Hendrik Goltzius The fall of man (detalhe)
“ A história conta que Deus
tinha o hábito de passear no jardim à hora mais fresca do dia e que se abriam
os canais de comunicação entre Ele e o homem. Mas se era assim, então por que
razão Adão e Eva, separados ou em conjunto antes ou depois da tentação da
serpente, não disseram a Deus “Temos curiosidade em saber porque não queres que
comamos o fruto da árvore do conhecimento do Bem e do Mal. Gostaríamos de estar
e não queremos parecer mal-agradecidos, mas a Tua lei quanto a este assunto não
parece fazer muito sentido e gostávamos muito que nos explicasses”? Mas claro
que não disseram isto. Em vez disso, transgrediram a lei de Deus sem nunca perceberem
a razão por trás da lei, sem fazerem o esforço de questionar Deus diretamente,
questionar a sua autoridade ou até comunicar com Ele a um nível razoavelmente adulto. Escutaram a serpente,
mas não ouviram a versão de Deus da história antes de agir.
Porque falharam? Porque não foi
dado nenhum passo entre a tentação e a ação? É este passo em falta que é a
essência do pecado. O passo em falta é o passo do debate. Adão e Eva podiam ter
estabelecido um debate entre a serpente e Deus e, não o tendo feito, não
obtiveram a versão de Deus quanto à questão. O debate entre a serpente e Deus simboliza
o diálogo entre o Bem e o Mal que pode e deve ocorrer no interior da mente dos
seres humanos. O fato de não promovermos – ou não promovermos completa e empenhadamente
- este debate interno entre o Bem e o Mal é a causa das más ações que
constituem o pecado. Ao debater a sensatez dum determinado curso de ação, é
comum os seres humanos não tentarem obter a versão de Deus da questão. Não
consultam nem escutam o Deus dentre deles, o conhecimento da retidão que reside
inerentemente no interior das mentes de toda a humanidade.”
Scott Peck O caminho menos
percorrido Sinais de Fogo
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