René Magritte Le Miroir Magique
“Achavam-me encanto, imagine! Sabe o que é isto de
encanto: uma maneira de ouvir responder sim, sem ter feito nenhuma pergunta
clara.”
Albert Camus, A Queda
Fascinada pelo outro, pretendo que as minhas palavras o
influenciem magicamente, que o enfeiticem. Avanço nesta busca. Mas o pensamento
não parece obedecer por estar desencontrado das palavras que se deveriam
sexualizar, e cancelar as indecisões sobre a perfeição do encontro. O embaraço
atinge-me. Só me ocorre dizer sim.
Mais tarde, recupero as palavras, o corpo. Tento explicar uma inquietação: não sei se falei demais, ou de menos e se o seu
desejo desapareceu entre o meu modo desajeitado.
(O estado de encantamento não permite a lucidez e a frieza da
afirmação da personagem de “A Queda”, pelo que, é uma expressão de cinismo.)
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