Li nas férias As Novas Solidões de Marie- France
Hirigoyen, que analisa estados de solidão vividos com energia e inspiração por homens
e mulheres na nossa sociedade, mas também o isolamento sofrido de muitos de nós.
Voltarei a vos falar deste livro. Por agora, uma breve passagem:
"Depois da separação, é raro as mulheres procurarem de imediato voltar a viver a dois no sentido tradicional. Elas consideram que precisam de um certo período de recuperação, sozinhas, para se recompor, reconstruir. Para uma nova vida a dois, elas impõem condições, como explica Lara , 45 anos:
Não me importo de voltar a
viver com alguém, mas é preciso que valha a pena. O outro tem de me dar algo
mais, não apenas a sua presença, mas também segurança material, introdução a um
ambiente social mais educado e, sobretudo, um estímulo intelectual, cultural ou
uma abertura para um mundo desconhecido.
A maioria das mulheres já
não quer as relações de força que uma relação amorosa implica muitas vezes;
estão cansadas dos jogos de sedução, das tomadas de poder de um e de outro, do
receio permanente de serem deixadas. Algumas mulheres tentam encontrar um novo
companheiro, mas têm consciência de que, para isso é preciso preparar-se. Em
primeiro lugar, têm de virar a página da vida passada; depois, organizar-se,
mostrar-se feminina – pois os homens procuram mulheres sexy que estimularão a
sua libido -, dar a ilusão de ligeireza – pois uma mulher atormentada não é
atraente - , saber todavia gerir problemas de intendência – pois um homem não gosta de
olhar para um futuro com problemas – e fingir felicidade – pois como seduzir
quando se toma antidepressivos com o aperitivo?
Perante tantos esforços,
algumas mulheres desistem. Para cada vez mais mulheres, independente do que
digam e, sobretudo, do que dizem as revistas femininas, o amor não é
prioridade. Primeiro, elas procuram realizar-se profissionalmente e obter uma
certa segurança material para, de seguida, tratar da estabilidade amorosa. É o
caso da Béatrice, 57 anos, enfermeira:
Não ponho em causa o amor
dos homens, mas é um amor que implica que eu trate deles e estou farta disso.
Criei meus filhos, tratei dos meus pais doentes enquanto trabalhava, agora
gostava de encontrar alguém que tratasse de mim e, como sei que não vou conseguir,
prefiro estar sozinha.
Atualmente, quanto mais uma mulher adquire autonomia, mais difícil será voltar a viver a dois depois de um divórcio. Ela já sabe gerir o tempo, o dinheiro, os passatempos, as amizades e não está disposta a aceitar qualquer tipo de controlo. Sente um verdadeiro prazer em dominar a situação. As mulheres que vivem bem nesta solidão são frequentemente perfeccionistas, irrepreensíveis; têm por vezes um ego supercontrolado, que procura atingir a perfeição."
Marie- France Hirigoyen As Novas Solidões - Na Era da
Comunicação Estamos Todos Mais Sós Caledoscópio
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