou aquilo. Questionamo-nos repetidamente “Para quê?”. Dá medo. Não sabemos até onde nos levará. As pessoas avisam-nos que este aparente desligamento pode não ser saudável e que é preciso convivermos. Se não nos enchermos de amargura ou desprezo pelo mundo, um sadio silêncio cobre-nos, como se todas as coisas fossem depuradas, e só restasse o lugar que tem a ver com a nossa história pessoal e com todo o de melhor soubemos reconstruir de nós mesmos e do nosso passado. Não consideramos que nos perdemos na vida. Entendemo-la como um caminho que foi necessário. Os pequenos prazeres, mesmo solitários, são surpreendentes e servem para reafirmar o íntimo sentido de liberdade. Por nos amarmos, já não nos importarmos com o julgamento de quem não interessa. Tornamo-nos mais seletivos em relação aos outros.
Há quem diga que se pode pagar um preço, mas quem passa para a outra margem do sentido de viver, quem fez este crescimento espiritual, sabe que está mais rico por este trabalho ter sido feito dentro de si.

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