domingo, 27 de junho de 2010

Carta sobre o amor e sobre o ódio

Bernini, Rapto de Perséfone

“Do amor só conheço esta mistura de desejo, de ternura e de inteligência que me liga a um determinado ser”.
O Mito de Sísifo, Albert Camus

Caro Sr Albert Camus, pela sua afirmação parece subentender-se que julga que poderia ser mais generoso no amor, mas só um ser que cresceu, se coloca em oferecimento perante outro. Não precisa de conhecer mais ou melhor entrega. Esta só foi possível, porque lhe foi permitido sentir ódio por quem amou na sua meninice, e por quem ama, no presente, e de o superar de modo a reagir de forma protectora. Entenda-se, não virar a agressividade contra si mesmo e contra o outro, ou então, perdoar e  tolerar os sentimentos de culpa.
Caro Sr Albert Camus, para compreendermos o amor, temos de compreender o ódio. Estou até convencida que é mais útil perceber em nós próprios e no outro, como cada um de nós gere as frustrações.
Não é por não termos consciência da origem do nosso ódio - irritação, irritabilidade até às explosões de fúria – que os seus efeitos não se verificam. Até pelo contrário, compreender e verbalizar a intensidade do nosso ódio, diminui o seu potencial destrutivo.
Deixe-me que lhe diga, também, que a sua capacidade de integrar a ternura na sexualidade é uma fase de desenvolvimento sexual, superior.
Ah, o desejo! Com honestidade deveria dizer-lhe que do desejo, desconheço a fonte, ou a explicação da mesma.

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