terça-feira, 2 de abril de 2013

A essência do pecado


Hendrik Goltzius The fall of man (detalhe)
“ A história conta que Deus tinha o hábito de passear no jardim à hora mais fresca do dia e que se abriam os canais de comunicação entre Ele e o homem. Mas se era assim, então por que razão Adão e Eva, separados ou em conjunto antes ou depois da tentação da serpente, não disseram a Deus “Temos curiosidade em saber porque não queres que comamos o fruto da árvore do conhecimento do Bem e do Mal. Gostaríamos de estar e não queremos parecer mal-agradecidos, mas a Tua lei quanto a este assunto não parece fazer muito sentido e gostávamos muito que nos explicasses”? Mas claro que não disseram isto. Em vez disso, transgrediram a lei de Deus sem nunca perceberem a razão por trás da lei, sem fazerem o esforço de questionar Deus diretamente, questionar a sua autoridade ou até comunicar com Ele a um nível  razoavelmente adulto. Escutaram a serpente, mas não ouviram a versão de Deus da história antes de agir.
Porque falharam? Porque não foi dado nenhum passo entre a tentação e a ação? É este passo em falta que é a essência do pecado. O passo em falta é o passo do debate. Adão e Eva podiam ter estabelecido um debate entre a serpente e Deus e, não o tendo feito, não obtiveram a versão de Deus quanto à questão. O debate entre a serpente e Deus simboliza o diálogo entre o Bem e o Mal que pode e deve ocorrer no interior da mente dos seres humanos. O fato de não promovermos – ou não promovermos completa e empenhadamente - este debate interno entre o Bem e o Mal é a causa das más ações que constituem o pecado. Ao debater a sensatez dum determinado curso de ação, é comum os seres humanos não tentarem obter a versão de Deus da questão. Não consultam nem escutam o Deus dentre deles, o conhecimento da retidão que reside inerentemente no interior das mentes de toda a humanidade.”
Scott Peck O caminho menos percorrido Sinais de Fogo

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