“O essencial era um tipo manter-se impenetrável, era erguer um muro à sua volta e não deixar entrar ninguém. “
A Música do Acaso, Paul Auster Edições Asa
Ao convivermos com alguém que construiu um muro à sua volta – pior será se sente prazer no efeito que causa no outro - a nossa primeira protecção é de origem psíquica.
Ao reler ”O ódio necessário” de Nicole Jeammet, deparei com um texto sobre, digamos, os cuidados a ter nessa relação. Pela sensatez e beleza da escrita, transcrevo-o:
“No registo narcísico nunca nada é adquirido, e a corrida às honras ou aos diversos deslumbramentos procura acumular um vazio, que nada acumulará, um vazio que era o lugar de um objecto (pessoa), o qual não nos soube amar, um vazio que a partir de então se encontra ligado a qualquer encontro que se verifique.
Tomar consciência disso, permite sem dúvida, deixar de sentir o desprezo e a indiferença como muito dolorosos. Não se trata de nós mesmos – nós não existimos, ou existimos tão pouco! – mas do outro que construiu um muro em volta de si próprio. Estabelecer essa distância permite que nos situemos num lugar mais adequado.
Mas tal só será possível se, para nós a expectativa de um reconhecimento exterior não for demasiado grande. Encontramo-nos mais uma vez, tal como repetidamente tem acontecido, perante a necessidade de termos construído em nós um muro interior, no qual seja possível regular a própria estima, a fim de regular a distância relativamente ao objecto exterior (pessoa).
Esta distância permitirá então, passada a irritação, o exercício do espírito crítico, e por detrás das fachadas, a percepção, através de mil pequenos sinais, das dificuldades pessoais, das feridas em carne viva, dos desesperos secretos, e das vergonhas inconfessáveis…”
Foto: Igreja S. Domingos, Lisboa
2 comentários:
Gosto imenso de ler o Paul Auster ..., e gostei de o ver aqui acolhido por ti , sra dra :)
abraço
zé
Devia ler mais literatura – está lá tudo.
Um abraço
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