sábado, 4 de setembro de 2010

A ambivalência (1)

Eric: “Tive para com ela insolências e ternuras alternadas, todas visando um mesmo objectivo, que era o de fazê-la amar e sofrer mais, e a vaidade comprometeu-me para com ela como teria feito o desejo. Mais tarde quando ela contou para mim, suprimi as palavras meigas”
Marguerite Yourcenar, O Golpe de Misericórdia

O contexto em que Eric se exprime, não é de uma discussão. Eric manifesta ambivalência como traço de carácter, porque nele coexistem o amor e ódio, ou seja, um impulso para destruir e um impulso para conservar, Sofia. Ou melhor dizendo, um conflito entre o amor e a agressão.
Mas esse ódio, embora não pareça, é muitas das vezes oculto. Expressa-se por mil gestos que desqualificam e culpabilizam Sofia, deixando-a angustiada e desorientada. Ele às vezes, até parece que se interessa, pensa. Mas, Sofia está apaixonada, e possivelmente pelo seu estado, tem algumas dificuldades em compreender Eric. Nos seus pensamentos o que parece verdade, também parece ser o seu contrário.
Mais tarde, quando Sofia se torna importante para ele, Eric deixa-se de ternuras, isola o afecto - não consegue amar quem deseja e desejar quem ama. O mesmo fazem os homens que são ternos com prostitutas ou até com pessoas que desprezam, e não o são com as suas mulheres.

Continua…

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