sábado, 8 de setembro de 2012

O falso espelho

René Magritte O falso espelho 1928

“De fato, esse amor colocado no centro da relação não passa muitas vezes de um amor narcísico: eu amo esta pessoa porque amo a imagem que ele/ela me transmite de mim mesmo: O que significa que, se o outro passar por uma fase difícil (depressão, desemprego…), vai deixar de me projetar uma imagem gratificante de mim mesmo, e eu vou procurar outra pessoa que possa projetar uma imagem mais valorizada de mim e que me permita continuar no meu pedestal”.
Marie – France Hirigoyen As novas solidões – Na era da comunicação estamos todos mais sós Caleidoscópio

A fragilidade dos laços humanos em certas relações íntimas, de amizade ou sociais, ou a precariedade relacional – servirmo-nos de outros porque julgamos que não temos coisas boas em quantidade suficiente para nos sentirmos inteiros.
Por vezes representa um contrato subentendido, de ambas as partes, porque estas ganham com isso. Em outras situações, a vítima descobre que na realidade, o vínculo não era o que julgava - a pessoa dela não foi sequer reconhecida -  sendo a relação, “cada um por si”. Nestes casos, fica o sentimento amargo de ter sido usada.
Porém, só quando se rompe o vínculo, a vítima chega ao entendimento integral da situação. Se é verdade que vemos o que queremos ver, só agora compreende que o outro a observou atentamente e fê-la acreditar que tinham afinidades. Desta observação, foi possível  ao "fingidor" transmitir-lhe uma imagem falsa de si mesmo ao criar este falso espelho no qual a vitima se refletia, que  seduzida, gratificava o amor próprio do "fingidor".  Trata-se assim, de um falso espelho para ambas as partes, mas uma delas poderá não estar interessada na autenticidade da ligação, ou também poderá não ter competência para a criar, com honestidade. 
Então, depois daquela fase inicial da relação em que a intenção era seduzir a vítima, ou convencer-se a si próprio que " (a união) desta vez era para valer", já não se disfarça, e revela-se o verdadeiro eu.

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